|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Exposição e espetáculo lembram Cacilda
Neto da atriz prepara mostra multimídia, com áudio de peças e documentário
No próximo semestre, Oficina fará "Estrela Brazyleira a Vagar ou Cacilda!!", peça sobre o começo da carreira da atriz
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma exposição multimídia e
a estreia de "Cacilda!!" (assim
mesmo, com duas exclamações), segunda parte da prometida tetralogia de Zé Celso Martinez sobre Cacilda Becker, são
alguns dos projetos com que familiares e fãs rememoram os
40 anos de morte da atriz.
Em 6 de maio de 1969, ela se
sentiu mal entre o primeiro e o
segundo ato de "Esperando Godot". A encenação, obviamente,
foi interrompida. De uma agência bancária em frente ao teatro
da Federação Paulista de Futebol, em que se realizava o espetáculo, a atriz Marília Pêra viu
uma ambulância parar em
frente ao prédio e o rebuliço
que se seguiu. Resolveu entrar
para saber o que ocorria.
"O público descia as escadas,
e eu subia. Quando abri a porta
da sala, vi a Cacilda, ainda vestida como [o personagem] Estragon, apontando a própria nuca,
como se ali estivesse a dor. Alguém, não sei se [o diretor] Flávio Império ou [o parceiro de
cena] Walmor Chagas, a carregou do palco para a plateia, e ela
saiu acariciando as poltronas.
Me pareceu bonito aquilo, como uma despedida do teatro",
lembra Marília.
Trinta e nove dias depois
dessa cena, Cacilda morreria.
Para passar a limpo uma vida
que foi intensa até o fim, o neto
da atriz, Guilherme Becker,
prepara a mostra "Cacilda Be-cker - Todo Teatro É o Meu
Teatro". Ele promete exibir o
maior acervo fotográfico já visto sobre a intérprete, além de
figurinos (refeitos) de peças-chave na carreira da avó, como
"Maria Stuart", "A Dama das
Camélias" e "Pega-Fogo".
Dentro da exposição, estreará o documentário "Cacilda
Sempre" (título provisório),
com depoimentos de parentes
e amigos -como Jô Soares, que
debutou no teatro em "Oscar"
(61), produção do Teatro Cacilda Becker. Também serão exibidos os dois filmes de que a
atriz participou, "Luz dos Meus
Olhos" (47) e "Floradas na Serra" (54).
A mostra contará ainda, segundo Guilherme Becker, com
fragmentos de áudio de peças
como "A Visita da Velha Senhora" (62). E como é de teatro que
se trata, ele pretende mostrar
uma remontagem de "O Homem e a Mulher", texto de Walmor Chagas que o próprio encenou com Cacilda, em 66,
quando eles já estavam separados. O elenco não está fechado.
Becker prevê abrir a exposição, com coordenação artística
de Rubens Ewald Filho, depois
do próximo Carnaval, em São
Paulo, em local a definir.
Cacilda volta ao Oficina
Antes disso, no próximo semestre, o Oficina apresenta
"Estrela Brazyleira a Vagar ou
Cacilda!!". O espetáculo se debruçará sobre a fase inicial da
carreira da atriz, no carioca
Teatro do Estudante.
A passagem pelas companhias de Raul Roulien e Bibi
Ferreira também será mostrada, assim como o período de incertezas em que Cacilda busca
empregos como secretária e
professora. No rádio, chega a
comandar um programa de leitura remota de mão e outro de
conselhos sentimentais.
"Cacilda tinha uma dedicação xamânica ao teatro. Ela virava como quem vira numa sessão de magia, transfigurava-se
e transfigurava a sala. Trabalhava muito com a eletricidade,
com a comunicação magnética,
era uma atriz tátil", descreve
José Celso Martinez Corrêa.
Hoje, às 21h, a título de aquecimento -e para não deixar a
data exata passar em branco-,
a companhia fará em sua sede
na rua Jaceguai, 520, uma cena
do espetáculo. É o momento
em que, enfastiada da burocracia de um escritório, Cacilda escreve uma carta descrevendo as
personalidades que duelam
dentro dela e suas respectivas
cores.
(LUCAS NEVES)
Texto Anterior: No rastro de Cacilda Próximo Texto: Boa audiência dá fôlego a séries policiais na TV Índice
|