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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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CRÍTICA

"Dream Pop" diz "sim" e "não" à vanguarda

DA REPORTAGEM LOCAL

É possível ser vanguarda para sempre? "Dream Pop", de Edgard Scandurra, parece existir para responder "sim" e "não", ao mesmo tempo.
Diz que sim porque é disco de tecno pesado num país onde isso não se faz, feito de maneiras como nem sempre se faz. Apesar de tecno, é disco de um músico. Rejeita a cada curva a sina da música eletrônica tosca, feita no freezer do computador. Não é nunca disco de robô -mesmo que brinque de fingir que é.
A quentura do rock e do pop acalentam (com sutileza) faixas extraordinárias como "Eu Estava Lá", viagens líricas como "Verani" e o puro divertimento bem-humorado de "Dream Pop" e, sobretudo, "Bons Sonhos". É música de músico, embaralhada no cubo mágico da cibernética.
Por outro lado, a resposta também é não. "Benzina", de 96, tinha mais cara de 2003 do que as demais faixas de "Dream Pop" fazem supor. Era híbrido, tinha canção, frequentava os vários mundos distintos e pseudo-excludentes que Scandurra sempre teve gosto por frequentar.
"Dream Pop" também o faz. Mas quer ser eminentemente eletrônico e frio num momento em que a cultura de clube vive tensa e intensa transição, em que o circuito mais gélido começa a datar e dar sinais evidentes de desgaste.
O electro, já zoado lá fora, vira mania retardatária no Brasil, porque é quente, tosco e foge do desgaste pelo retrô. "Dream Pop" não está aquém nem além do electro. Ignora-o sem temê-lo, pois "Benzina" já era electro do Oriente em 96 (e nem sabia).
Mas "Dream Pop" é mais tímido nas fusões, nas justaposições, no uso das canções que Edgard conhece tão bem. Afiado como ele só, é ainda assim o disco menos vanguardista do melhor guitarrista de rock e do melhor músico eletrônico que o Brasil possui. A exceção é "Eu Estava Lá", intensamente roqueira, eletrônica e brasileira. Ele estava lá, ainda está.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Dream Pop    
Artista: Benzina a.k.a. Scandurra
Lançamento: ST2
Quanto: R$ 28, em média



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