|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
"Querido Estranho" é uma sessão de terapia familiar
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO
O longa "Querido Estranho", que abriu anteontem
o 30º Festival de Gramado, tem
grande chance de fazer sucesso
junto ao público que gostou de filmes como "A Partilha", "Avassaladoras" e "Amores Possíveis".
Afinal, essa adaptação da peça
teatral "Intensa Magia", de Maria
Adelaide Amaral, conta com tudo
aquilo que garantiu o êxito dos filmes citados: simplificação esquemática das relações humanas,
personagens estereotipados, decupagem televisiva e muitos momentos de catarse.
A situação é comum a inúmeros
filmes, contos e peças de teatro:
uma reunião de família em que se
resolve lavar a roupa suja acumulada durante décadas. No caso,
trata-se do aniversário do aposentado Alberto (Daniel Filho), durante o qual se anuncia também o
noivado (sic) de sua filha caçula,
Zezé (Claudia Netto). Completam
o drama a mulher de Alberto
(Suely Franco), seus outros dois
filhos (Emílio de Mello e Ana Beatriz Nogueira) e o noivo de Zezé
(Mario Schoemberger).
A ação se passa quase toda no
interior da casa de classe média
do velho casal, durante o dia do
aniversário. Todos têm suas contas a cobrar, seus ressentimentos,
suas "verdades sufocadas". Terapia de grupo. Até aí tudo bem: de
Ibsen e Tchecov a Fassbinder e
Monicelli, foram muitos os artistas que tiraram leite dessa pedra.
O problema aqui, além do esquematismo do texto, é a quadradice da "mise-en-scène", que parece escolher sempre a opção
mais óbvia. Um exemplo dessas
duas deficiências: num de seus
rompantes de agressividade, Alberto grita à mulher e aos filhos:
"Eu dei tudo para vocês. Faltou alguma coisa?" Corta para a filha
noiva, que diz, com o rosto compungido: "Amor". Há, todavia,
um momento de poesia visual no
filme: quando o pai dança com a
filha mais velha, diante da reprodução de uma pintura de Veneza,
os barcos começam sutilmente a
se mover.
A projeção do filme em cópia
digital de alta definição confere à
imagem uma curiosa textura leitosa e cores de fantasia que lembram o velho technicolor, só que
sem brilho. No mais, bons atores
tentam dar vida e credibilidade a
figuras de fotonovela.
Avaliação:
Texto Anterior: Mostra dá Kikito a antigos vencedores Próximo Texto: Marcelo Coelho: "O Príncipe": entre o realismo e a publicidade Índice
|