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Decepção artificial
Com obras em manutenção, mostra de arte e tecnologia desaponta visitantes
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Decepção. Na última terça, o
produtor Eduardo Francisco, 34,
foi ver a exposição "Emoção
Art.ficial 2.0", no Itaú Cultural.
Levou apenas 20 minutos para
passar por toda a mostra, já que 12
das 30 obras estavam em manutenção, muitas sem sinalização.
"É impossível emitir um juízo sobre o que vi, já que quase metade
não funcionava", disse Francisco.
Para uma exposição que pretende exibir os vínculos entre arte e
tecnologia, parece que as instituições não estão capacitadas a manter funcionando o suporte que dá
vida à proposta. "É por isso que
grande parte das instituições não
entra nessa área, pois os trabalhos
são caros e precisam de manutenção. O pessoal do Itaú tem feito
tudo o que é possível, mas deveria
ter uma equipe maior. Nunca vi
uma mostra de arte e tecnologia
onde tudo funcionasse perfeitamente, mesmo no exterior, acidentes acontecem", conta Arlindo Machado, um dos curadores
da mostra, com Gilberto Prado.
Entretanto a decepção de Francisco não ocorreu apenas por
conta das obras em manutenção.
"Há muitos sites para serem vistos, mas é preciso ficar em pé. Prefiro ver isso em casa", reclama o
produtor. Esse debate foi explicitado, recentemente, no texto "Do
cubo branco à caixa preta", na revista digital "Trópico", pela professora Giselle Beiguelman, que
também tem uma obra na exposição: "A priori, esses projetos [on-line] não precisam estar no espaço expositivo", escreve.
Machado contesta: "Embora o
argumento esteja correto, organizamos uma mostra de arte e tecnologia, e o museu faz uma seleção daquilo que vale a pena. Claro
que há muitos trabalhos expostos
na internet, perdidos no meio de
milhões de outros sites, e um leigo
nunca chegaria a certos sites que
escolhemos. A função dessa exposição é dar visibilidade a bons trabalhos, em meio a um mar de
produção, onde a maioria é de
uma mediocridade absoluta".
Beiguelman, em seu texto,
aponta para outro problema em
mostras desse formato: a limitação da participação do observador, que não pode manipular no
teclado, mas apenas mexer em algumas teclas, impossibilitando o
uso pleno das capacidades dos sites, transformando o visitante em
um "espectador programado".
"Aí não tem jeito, o Itaú fica na av.
Paulista, há muitos atos de vandalismo, é preciso ter controle. Algumas obras foram até saqueadas, se for aberto, a pessoa vai navegar e aí o céu é o limite. A função daquela máquina é acessar
um site específico", diz Machado.
Há decepção ainda em torno da
exposição por conta do próprio
eixo curatorial, que buscou politizar o debate sobre arte e tecnologia. "A primeira vez que fui ver
um filme do Eisenstein, lá se vão
mais de 20 anos, saí do cinema de
punho erguido querendo fazer a
revolução. Guardadas as devidas
proporções, uma mostra de arte
digital inspirada numa vertente
política deveria fazer o mesmo
com o visitante. Só que estranhamente o visitante sai do Itaú completamente zoado e paralisado",
diz o professor Silvio Mieli.
Nessa questão, Machado discorda em parte. "A política hoje é
diferente, caiu o Muro de Berlim,
Lula é presidente, as pessoas esperam obras conteudísticas, e nossa
intenção foi pensar a própria tecnologia. Entretanto também esperava mais politização, fiquei
frustrado, pois no Brasil, com exceção de alguns, artistas dessa
área são pouco politizados."
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