São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, em Nova York - ultima.moda@folha.com.br

Dono da Diesel investe no Brasil

Renzo Rosso virá a São Paulo em fevereiro de 2008 para inaugurar a nova loja da grife nos Jardins

Divulgação
O empresário italiano Renzo Rosso, proprietário da Diesel e grifes como Vivienne Westwood, posa em rua de Nova York

O empresário italiano Renzo Rosso é um dos nomes superpoderosos da moda mundial. Ele é dono da Diesel, a cobiçada marca de jeanswear, e também da empresa Staff International -proprietária de importantes grifes do prêt-à-porter internacional: DSquared2, Sophia Kokosalaki, Vivienne Westwood e Maison Martin Margiela.
Em fevereiro do próximo ano, Rosso, 52, estará no Brasil para a inauguração de uma nova loja da Diesel, nos Jardins, em São Paulo. A loja é o primeiro passo de uma sociedade arquitetada por ele e o empresário brasileiro Esber Hajli, que trouxe a marca para o país.
Na entrevista a seguir, feita em Nova York, Rosso conta que não descarta a idéia de produzir os jeans Diesel em terras brasileiras, no futuro. E afirma que a corrupção e os altos impostos de importação são os fatores que mais desestimulam os investimentos das grifes estrangeiras no Brasil.
Rosso conversou com a Folha na loja da Diesel do Soho, no último sábado. No mesmo dia, a grife -que conta com o brasileiro Icarius de Menezes na equipe de criação coordenada por Wilbert Das- fez seu desfile na semana de moda de Nova York, mostrando uma coleção sexy e divertida, em que os jeans foram coadjuvantes.

 

FOLHA - Como o sr. recebeu a decisão de Valentino de se aposentar do mundo da moda?
RENZO ROSSO
- É uma grande perda para a Itália e para a moda, porque ele deu uma incrível contribuição. Mesmo recentemente, quando tinha uma equipe enorme atuando com ele, o seu toque era fundamental no design das roupas.

FOLHA - Qual é o lugar da Diesel na moda italiana?
ROSSO
- Penso que a Diesel é mais que a moda italiana: é talvez a primeira companhia de moda do país de alcance realmente global. O sucesso que tivemos não foi apenas em um país e servimos de protótipo para as marcas italianas pensarem sua expansão globalmente.

FOLHA - O sr. disse certa vez que a Itália era entediante e que preferia a cultura americana. Ainda pensa dessa maneira?
ROSSO
- Eu me referia à educação italiana de moda. Nossas escolas de moda não são tão fortes nem dão tantas informações como as escolas belgas, britânicas ou francesas. Elas precisariam fornecer mais cultura aos seus estudantes. Porque, quando você se aproxima da moda, é preciso ter conhecimentos básicos em termos de arte, por exemplo. As pessoas na Itália são talentosas, mas, se tivéssemos uma educação mais forte, seríamos ainda melhores.

FOLHA - O que o sr. pensa da fast fashion?
ROSSO
- É uma moda para todos. É também para as pessoas que querem ser "cool" num tempo bem curto. A vida é muito breve, e ela empurra para um caminho frenético, onde você quer fazer o maior número de coisas no menor tempo possível. A fast fashion atende, na moda, ao desejo de velocidade.

FOLHA - Qual é o segredo de um bom jeans?
ROSSO
- É difícil fazer um bom jeans. Todas as marcas de luxo tentam fazê-lo, mas não conseguem porque não têm know-how. Muitas delas, por isso, batem à nossa porta, para que a Diesel produza para eles. Para fazer um bom jeans, você tem de ter a expertise, além de máquinas especiais e de um certo tipo de postura. Nós nunca tentamos produzir algo só para fazer dinheiro. É preciso manter parâmetros de qualidade e de criatividade. O segredo é escolher os melhores produtos, usar a melhor tecnologia e não aceitar compromissos que coloquem em risco esses padrões.

FOLHA - O sr. conhece alguma grife brasileira de jeanswear?
ROSSO
- Sim, estive na loja da Forum e conheço também a Ellus. Os jeans dessas grifes são suficientemente bons como produtos de marcas brasileiras.

FOLHA - O que eles precisam para ter o sucesso que a Diesel alcançou?
ROSSO
- Precisam investir muito dinheiro em recursos, porque, se você for visitar nossa companhia, verá as pessoas trabalhando incessantemente em protótipos e mais protótipos que talvez só sejam usados daqui a dez anos. Também investimos muito em tecnologia. Cerca de 50% de nosso aparato tecnológico foi produzido por técnicos da própria companhia, em decorrência de nossas necessidades de evolução.

FOLHA - Por que o mercado brasileiro não é tão atrativo para as marcas internacionais de moda, como a China e a Rússia são, atualmente?
ROSSO
- Porque vocês têm impostos muito altos para os produtos importados e também porque ainda há muita corrupção em todos os países da América Latina.

FOLHA - O sr. teve problemas com corrupção no Brasil?
ROSSO
- Não diretamente, porque trabalhamos com um distribuidor no país.

FOLHA - O Brasil é importante para o seu negócio?
ROSSO
- Muito. O status de nossa marca no mercado brasileiro é muito alto. Esber Hajli [distribuidor da Diesel no Brasil e agora sócio de Rosso] fez um trabalho muito bom. Há pouco, ele me chamou para ser seu sócio, e eu disse: "Por que não?". Mas será preciso um grande investimento porque, no momento, a companhia ainda é muito pequena no Brasil. Por enquanto, comprei uma loja em São Paulo, que será aberta em fevereiro de 2008. Eu estarei lá para a inauguração.

FOLHA - O sr. tem planos de produzir os jeans Diesel no Brasil?
ROSSO
- Há muitos países pelos quais eu sou fascinado. O Brasil é um deles. E, quem sabe, no futuro, possamos produzir lá.

FOLHA - Em que países a Diesel produz o seu jeans?
ROSSO
- Cerca de 70% são feitos na Itália, e 30%, na costa mediterrânea, sobretudo na Tunísia, que historicamente é muito ligada à Itália.

FOLHA - Se o sr. fosse produzir no Brasil, do que precisaria?
ROSSO
- De uma boa organização e teria também que levar meus técnicos e especialistas em produção.

FOLHA - O que o sr. acha que falta para a moda brasileira ter repercussão internacional?
ROSSO
- Vocês já têm uma boa semana de moda, têm produção e coisas muito interessantes. Têm também um toque muito especial, no que são similares à Itália. Eu adoro o povo latino, porque o sangue latino é mais criativo, em geral. Vocês precisam construir grandes marcas, fazer marketing, ter fortes homens de negócios e começar a vender no mundo inteiro. Isso é possível para todos os países hoje, não apenas para a Itália, a França e os EUA. Penso que o seu país já está pronto para isso.


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