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Arnaldo Antunes consuma afinidade com Brown
DA REPORTAGEM LOCAL
Vem de longe a parceria musical entre o paulista Arnaldo Antunes, 40, e o baiano Carlinhos
Brown, 36. Mas "Paradeiro",
quinto álbum solo de Antunes, é
que marca a consumação da afinidade. Brown, além de co-autor de
três faixas, é produtor do disco todo, com o paulista Alê Siqueira.
Antunes procura decifrar as afinidades: "Chamei Brown para a
produção pensando em fazer um
trabalho em que ele participasse
ativamente. Está muito presente
no disco a marca dele e da música
do Candeal, onde ele foi gravado.
Eu queria explicitar a participação
de Brown no meu trabalho".
A associação trouxe modificações imediatas a seu trabalho, ele
diz: "Antes eu chegava ao estúdio
com arranjos prontos, bem definidos. Neste, não, quis chegar
mais aberto. Foi um dado para
que houvesse a marca do diálogo.
A gente faz música quando a gente se encontra".
Ele explica melhor: "Com os Titãs, eu tinha aquela naturalidade
de sentar e fazer música em conjunto. Hoje componho com muita gente diferente, porque gosto
do exercício de adequação à linguagem do outro, mas é raro sentar e fazer junto. Perdi isso quando saí dos Titãs, mas com Brown e
Marisa Monte é assim".
Ele não reconhece uma oposição de características entre os
dois, ele mais cerebral e intelectual e Brown, mais espontâneo e
popular. "Somos mais complementares que opostos. Ele é efervescente, uma usina de idéias. Eu
sou contido, penso muito antes de
dizer ou fazer. Talvez, sim, ele
busque minha precisão, e eu, a
efervescência dele."
Seriam dois artistas, de modo
distintos, que levam uma relação
de conflito, seja com crítica ou público? "Não sei se é conflituosa.
Há uma incompreensão grande
em relação ao trabalho de Brown.
Acham que ele é só um percussionista, mas é um grande letrista,
um pesquisador de prosódias.
Pensam nele como bom músico,
mas não como cancionista. Já a
imagem do meu trabalho, por ser
poeta e ter escrito livros, às vezes é
de alguém que fala as letras, que
não é musical. Não é isso."
Chega, daí, à suposta aproximação do pop que caracterizaria seu
novo disco: "É um esforço que
vem acontecendo em todos os
discos. Sempre falam, a cada disco, que estou mais pop. Deixa-me
feliz, porque é o reconhecimento
real de um instinto que tenho.
Nunca quis ser underground,
sempre quis fazer um trabalho de
alcance pop. É uma conquista de
prazo mais largo, não só num disco ou noutro".
Ouvido o exemplo da popular
"Amor I Love You" (2000), que
Marisa Monte compôs com
Brown e cantou com participação
de Antunes, a aproximação com o
pop corresponderia a algum tipo
de banalização?
"A banalidade positiva eu sempre adorei. Tim Maia cantando
"você e eu, eu e você, juntinhos" é
genial, as letras de Jorge Ben Jor
também. Sempre me senti próximo disso, acho o máximo, tudo
que eu queria ter feito", rebate.
Respondendo sobre a renitência dos hábitos concretistas em
sua obra, vê banalidade na repetição, mas diz trabalhar contra ela:
"Acho que tudo que vira fórmula
fica fácil, mas não acho que a repetição seja um instrumento esgotado e falido, acho que ainda é
um território fértil".
Rebate, também, críticas sobre
sua voz. "Gosto de incorporar o
ruído na voz. Acho que há uma
tradição nesse sentido, com Louis
Armstrong, Elza Soares, Janis Joplin, Cássia Eller. Berro bem as
palavras, é uma qualidade que
meu trabalho tem."
Seu trabalho teria, por fim, uma
dimensão crítica, como quando
canta os versos explosivos de
"Exagerado" (Cazuza-Ezequiel
Neves-Leoni) de forma contida,
intimista? "Não sei se é crítica.
Acho que é mais um contraste
com o que o texto já está dizendo.
É difícil me olhar de fora de mim.
Sempre quis alterar a sensibilidade das pessoas, ter um uso libertário para elas. Ter sido esquisito,
robótico ou muito louco nos Titãs
era um desejo de liberdade de
ação. Ainda existe isso em mim,
hoje mais sereno. Mas faço o exercício crítico e autocrítico o tempo
todo. Tenho dificuldade grande
em me satisfazer", fecha.
(PAS)
PARADEIRO - De: Arnaldo Antunes.
Gravadora: BMG. Quanto: R$ 25, em
média.
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