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Crítica/erudito
Quarteto encerra festival com clássicos
Arditti Quartet, que já gravou mais de 150 discos, tocou Ligeti e Xenakis em ótima apresentação no final do Música Nova
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
A essa altura, Ligeti
(1923-2006) e Xenakis
(1922-2001) são clássicos. O que não quer dizer que
sejam muito tocados; e a chance de escutar dois quartetos de
cordas de compositores desse
porte, interpretados por um
grupo do porte do Arditti Quartet, não era de se perder por nada. Tanto melhor que o programa de anteontem, fechando a
programação do Festival Música Nova, trazia outras obras
bem recentes, incluindo a música de dois brasileiros, Felipe
Lara (1979) e Alexandre Lunsqui (1969).
O Arditti Quartet existe desde 1974, com várias escalações,
mas dedicado sempre e exclusivamente à música contemporânea. Já gravou mais de 150
discos e ganhou muitos prêmios. Toca música de vanguarda como se fosse Schubert -e
não seria ótimo se outros quartetos tocassem Schubert como
se fosse vanguarda? Em espírito, se não na forma, todos os
compositores são vanguarda,
antes de virar história.
É verdade que a vanguarda
há muito deixou de ter esse papel. Mas o espírito permanece
vivo, como se viu ao longo de
mais um Festival Música Nova,
há 42 anos sob a direção artística de Gilberto Mendes e de um
tempo para cá sob a heróica direção executiva de Lorenzo
Mammì (em São Paulo) e Luiz
Gustavo Petri (Santos).
Compositores ingleses
Quarta-feira, no Sesc Vila
Mariana, o Arditti tocou dois
quartetos de compositores ingleses: o relativamente pouco
conhecido James Clarke (1957)
e o quase notório Brian Ferneyhough (1943). O primeiro trabalha com massas sonoras contínuas, que vão se alterando por
dentro, com ritmos imprevisíveis, num espaço harmônico
interessantemente árido. Já
Ferneyhough, grão-mogol da
Nova Complexidade, vem se
mostrando cada vez mais aberto para uma dimensão particular de lirismo, num registro em
que a música parece a ponto de
se despedir de si. O "Quarteto
nš 5", de 2006, termina já do lado de lá, observando rastros do
que restou.
"Corde Vocale", do sorocabano Felipe Lara, foi composto no
ano retrasado. As "cordas vocais" do título são metáforas
para as vocalizantes cordas do
quarteto, que se comunicam irregular e contrapuntisticamente, numa nebulosa sonora.
Doutorando em composição na
Universidade de Nova York,
sob orientação de Mario Davidovsky e Tristan Murail, Lara
escreve num idioma que conversa com a eletroacústica e a
música espectral, mas aponta
para outra direção.
Outro nome de ponta da jovem geração brasileira, o paulistano Alexandre Lunsqui
também está em Nova York, do
outro lado, na Columbia. Estudou, entre outros, com Murail e
Ferneyhough. Sua peça "Mobile.Mutatio" estreou pelas melhores mãos, nesse concerto.
Tudo aqui é sempre interessante: não há um compasso sem
idéia, e a seção final, de rarefações, fica na memória de imediato, como um poema forte
que se leu pela primeira vez.
Depois disso, ainda vieram o
"Quarteto nš 2" de Ligeti e "Tetras" de Xenakis, rock'n'roll de
primeira, tocado com precisão
e gana. Ontem à noite, o Arditti
ainda faria a estréia de um
quarteto de Flo Menezes
(1962). Música viva na cidade,
para delirar e pensar.
ARDITTI QUARTET
Avaliação: ótimo
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