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Brasil vê o impacto de Beckett em peça de Bob Wilson
Renomado diretor americano monta "Dias Felizes" em Belo Horizonte e Porto Alegre e diz que texto marcou toda a sua carreira
MARCOS GRINSPUM FERRAZ
DE SÃO PAULO
CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA
A afinidade sempre existiu. Seja na economia da linguagem, no desprezo pela
narrativa convencional ou
no jogo dialético entre tempo
e espaço como recurso teatral, o trabalho de Robert Wilson sempre se relacionou
com a obra de Samuel Beckett (1906-1989).
Ainda assim, foram precisos quase 40 anos de carreira
para que o diretor americano
decidisse montar um texto
do dramaturgo irlandês.
"Sempre houve muita gente que me pediu para fazer
Beckett. Mas eu sentia que a
proximidade entre nosso trabalhos era tanta que resolvi
esperar. Até que dois anos
atrás tive duas ofertas e achei
que tinha chegado a hora de
encarar o desafio. Então, eu
fiz", explica Wilson, 77, em
entrevista à Folha por telefone, dos EUA.
Foram duas peças de uma
vez: "A Última Gravação de
Krapp", em 2009, e, no ano
anterior, "Dias Felizes", que
chega ao Brasil pela primeira
vez com apresentações hoje e
amanhã no Festival Internacional de Teatro Palco e Rua
de Belo Horizonte (www.fit
bh.com.br/2010). De lá, segue para Porto Alegre.
No palco, a atriz italiana
Adriana Asti -dos filmes de
Buñuel, Pasolini e Bertolucci- faz o já clássico papel de
Winnie, a mulher eternamente otimista e falante que,
mesmo enterrada até a cintura, não se deixa abater em
sua resistente rotina.
Uma das novidades da
montagem de Wilson é a
substituição do monte de terra do cenário proposto em
Beckett por asfalto. Da natureza para a cidade.
Ao contar sobre a escolha
de montar esta obra, ele
aproveita para lembrar de
quando conheceu Beckett.
"Quando me apresentei
em Paris pela primeira vez,
em 1971, a excelente atriz
francesa Madeleine Renaud
estava lá encenando "Dias
Felizes". Eu a conheci e, por
meio dela, Beckett. Então a
peça sempre causou um
grande impacto em mim. E
acho que influenciou todo o
trabalho que fiz a partir daí."
"Todo o trabalho", no caso
de Wilson, não é pouco. São
montagens que vão de Shakespeare a contemporâneos
como Heiner Müller; de Umberto Eco a poetas concretistas como Christopher Know-
les; e, na música, de óperas
de Wagner a parcerias com
Lou Reed e David Byrne.
Sobre o maior reconhecimento desta vasta produção
fora de casa, ele diz: "O teatro
nos EUA é um teatro mais de
boulevard, voltado ao entretenimento e ao turismo".
E aproveita para alfinetar a
"cegueira" americana frente
ao mundo. "Não sabemos o
que está acontecendo no teatro do Brasil ou de Paris, Roma e Berlim. Somos completamente desconectados."
Próximo aos 80 anos e em
plena atividade, com 14 projetos em andamento, Wilson
revela também um pouco de
seu trabalho como educador
no centro que criou em Long
Island: "Não quero uma escola à la Bob Wilson ou um
jeito Bob Wilson de fazer coisas. Gosto de diversidade".
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