São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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VIETNÃ AFEGÃO

Livro de jornalista americano mostra sem retoque inferno de tropas dos EUA num vale remoto na fronteira com Paquistão, conflito já exibido no documentário "Restrepo"

Tim Hethering/Divulgação
O americano Sebastian Junger no Afeganistão

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

No nordeste do Afeganistão, fronteira com o Paquistão, o vale do Korengal é cercado de montanhas pedregosas, com azinheiras espinhentas e subidas tão íngremes que é preciso usar cordas nos deslocamentos.
"É uma espécie de Afeganistão do Afeganistão: remoto demais para ser conquistado, pobre demais para intimidar, autônomo demais para ser subornado. Os soviéticos jamais conseguiram ir além da entrada do vale, e os talibãs não ousaram nem entrar", sintetiza o jornalista americano Sebastian Junger no livro "Guerra", lançado agora pela editora Intrínseca.
Este campo dos sonhos para a insurgência tornou-se um pequeno inferno para os EUA, que mantiveram ali bases militares por quase cinco anos, de 2005 a 2010.
Perderam cerca de 50 soldados no local, perfeito para emboscadas. Em "Guerra", algumas dessas mortes surgem com as cores trágicas de quem as viu de perto.
Entre 2007 e 2008, em cinco viagens de um mês cada, Junger cobriu o conflito no Korengal para a revista "Vanity Fair", "encaixado" numa companhia americana.
Teve a companhia do fotógrafo inglês Tim Hetherington, com quem assinou o documentário "Restrepo" (nome da base batizada em homenagem a um paramédico morto em combate), indicado ao Oscar em 2010.
Em entrevista à Folha, por telefone, Junger conta que mantém amizade com muitos dos soldados e admitiu que não há como ser objetivo num ambiente tão inóspito.
"A objetividade, assim como a justiça, é algo muito louvável de se tentar alcançar. Mas, na vida real, as coisas são mais complexas.
Criamos amizades muito facilmente, é uma reação humana ao contato", afirma.
"Guerra" é, ainda assim, um relato aparentemente sem disfarces das dificuldades enfrentadas pelos americanos no país, de onde, segundo o presidente Barack Obama, os EUA começam a se retirar no mês que vem.
A retirada do Korengal veio antes -por opção tática, segundo o exército dos EUA.
Para o Talibã, o lugar virou um troféu, exibido em reportagem da Al Jazira como sinal de revés do invasor.
Logo no começo do livro, o autor diz que nunca lhe pediram, "direta ou indiretamente", para alterar suas reportagens nem conferir o conteúdo das imagens.
Por mais que tenha buscado a neutralidade possível, ele diz que sentiu também a "excitação" da guerra.
E encara o Talibã com um mal. Mas via-os como seus inimigos? "Conheço bem o país de outras coberturas. O Talibã foi criado e é financiado pelo Paquistão. É um inimigo do Afeganistão."
Quando a missão americana terminou, metade da companhia estava em tratamento psiquiátrico com remédios.

GUERRA
AUTOR Sebastian Junger
EDITORA Intrínseca
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 34,90 (272 págs.)




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