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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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TEATRO

"O Horário de Visita" é montado com pouca ousadia, mas com honestidade; trama simples tem tom realista

Espetáculo combate no palco o preconceito

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

A honestidade é o grande trunfo de "O Horário de Visita". Por tratar do tema do preconceito -não podendo, portanto, ser preconceituoso-, a montagem não tenta impor princípios nem dar um passo maior que as pernas: sábia precaução em uma ficha técnica cheia de estreantes.
Sérgio Roveri, que antes desse texto só havia escrito monólogos, constrói uma trama simples em tom realista, que embora faça rodeios para chegar a revelações previsíveis, consegue sensibilizar o público para a importância de seu tema.
Edson e Ana, que perderam o jovem filho em acidente de trânsito, esperam uma misteriosa visita, Hique, que viria preencher essa falta. Desconfiada, Flávia, a ex-namorada, se intromete nesse encontro para proteger Edson, que acaba se revelando não tão indefeso assim.

Iniciantes maduros
O jovem diretor Ruy Cortez mostra sensibilidade e maturidade por não querer "assinar" seu nome com ousadias desnecessárias. Cuida de contar bem a história, dando suporte para a criação dos atores.
O outro iniciante, ironicamente, é Alberto Guzik, que volta a subir ao palco depois de décadas de militância crítica, desautorizando definitivamente o velho preconceito do crítico como "ator frustrado".
Se ainda deixa transparecer a insegurança por um certo desconforto físico, demonstra inteligência interpretativa pela riqueza de entonação que o permite, não caindo no maniqueísmo, humanizar um personagem odioso.
Os "veteranos", generosamente, não tentam puxar o foco. Tuna Dwek faz com precisão e simpatia a resignada Ana, cuja tolerância atenua os conflitos.
Rejane Arruda, como Flávia, sabe desautorizar sua bela presença quando necessário, e Marcelo Médici, que já consagrou sua energia irreverente nas "terças insanas", mostra agora uma contenção cheia de sensibilidade.
Encarando com desenvoltura um tema tão delicado, a montagem evita o risco de descambar para o rancoroso ou o proselitismo, mas por outro lado se permite algum pano quente.
Afinal, para desarmar o preconceito, que destrói vítimas e algozes, é preciso muita tolerância.


O Horário de Visita
   

Texto: Sérgio Roveri
Direção: Ruy Cortez
Com: Alberto Guzik, Marcelo Médici, Rejane Arruda e Tuna Dwek
Onde: Teatro do Centro da Terra (r. Piracuama, 19, Vila Pompéia, região oeste de SP, tel. 0/xx/11/3675-1595)
Quando: sáb.: 21h; dom.:19h; até 5/10
Quanto: R$ 20; estac. (R$ 5); ingr. p/ tel. 0/xx/11/6846-6000



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