São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/ "Arrasta-me para o Inferno"

Diretor de "Homem-Aranha" volta ao básico com filme de terror

Sam Raini retorna às origens com seu repertório do pavor; longa reutiliza tradição mais artesanal de efeitos especiais

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O logotipo da Universal com o globo rodando aparece quando se apagam as luzes e se anuncia que vamos assistir a um filme clássico de terror, produzido pelo estúdio que, desde os anos 30, garantiu fama e bons resultados a esse gênero.
O prólogo confirma que "Arrasta-me para o Inferno" é um retorno de Sam Raimi a suas origens, depois de conquistar meio mundo com o sucesso da franquia "Homem-Aranha". O diretor emergiu no início da década de 80 com a série "A Morte do Demônio"/"Uma Noite Alucinante", uma delirante interpretação dos códigos do filme de terror cujos efeitos de trem-fantasma, além dos bons sustos, promoviam sucessões de gargalhadas na plateia.
Nesta retomada do repertório do pavor, a gente também se assusta e ri muito dos padecimentos da bobinha Christine Brown, funcionária de banco que decide seguir as regras rígidas da economia e não obedecer ao que manda seu coração. Uma leve cobiça é o que a move, ao tentar alcançar o cargo de assistente de gerência do banco de empréstimos em que trabalha. Para provar eficiência, nega mais prazo a uma velha com aparência de bruxa má que um dia chega até sua mesa. E termina amaldiçoada.
Além desse recurso de conto moral, no qual o filme lança uma punição do outro mundo a uma funcionária que serve às engrenagens capitalistas, outros personagens abrem espaço para quem queira fazer interpretações simbólicas. A referência mais evidente encontra-se no entorno das bruxas, médiuns e videntes que rogam a praga ou que tentam arrancar a coitada das chamas do inferno.
São todos imigrantes, gente com sotaques esquisitos e hábitos para lá de estranhos e que fazem a vida limpa, branca e loira de Christine mergulhar num abismo do sangue, da sujeira e de vômitos. O subtexto dessas referências, no entanto, não ocupa tanto a atenção, pois é na ação e no uso de efeitos antiquados que "Arrasta-me para o Inferno" mantém o espectador ligado.
Uma primeira situação de riscos, passada numa garagem no subsolo do banco, brinca com o medo infalível que temos da imagem da bruxa. Nela, o filme demonstra estar mais interessado em reutilizar uma tradição mais artesanal de efeitos especiais, baseada em animações e truques de maquiagem, que em adotar as possibilidades das tecnologias digitais, que deixam tudo mais perfeito do que permite a verossimilhança.
Essa espécie de retorno ao básico reflete uma necessidade do percurso do diretor Sam Raimi até agora. Com uma trajetória associada desde o princípio aos filmes de gênero (terror, faroeste, thriller, drama sobrenatural e adaptações de HQ), Raimi tem conseguido dosar a personalidade com a encomenda, preferindo investir numa imagem de artesão hábil. O megasucesso de "Homem-Aranha" poderia tê-lo lançado num caminho sem volta.
E sua esperteza não se resume a estar atento aos pulos da carreira. Com "Arrasta-me para o Inferno", Raimi segue a lógica bem-sucedida das maldições e deixa, de propósito, o fim aberto para que outros retornos aconteçam.


ARRASTA-ME PARA O INFERNO

Direção: Sam Raimi
Produção: EUA, 2009
Com: Justin Long, Alison Lohman, Jessica Lucas
Onde: ABC Plaza Shopping, Cine TAM, Interlagos e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom


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