Norte-americana usa referências que vão de Michael Jackson a Bowie

THIAGO NEY
DE SÃO PAULO

Desde que Amy Winehouse e Lily Allen apareceram para o mundo, na metade dos anos 00, a indústria passou a investir pesado em vozes femininas. Janelle Monáe entrou nesse pacote, mas é diferente de todas as outras cantoras de sua geração.
Enquanto gente como Winehouse, Allen, Kate Nash, Duffy e tantas outras traduzem em letras seu cotidiano e se apoiam em músicas de melodias simples, Monáe é complexa, ambiciosa; busca inspiração na ficção científica, na black music futurista do Parliament Funkadelic.
A estética de Monáe lembra bastante a de outra cantora negra, Grace Jones. Mas, se Jones amadureceu quando já ultrapassava os 30 anos (início dos anos 1980), Monáe parece segura de si já aos 24, e no primeiro álbum.
Em "The ArchAndroid", Monáe não inventa a roda, mas coloca em suas 18 faixas uma variedade absurda de referências e citações -Prince, David Bowie, Michael Jackson, "Blade Runner".
"The ArchAndroid" é um disco conceitual -não um conceitual grandioso, arrogante, mas porque boa parte das canções parte da mesma inspiração: uma androide capaz de viajar no tempo.
As várias referências emprestam ao disco sensações diversas -energia nervosa em "Come Alive (The War of Roses)"; o groove de "Tightrope", gravada com o produtor Big Boi e já um hit; a psicodelia alegre de "Make the Bus", esta com a banda indie Of Montreal.
O poeta e músico cult Saul Williams aparece na frenética "Dance or Die".
A complexidade encontrada nas músicas às vezes até nos faz esquecer que Janelle Monáe não é apenas letrista, produtora; sua voz é ótima, e ela demonstra essa qualidade em "Cold War".
"The ArchAndroid" pode ser complexo, mas não é nem um pouco "difícil". O álbum traz experimentalismos, mas sempre com uma veia pop.