|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
música
"Maior disco de rock da história" completa 40 anos
"Funhouse", dos Stooges, moldou rock pós-1970 e influenciou Bowie e Clash
Para Paul Trynka, biógrafo de Iggy Pop, o que torna o álbum tão marcante são raiva pura e intensidade do som
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
O disco tinha apenas sete
músicas. Quando foi lançado, ninguém deu muita bola.
A banda não tinha bons
músicos, e o vocalista, um tal
de Iggy Pop, era mais conhecido por sua performance ensandecida no palco do que
pelo alcance de sua voz. O LP
vendeu tão pouco que a gravadora despediu a banda.
Mas isso foi há 40 anos.
Nesse tempo, "Funhouse",
dos Stooges, tornou-se um
marco: inspirou David Bowie
a criar Ziggy Stardust; inspirou The Damned, The Clash,
Sex Pistols e Ramones a criar
o punk; inspirou o rock gótico de Bauhaus e o rock industrial de Nine Inch Nails.
"É o maior disco de rock de
todos os tempos", disse Jack
White, líder do White Stripes.
Muitos concordam.
Com sua mistura de blues
sujo, free jazz e rock de garagem, suas letras niilistas e de
pura poesia punk ("Fora de
mim num sábado à noite/
1970 está chegando"), "Funhouse" ajudou a moldar o
melhor do rock pós-1970.
Para o jornalista Paul
Trynka, ex-editor da revista
inglesa "Mojo" e autor de
"Iggy Pop: Open Up and
Bleed" (Iggy Pop: abra e sangre, numa tradução livre),
sensacional biografia de Iggy
ainda inédita no Brasil, o que
torna "Funhouse" tão influente são "a raiva pura e a
intensidade do som".
FRESCOR
Diz Trynka: "A música
crua e a maneira agressiva
como ela é executada têm sido copiadas muitas vezes,
mas nunca igualadas. O disco tem um frescor e uma ingenuidade que são só dele,
assim como seu glamour e
decadência. Os Stooges assustavam as pessoas."
O livro tem histórias inacreditáveis de Iggy e de seus
principais comparsas, os irmãos Ron e Scott Asheton.
Bacanais, orgias de drogas,
internações em manicômios,
casamentos com adolescentes, pancadarias no palco,
mortes e tudo mais.
Outro tema interessante é
o relacionamento de Iggy e
Bowie. Este, impressionado
com o carisma de Iggy, tomou-o sob suas asas e lhe
deu abrigo e ajuda quando
Iggy mais precisou. Em troca,
roubou sua persona e copiou
descaradamente seu estilo
para criar Ziggy Stardust, seu
personagem mais célebre.
Apesar disso, Trynka diz
que o encontro dos dois foi
benéfico para Iggy: "Se Iggy
não tivesse conhecido Bowie, possivelmente estaria
vivo, embora isso não seja
certo, mas ele seria uma autoparódia. Bowie lhe devolveu a dignidade."
E Iggy, gostou do livro?
"Soube que ele tem uma cópia em sua casa", diz Trynka.
"De vez em quando, tira o livro da estante e lê algumas
páginas. Acho que ele esqueceu muitas loucuras que
aconteceram e quer mantê-las assim!"
Trynka acaba de finalizar
uma biografia sobre Bowie.
"Acho que sou o primeiro
jornalista que pesquisou como ele se transformou de um
adolescente ambicioso com
pouquíssimo talento musical
em uma estrela."
Texto Anterior: Conexão POP - Thiago Ney: Spirit Próximo Texto: Trecho Índice
|