Diretor busca paralelo entre evolução da música e fatos históricos do país

Documentário no Canal Brasil reúne imagens de arquivo e depoimentos atuais, mas faltam mais bandas em ação

FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Litto Nebbia, Pajarito Zaguri, Javier Martínez, Moris, Emilio del Guercio: provavelmente, poucos reconhecem esses nomes aqui no Brasil.
Trata-se de alguns dos pioneiros do rock argentino, que ganhou consistente documentário há pouco tempo: "Argentina Beat", dirigido por Hernán Gaffet, que procura resgatar os primórdios do rock no país, se concentrando na década de 1960.
O documentário é arquitetado de forma convencional, seguindo o padrão de intercalar imagens de arquivo com depoimentos atuais. Para quem desconhece essa faceta da música argentina, o filme é bastante informativo.
Talvez o espectador brasileiro sinta falta de mais imagens das bandas retratadas em ação. Se é possível compreender o processo de surgimento e solidificação do rock argentino e decorar nomes e referências, fica a sensação de certa carência sonora e visual da música em destaque. O clima de nostalgia, de um tempo irrecuperável, domina os depoimentos, especialmente quando se fala do bar La Cueva.
Fundado no começo dos anos 1960, em Buenos Aires, o lugar primeiramente era destinado aos músicos de jazz. Aos poucos, os grupos de rock foram conquistando espaço, até que La Cueva se tornasse o principal palco e laboratório do rock nascente.
"O rock nacional ainda não havia nascido naquele momento. Plantamos a semente", diz, em depoimento, Pajarito Zaguri. Protagonista dos tempos de La Cueva, Zaguri liderou bandas como Los Beatniks -responsável pelo primeiro single do rock argentino, "Rebelde", de 1966. Vocalista, permanece em atividade, tendo lançado um álbum em 2009.

JOVEM GUARDA
Como ocorreu com a nossa jovem guarda, alguns dos protagonistas do período não mantiveram viva sua face roqueira. O principal exemplo é o cantor Sandro (1945-2010).
Também frequentador de La Cueva, Sandro liderava o grupo Los de Fuego, com o qual tocava músicas próprias e versões em espanhol para temas de Jerry Lee Lewis e dos Beatles.
Nos anos 70, foi cada vez mais se dedicando a baladas românticas, se tornando um dos grandes fenômenos de massa do país.
Mas há também os que permaneceram fiéis às origens, como o baterista Javier Martínez. Além de ser um dos entrevistados, Martínez aparece, calvo e barrigudo, tocando com seu trio atual, fazendo seu rock tradicional. Uma das preocupações de Gaffet foi a de sempre traçar paralelos entre as transformações do rock no país com fatos históricos e socioculturais. A opção ajuda a localizar e organizar as informações apresentadas, apesar de soar um pouco esquemático.