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CRÍTICA
"Dream Pop" diz "sim" e "não" à vanguarda
DA REPORTAGEM LOCAL
É possível ser vanguarda para sempre? "Dream Pop", de
Edgard Scandurra, parece existir
para responder "sim" e "não", ao
mesmo tempo.
Diz que sim porque é disco de
tecno pesado num país onde isso
não se faz, feito de maneiras como
nem sempre se faz. Apesar de tecno, é disco de um músico. Rejeita
a cada curva a sina da música eletrônica tosca, feita no freezer do
computador. Não é nunca disco
de robô -mesmo que brinque de
fingir que é.
A quentura do rock e do pop
acalentam (com sutileza) faixas
extraordinárias como "Eu Estava
Lá", viagens líricas como "Verani" e o puro divertimento bem-humorado de "Dream Pop" e, sobretudo, "Bons Sonhos". É música de músico, embaralhada no cubo mágico da cibernética.
Por outro lado, a resposta também é não. "Benzina", de 96, tinha
mais cara de 2003 do que as demais faixas de "Dream Pop" fazem supor. Era híbrido, tinha
canção, frequentava os vários
mundos distintos e pseudo-excludentes que Scandurra sempre teve gosto por frequentar.
"Dream Pop" também o faz.
Mas quer ser eminentemente eletrônico e frio num momento em
que a cultura de clube vive tensa e
intensa transição, em que o circuito mais gélido começa a datar e
dar sinais evidentes de desgaste.
O electro, já zoado lá fora, vira
mania retardatária no Brasil, porque é quente, tosco e foge do desgaste pelo retrô. "Dream Pop"
não está aquém nem além do
electro. Ignora-o sem temê-lo,
pois "Benzina" já era electro do
Oriente em 96 (e nem sabia).
Mas "Dream Pop" é mais tímido nas fusões, nas justaposições,
no uso das canções que Edgard
conhece tão bem. Afiado como
ele só, é ainda assim o disco menos vanguardista do melhor guitarrista de rock e do melhor músico eletrônico que o Brasil possui.
A exceção é "Eu Estava Lá", intensamente roqueira, eletrônica e
brasileira. Ele estava lá, ainda está.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Dream Pop
Artista: Benzina a.k.a. Scandurra
Lançamento: ST2
Quanto: R$ 28, em média
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