São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

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Marroquino salva Nova York de monstro

enviada especial a Nova York

A cotação de Jean Reno, 49, nunca esteve tão alta em Hollywood. A indústria americana não só começou a entender o humor desse ator marroquino radicado na França como colocou em suas mãos o destino da humanidade.
Em "Godzilla", mais um "blockbuster" em que o roteiro traz uma ameaça à população da Terra, Reno interpreta um agente francês que supera o Exército dos EUA na luta pelo extermínio da espécie do réptil gigante.
No filme de Roland Emmerich e Dean Devlin, a mesma dupla de "Independence Day", o personagem de Reno consegue localizar os 200 ovos deixados pelo monstro no Madison Square Garden -enquanto os militares só exibem a sua incompetência ao tentar abater Godzilla pelas ruas de NY.
A escolha de um francês para o papel de herói pode ser vista apenas como uma tentativa de amenizar a culpa que é jogada nas costas da França. O roteiro responsabiliza o país pelo surgimento da criatura -uma mutação causada pelos testes nucleares realizados nos anos 60 nas ilhas do Pacífico.
"O que importa é que finalmente Hollywood passou a escrever papéis especialmente para mim", afirmou Reno, em entrevista exclusiva à Folha concedida no hotel Waldorf Astoria, em Nova York.
Dividido entre o cinema francês, que o lançou internacionalmente com "Imensidão Azul", e o americano, onde atuou em "O Profissional" e "Missão Impossível", Reno tem atualmente dois endereços, um em Paris e outro em Los Angeles. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Sendo francês, qual a sua opinião sobre o roteiro de "Godzilla", que responsabiliza a França pelo surgimento da criatura?
Jean Reno -
Às vezes é difícil defender a França. Nós não somos os culpados pelo aparecimento de nenhuma criatura zangada como Godzilla, mas não posso contestar o fato de os testes nucleares terem ocorrido. Mas Roland Emmerich e Dean Devlin (autores do roteiro) tentaram ser justos. Ao mesmo tempo em que colocaram a culpa em nós, criaram o meu personagem, que é um agente encarregado de limpar toda a sujeira.
Folha - Apesar de engraçado, seu personagem tem um ar pretencioso. Você acha que o público pode ter dificuldade em identificá-lo como o herói?
Reno -
Do jeito como foi escrito, o meu personagem parece ser um pouco mais esperto que os demais. Mas não sei se concordo com a idéia de que ele é o único herói. Não podemos esquecer que eu encontro o ninho dos "babyzillas", mas são as armas americanas que acabam com eles. Quanto ao tom pretencioso, que resulta nas piadas sobre o pão e o café americano, acho que isso resume o jeito como Roland me vê. Foi ele quem criou essas tiradas para mim. Acho que o personagem vai conseguir uma empatia com o público, até mesmo com o americano.
Folha - Nos últimos anos você tem conciliado papéis importantes em filmes franceses e secundários em produções norte-americanas. Qual das duas indústrias é mais importante para a sua carreira?
Reno -
Gosto de trabalhar tanto na Europa quanto nos EUA. Em Hollywood, onde os homens que fazem a indústria têm o hábito de pensar grande, é mais fácil. As possibilidades são infinitas e os atores conseguem ganhar mais dinheiro. Mas tenho tudo o que preciso na França. Os EUA representam mais uma opção.
Folha - Como você conseguiu que Hollywood escrevesse papéis especialmente para você em superproduções como "Missão Impossível" e "Godzilla"?
Reno -
Acho que finalmente os estúdios começaram a entender o meu humor e passaram a escrever personagens para mim, mesmo pequenos. Quando eu cheguei à Hollywood, em 88, logo após o sucesso de "Imensidão Azul", tudo o que consegui foram papéis desinteressantes, que não me satisfaziam. Os EUA só me viam como matador. Com o tempo, perceberam que eu posso oferecer muito mais do que uma cara de mau. (EG)



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