São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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TEATRO
Festival Fringe espera arrecadar 1 milhão de libras este ano
Edimburgo fatura mais

France Presse
O gupo russo Krasky Vostoka faz apresentação em Edimburgo


NELSON DE SÁ
enviado especial a Edimburgo

O Edimburgo Festival Fringe, a maior mostra de teatro no mundo, que começou domingo na Escócia, quebrou terça-feira seu recorde de bilheteria, com a venda de ingressos somando 54 mil libras num único dia (cerca de R$ 160 mil). A expectativa da organização é passar de 1 milhão de libras, no fim das três semanas do festival, contra 870 mil libras no ano passado.
Apesar do recorde, o movimento na High Street, a rua que concentra os espetáculos improvisados, diminuiu. A direção do Fringe passou a exigir uma licença para apresentações de rua, para conter episódios violentos -em 98, um monociclista atacou um grupo de clowns que tirou seu público.
Dentre os espetáculos formais, programados para 167 teatros e salas adaptadas da mostra, o que vem provocando maior reação é "Corpus Christi".
Escrita por Terrence McNally, também autor de "Master Class", que foi montada no Brasil por Marília Pêra, a peça reconta a história de Jesus desde o nascimento -na cidade de Corpus Christi, no Texas- e aponta homossexualismo na sua relação com os apóstolos, em especial Judas.
Diariamente há manifestações contra o espetáculo em Edimburgo. Uma igreja protestante chegou a reunir 70 pessoas diante do teatro, que vem lotando.
No palco, "Corpus Christi" é menos chocante do que parece. O texto é politicamente correto, de uma bondade cristã: lembra a Paixão de Cristo costumeira nos palcos brasileiros. McNally escreveu uma peça engajada, com certa autocomiseração, aquém dos textos anteriores.
Um certo tom politicamente correto também está presente em "The Complete Millennium Musical", novo espetáculo da Reduced Shakespeare Co.
O musical retrata o segundo milênio com muitas piadas étnicas, mas um tom geral contrário à Igreja Católica e ao "punhado de homens brancos ricos" que domina a humanidade. Cheia de improvisações e engraçada como "Shakespeare", "Millennium" é a primeira de uma dezena de peças sobre o milênio no Fringe.
Voltando ao festival 25 anos depois de sua estréia, "East", do autor e diretor inglês Steven Berkoff, é um dos melhores -e mais profissionais- espetáculos da mostra. A montagem, com ótimos atores, passa por Edimburgo a caminho do West End, a Broadway de Londres.
Berkoff, que estará em São Paulo em outubro com o monólogo "Shakespeare's Villains", é um autor iconoclasta, mas não politicamente correto, como mostra em "East": a peça é um espelho do East End, onde ele viveu nos anos 50, com seus valores proletários e uma linguagem sem travas, com três jovens obcecados por sexo.
Uma peça da qual se esperava muito, "Happy Birthday, Mister Deka D", do nigeriano (baseado em Londres) Biyi Bandele, se revelou frustrante. Em 45 minutos, é pouco mais que um exercício de linguagem.


O jornalista Nelson de Sá viajou a Edimburgo a convite da Cultura Inglesa.


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