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POLÊMICA
Peter Robb teria copiado trechos de "Morcegos Negros", de Lucas Figueiredo; editora de jornalista procura acordo
Outro brasileiro acusa australiano de plágio
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois meses depois, a briga ganha seu segundo round.
O australiano Peter Robb, autor
do festejado "A Death in Brazil",
que em junho sofreu acusação de
plágio do brasileiro Mario Sergio
Conti ("Notícias do Planalto"),
especialmente nos trechos em
que trata do ex-presidente Fernando Collor de Mello e de seu ex-tesoureiro, PC Farias, acaba de receber mais um golpe.
Segundo o jornalista Lucas Figueiredo, autor do sucesso "Morcegos Negros" (Record, 2000), sobre aquele período, também seu
livro foi plagiado pela obra do
australiano lançada em maio nos
EUA, Reino Unido e Austrália.
"O título de Peter Robb faz referência, sobretudo, às mortes de
PC Farias e Suzana Marcolino",
disse o mineiro de 35 anos que
trabalhou na Folha de 1994 a 2001
e hoje é repórter especial do "Estado de Minas". "Pois foram justamente os trechos de meu livro
referentes às mortes de PC e Suzana os mais plagiados."
Segundo cálculos de Figueiredo,
"Morcegos" teve partes copiadas
de praticamente toda a sua extensão, da página 61 à página 368.
"Mas Peter Robb concentrou as
informações que chupou em apenas 20 páginas de seu livro, da página 251 à página 271" (leia trechos e comparação nessa página).
Em entrevista por e-mail ontem, Robb "reafirma tudo o que
tinha dito no último contato", em
julho. Naquela ocasião, ele admitiu ter usado tanto o livro de Conti
quanto o do Figueiredo como
"fonte de informações factuais sobre o governo Collor".
A Folha apurou, no entanto,
que sua editora entrou em contato com a Companhia das Letras,
que publicou o livro de Mario Sergio Conti em 1999, para fazer uma
proposta de acordo, cujos detalhes ainda não foram acertados.
"Estudamos a possibilidade de
fazer um processo junto com Lucas Figueiredo", disse Conti, por
e-mail, de Paris. "Com a comprovação do plágio de "Morcegos Negros", fica claro qual é o método
de trabalho do Robb: o roubo."
Em julho último, Robb havia repetido a opinião de seu editor na
Austrália, Michel Duffy, e atribuído as acusações a um suposto interesse da Rede Globo em desacreditar sua obra.
"O império contra-ataca", diz
Robb, por e-mail. "Uma parte de
meu livro diz respeito à conhecida
interferência de Roberto Marinho
nas eleições de 1989, para prejudicar Lula e eleger Collor. Também
descrevo o enorme crescimento
da Globo nos anos 60 como um
dos subprodutos da ditadura militar, sua implantação da mentalidade de telenovela no Brasil e o fato de que a família Collor em Alagoas e Antonio Carlos Magalhães
na Bahia eram donos de retransmissoras da empresa."
É Conti quem contra-ataca:
"Além de ladrão de trabalho, textos e idéias alheias, Robb é mentiroso. A grande reportagem sobre
seu plágio foi publicada pela Folha, que não tem nada a ver com
as Organizações Globo. Quanto a
mim, nunca trabalhei em nenhum dos jornais, revistas e emissoras de rádio e TV da Globo".
Desde a publicação da reportagem da Folha, em 21 de junho último, Conti deu entrevistas sobre
o assunto para a Radio France International e para o Special
Broadcasting Service, a rádio pública australiana, e o suposto plágio mereceu reportagem no
"Sydney Morning Herald", jornal
da cidade-natal do autor.
Mas as resenhas positivas que o
livro vem recebendo da imprensa
britânica e americana não citam a
polêmica. A última saiu no
"Guardian" no dia 25 de julho,
com o título "Rio com Brio". O resenhista diz que Robb narra "magistralmente" as circunstâncias
da morte de PC Farias.
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