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Decadência industrial revigora clássico
da Redação
A superação do setor industrial
pelo de serviços e a perda de importância das linhas de montagem
fizeram bem a "Tempos Modernos". Apontado como um dos
maiores filmes de Charles Chaplin,
sua cena mais elogiada mostra
Carlitos incapaz de parar de repetir o gesto de apertar parafusos e
sendo tragado por uma máquina.
Lançado em 1936, se transformou num ícone da crítica ao trabalho industrial. Com seu declínio, o
filme e a cena-símbolo, que poderiam soar ultrapassados, podem
ter outras qualidades valorizadas.
Dentre as características já elogiadas pela crítica, a que mais impressiona é a energia que desponta
de uma aparente simplicidade.
O roteiro é trivial. O vagabundo e
sua parceira órfã lutam para sobreviver numa sociedade marcada pelo desemprego. A evolução narrativa é mínima. Em busca de emprego, o atrapalhado Carlitos entra
e sai da cadeia. As repetidas prisões (justas ou injustas) apenas
confirmam seu desejo eternamente insatisfeito de adaptação social.
Enquadramentos e montagem
seguem na mesma linha. Comparado a outros filmes da época, os
cortes dentro das cenas são mais
raros, numa estética próxima da
dos anos 20, com a câmera ficando
mais distante dos personagens.
O diretor fugia dos closes porque
Carlitos era mudo. Com o rosto em
destaque, ele teria de falar, o que só
ocorreu em "O Grande Ditador"
(1940). Em "Tempos Modernos",
ele apenas canta em uma cena.
Visões opostas
O resultado é um cenário quase
teatral, onde o espaço é construído
exclusivamente em função do talento do ator. Essa opção gerou
duas leituras opostas de sua contribuição para o cinema.
Para o russo Lev Kuleshov, ele seria, ao lado de D.W.Griffith, um
dos maiores cineastas do mundo.
E justamente por dar vida ao espaço, evitando sua transformação
em fundo decorativo. Diferentemente de outros diretores, Chaplin
usaria todos os objetos do cenário
em sua interpretação, como na cena-símbolo. Outro exemplo vem
na excelente cena do restaurante,
onde até o lustre impede o esforçado garçom de cumprir sua tarefa.
Já para o francês Jean Epstein,
"Chaplin não trouxe nada ao cinema, a não ser ele mesmo". Numa
visão endossada por boa parte da
crítica, seus elogios se concentravam na persona do vagabundo.
Com esse aproveitamento mínimo (e não simples) dos recursos
do período, o que é incontestável,
Chaplin repete em "Tempos Modernos" seu personagem de sempre, com pequenas variações.
O vagabundo (que não se cansa
de procurar emprego) enfrenta
com bom humor suas desventuras, rindo e fazendo rir de sua tragédia. Frágil na aparência, resiste à
rejeição e sempre encontra força
para seguir em frente. Mesmo sua
suposta ingenuidade parece se
desfazer ao final. Após vários fracassos, Chaplin convida sua parceira e o público a sorrir. Um sorriso de química estranha, carregado
de esperança e melancolia.
(JLF)
Avaliação:
Título Original: Modern Times
Diretor: Charles Chaplin
Produção: EUA, 1936, 86 min
Com: Charles Chaplin e Paulette Godard
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