São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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CRÍTICA

"Querido Estranho" é uma sessão de terapia familiar

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

O longa "Querido Estranho", que abriu anteontem o 30º Festival de Gramado, tem grande chance de fazer sucesso junto ao público que gostou de filmes como "A Partilha", "Avassaladoras" e "Amores Possíveis".
Afinal, essa adaptação da peça teatral "Intensa Magia", de Maria Adelaide Amaral, conta com tudo aquilo que garantiu o êxito dos filmes citados: simplificação esquemática das relações humanas, personagens estereotipados, decupagem televisiva e muitos momentos de catarse.
A situação é comum a inúmeros filmes, contos e peças de teatro: uma reunião de família em que se resolve lavar a roupa suja acumulada durante décadas. No caso, trata-se do aniversário do aposentado Alberto (Daniel Filho), durante o qual se anuncia também o noivado (sic) de sua filha caçula, Zezé (Claudia Netto). Completam o drama a mulher de Alberto (Suely Franco), seus outros dois filhos (Emílio de Mello e Ana Beatriz Nogueira) e o noivo de Zezé (Mario Schoemberger).
A ação se passa quase toda no interior da casa de classe média do velho casal, durante o dia do aniversário. Todos têm suas contas a cobrar, seus ressentimentos, suas "verdades sufocadas". Terapia de grupo. Até aí tudo bem: de Ibsen e Tchecov a Fassbinder e Monicelli, foram muitos os artistas que tiraram leite dessa pedra.
O problema aqui, além do esquematismo do texto, é a quadradice da "mise-en-scène", que parece escolher sempre a opção mais óbvia. Um exemplo dessas duas deficiências: num de seus rompantes de agressividade, Alberto grita à mulher e aos filhos: "Eu dei tudo para vocês. Faltou alguma coisa?" Corta para a filha noiva, que diz, com o rosto compungido: "Amor". Há, todavia, um momento de poesia visual no filme: quando o pai dança com a filha mais velha, diante da reprodução de uma pintura de Veneza, os barcos começam sutilmente a se mover.
A projeção do filme em cópia digital de alta definição confere à imagem uma curiosa textura leitosa e cores de fantasia que lembram o velho technicolor, só que sem brilho. No mais, bons atores tentam dar vida e credibilidade a figuras de fotonovela.


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