São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Exposição e espetáculo lembram Cacilda

Neto da atriz prepara mostra multimídia, com áudio de peças e documentário

No próximo semestre, Oficina fará "Estrela Brazyleira a Vagar ou Cacilda!!", peça sobre o começo da carreira da atriz

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma exposição multimídia e a estreia de "Cacilda!!" (assim mesmo, com duas exclamações), segunda parte da prometida tetralogia de Zé Celso Martinez sobre Cacilda Becker, são alguns dos projetos com que familiares e fãs rememoram os 40 anos de morte da atriz.
Em 6 de maio de 1969, ela se sentiu mal entre o primeiro e o segundo ato de "Esperando Godot". A encenação, obviamente, foi interrompida. De uma agência bancária em frente ao teatro da Federação Paulista de Futebol, em que se realizava o espetáculo, a atriz Marília Pêra viu uma ambulância parar em frente ao prédio e o rebuliço que se seguiu. Resolveu entrar para saber o que ocorria.
"O público descia as escadas, e eu subia. Quando abri a porta da sala, vi a Cacilda, ainda vestida como [o personagem] Estragon, apontando a própria nuca, como se ali estivesse a dor. Alguém, não sei se [o diretor] Flávio Império ou [o parceiro de cena] Walmor Chagas, a carregou do palco para a plateia, e ela saiu acariciando as poltronas. Me pareceu bonito aquilo, como uma despedida do teatro", lembra Marília.
Trinta e nove dias depois dessa cena, Cacilda morreria.
Para passar a limpo uma vida que foi intensa até o fim, o neto da atriz, Guilherme Becker, prepara a mostra "Cacilda Be-cker - Todo Teatro É o Meu Teatro". Ele promete exibir o maior acervo fotográfico já visto sobre a intérprete, além de figurinos (refeitos) de peças-chave na carreira da avó, como "Maria Stuart", "A Dama das Camélias" e "Pega-Fogo".
Dentro da exposição, estreará o documentário "Cacilda Sempre" (título provisório), com depoimentos de parentes e amigos -como Jô Soares, que debutou no teatro em "Oscar" (61), produção do Teatro Cacilda Becker. Também serão exibidos os dois filmes de que a atriz participou, "Luz dos Meus Olhos" (47) e "Floradas na Serra" (54).
A mostra contará ainda, segundo Guilherme Becker, com fragmentos de áudio de peças como "A Visita da Velha Senhora" (62). E como é de teatro que se trata, ele pretende mostrar uma remontagem de "O Homem e a Mulher", texto de Walmor Chagas que o próprio encenou com Cacilda, em 66, quando eles já estavam separados. O elenco não está fechado.
Becker prevê abrir a exposição, com coordenação artística de Rubens Ewald Filho, depois do próximo Carnaval, em São Paulo, em local a definir.

Cacilda volta ao Oficina
Antes disso, no próximo semestre, o Oficina apresenta "Estrela Brazyleira a Vagar ou Cacilda!!". O espetáculo se debruçará sobre a fase inicial da carreira da atriz, no carioca Teatro do Estudante.
A passagem pelas companhias de Raul Roulien e Bibi Ferreira também será mostrada, assim como o período de incertezas em que Cacilda busca empregos como secretária e professora. No rádio, chega a comandar um programa de leitura remota de mão e outro de conselhos sentimentais.
"Cacilda tinha uma dedicação xamânica ao teatro. Ela virava como quem vira numa sessão de magia, transfigurava-se e transfigurava a sala. Trabalhava muito com a eletricidade, com a comunicação magnética, era uma atriz tátil", descreve José Celso Martinez Corrêa.
Hoje, às 21h, a título de aquecimento -e para não deixar a data exata passar em branco-, a companhia fará em sua sede na rua Jaceguai, 520, uma cena do espetáculo. É o momento em que, enfastiada da burocracia de um escritório, Cacilda escreve uma carta descrevendo as personalidades que duelam dentro dela e suas respectivas cores. (LUCAS NEVES)



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