São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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"Ulisses' é o primeiro entre os cem livros

de Nova York

O presente surto de listas pautou até uma genuína polêmica literária. A coleção de clássicos "Modern Library", da editora Random House, revelou em 26 de julho o resultado de uma pesquisa sobre os cem mais importantes livros de ficção em língua inglesa publicados neste século.
A lista foi estabelecida a partir da votação de dez membros dos comitê editorial da coleção. É gente séria. Nada contra eles individualmente: a crítica e romancista britânica A. S. Byatt, os escritores Gore Vidal e William Styron, os historiadores Daniel Boorstin, Shelby Foote, Vartan Gregorian e Arthur Schlesinger Jr, o crítico de arte John Richardson, o biógrafo Edmund Morris e o coordenador do comitê, Christopher Cerf.
Perfil do grupo: brancos, só uma mulher, idade média de 69 anos. Perfil da seleção: misógina (só oito escritoras), anglo-americanocêntrica (nada da Austrália ou da África do Sul), anticontemporânea (só quatro obras pós-1975).
Detalhe: mais de metade (59) dos escolhidos faz parte da coleção. Dez serão lançados em edição popular pela Library neste mês.
Em rara sintonia, a imprensa caiu de pau. Só o "The New York Times" publicou três artigos e meia seção de cartas à polêmica e vem mantendo uma página de discussão sobre a lista em sua home page (www.nytimes.com).
"Newsweek" a elevou a chamada de capa, metralhando no título interno: "Os Datados e os Mortos". Louis Menand deitou e rolou na "The New Yorker": "A lista não é irreconhecível para quem nasceu depois de 1950. É totalmente reconhecível: aqueles são os livros lidos por nossos pais".
Os ataques em geral poupam o topo da lista. O debate esquenta lista abaixo. Não há nada de Beckett e Gertrude Stein, para citar dois modernistas no espírito e da época privilegiados pela seleção. Entre os contemporâneos, cadê Updike ("Rabbit"), Pynchon ("O Arco-Íris da Gravidade") e DeLillo ("Libra")?
Nada menos que 41 dos cem estão fora da muitíssimo mais extensa -e séria- seleção feita por Harold Bloom no apêndice de "O Cânone Ocidental". No campo oposto, apenas cerca de 30 títulos repetem-se na lista oficial e na pesquisa popular mantida pela Modern Library na Internet (www.modernlibrary.com). Apostando na estratégia, a série promete para breve a lista dos cem principais livros não-ficcionais. (AL)



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