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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/ "Arrasta-me para o Inferno"
Diretor de "Homem-Aranha" volta ao básico
com filme de terror
Sam Raini retorna às origens com seu repertório do pavor;
longa reutiliza tradição mais artesanal de efeitos especiais
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O logotipo da Universal
com o globo rodando
aparece quando se
apagam as luzes e se anuncia
que vamos assistir a um filme
clássico de terror, produzido
pelo estúdio que, desde os anos
30, garantiu fama e bons resultados a esse gênero.
O prólogo confirma que "Arrasta-me para o Inferno" é um
retorno de Sam Raimi a suas
origens, depois de conquistar
meio mundo com o sucesso da
franquia "Homem-Aranha". O
diretor emergiu no início da década de 80 com a série "A Morte do Demônio"/"Uma Noite
Alucinante", uma delirante interpretação dos códigos do filme de terror cujos efeitos de
trem-fantasma, além dos bons
sustos, promoviam sucessões
de gargalhadas na plateia.
Nesta retomada do repertório do pavor, a gente também se
assusta e ri muito dos padecimentos da bobinha Christine
Brown, funcionária de banco
que decide seguir as regras rígidas da economia e não obedecer ao que manda seu coração.
Uma leve cobiça é o que a
move, ao tentar alcançar o cargo de assistente de gerência do
banco de empréstimos em que
trabalha. Para provar eficiência, nega mais prazo a uma velha com aparência de bruxa má
que um dia chega até sua mesa.
E termina amaldiçoada.
Além desse recurso de conto
moral, no qual o filme lança
uma punição do outro mundo a
uma funcionária que serve às
engrenagens capitalistas, outros personagens abrem espaço
para quem queira fazer interpretações simbólicas. A referência mais evidente encontra-se no entorno das bruxas, médiuns e videntes que rogam a
praga ou que tentam arrancar a
coitada das chamas do inferno.
São todos imigrantes, gente
com sotaques esquisitos e hábitos para lá de estranhos e que
fazem a vida limpa, branca e
loira de Christine mergulhar
num abismo do sangue, da sujeira e de vômitos.
O subtexto dessas referências, no entanto, não ocupa tanto a atenção, pois é na ação e no
uso de efeitos antiquados que
"Arrasta-me para o Inferno"
mantém o espectador ligado.
Uma primeira situação de
riscos, passada numa garagem
no subsolo do banco, brinca
com o medo infalível que temos
da imagem da bruxa. Nela, o filme demonstra estar mais interessado em reutilizar uma tradição mais artesanal de efeitos
especiais, baseada em animações e truques de maquiagem,
que em adotar as possibilidades
das tecnologias digitais, que
deixam tudo mais perfeito do
que permite a verossimilhança.
Essa espécie de retorno ao
básico reflete uma necessidade
do percurso do diretor Sam
Raimi até agora. Com uma trajetória associada desde o princípio aos filmes de gênero (terror, faroeste, thriller, drama sobrenatural e adaptações de
HQ), Raimi tem conseguido dosar a personalidade com a encomenda, preferindo investir
numa imagem de artesão hábil.
O megasucesso de "Homem-Aranha" poderia tê-lo lançado
num caminho sem volta.
E sua esperteza não se resume a estar atento aos pulos da
carreira. Com "Arrasta-me para o Inferno", Raimi segue a lógica bem-sucedida das maldições e deixa, de propósito, o fim
aberto para que outros retornos aconteçam.
ARRASTA-ME PARA O INFERNO
Direção: Sam Raimi
Produção: EUA, 2009
Com: Justin Long, Alison Lohman, Jessica Lucas
Onde: ABC Plaza Shopping, Cine TAM,
Interlagos e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom
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