|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Ulisses' é o primeiro
entre os cem livros
de Nova York
O presente surto de listas pautou
até uma genuína polêmica literária. A coleção de clássicos "Modern Library", da editora Random House, revelou em 26 de julho o resultado de uma pesquisa
sobre os cem mais importantes livros de ficção em língua inglesa
publicados neste século.
A lista foi estabelecida a partir da
votação de dez membros dos comitê editorial da coleção. É gente
séria. Nada contra eles individualmente: a crítica e romancista britânica A. S. Byatt, os escritores
Gore Vidal e William Styron, os
historiadores Daniel Boorstin,
Shelby Foote, Vartan Gregorian e
Arthur Schlesinger Jr, o crítico de
arte John Richardson, o biógrafo
Edmund Morris e o coordenador
do comitê, Christopher Cerf.
Perfil do grupo: brancos, só uma
mulher, idade média de 69 anos.
Perfil da seleção: misógina (só oito
escritoras), anglo-americanocêntrica (nada da Austrália ou da
África do Sul), anticontemporânea (só quatro obras pós-1975).
Detalhe: mais de metade (59)
dos escolhidos faz parte da coleção. Dez serão lançados em edição
popular pela Library neste mês.
Em rara sintonia, a imprensa
caiu de pau. Só o "The New York
Times" publicou três artigos e
meia seção de cartas à polêmica e
vem mantendo uma página de discussão sobre a lista em sua home
page (www.nytimes.com).
"Newsweek" a elevou a chamada de capa, metralhando no título
interno: "Os Datados e os Mortos". Louis Menand deitou e rolou na "The New Yorker": "A
lista não é irreconhecível para
quem nasceu depois de 1950. É totalmente reconhecível: aqueles são
os livros lidos por nossos pais".
Os ataques em geral poupam o
topo da lista. O debate esquenta
lista abaixo. Não há nada de Beckett e Gertrude Stein, para citar
dois modernistas no espírito e da
época privilegiados pela seleção.
Entre os contemporâneos, cadê
Updike ("Rabbit"), Pynchon
("O Arco-Íris da Gravidade") e
DeLillo ("Libra")?
Nada menos que 41 dos cem estão fora da muitíssimo mais extensa -e séria- seleção feita por
Harold Bloom no apêndice de "O
Cânone Ocidental". No campo
oposto, apenas cerca de 30 títulos
repetem-se na lista oficial e na pesquisa popular mantida pela Modern Library na Internet (www.modernlibrary.com). Apostando
na estratégia, a série promete para
breve a lista dos cem principais livros não-ficcionais.
(AL)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|