São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2011
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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA Produção impecável marca o centenário do Municipal Ópera 'Rigoletto' reúne direção cênica precisa e solistas de altíssimo nível SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA Conta-se que a inauguração do Theatro Municipal teria causado um grande congestionamento em São Paulo na noite de 12/9/1911. O concerto comemorativo do centenário, anteontem, não pegou, portanto, o paulistano desprevenido. Cem anos de trânsito, cem anos de ópera: "Rigoletto", do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), é a primeira produção assinada pela casa após quase três anos de reforma. Se servir de parâmetro para o que se almeja fazer nas próximas temporadas, podemos realmente celebrar. É verdade que os discursos dos políticos presentes, como o prefeito Gilberto Kassab e a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, atrasaram não apenas o início da apresentação mas igualmente dilataram os dois intervalos, o que causou certo esvaziamento de público no ato final. Mas nada disso atingiu drama ou música. A direção cênica de Felipe Hirsch é precisa, bem contornada pela cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara e pela iluminação de Beto Bruel. Tendo em vista o altíssimo nível dos solistas principais -o barítono irlandês Bruno Caproni como o bufão corcunda Rigoletto, a soprano russa Alexandra Lubchansky como Gilda, sua filha, e o tenor ítalo-americano Leonardo Capalbo como o duque de Mântua- foi possível conduzir a música com largueza e flexibilidade. O regente Abel Rocha colocava os músicos no tempo dos cantores, sem pressa, e interagia de maneira notável com a limpidez vocal e a personalidade cênica de Caproni e Lubchansky. Essa não ansiedade, construída com calma e certeza, dava o tempo da emoção. "Rigoletto" estreou em Veneza em 1851. A maldição anunciada por Monterone (Stephen Bronk, em ótima aparição), ele mesmo um amaldiçoado, é a que se abate sobre homens em um mundo no qual as mulheres nada são além de objeto de prazer violento e cínico. Nenhuma "donna" é "mobile" na peça: ao contrário, a volubilidade sem escrúpulos pertence obviamente ao próprio duque, que canta a ária famosa em si maior. Assim, quando uma jovem como Gilda entrega gratuitamente a própria vida, realiza a maldição sobre o pai, já que os velhos não podem preservar suas filhas da violência que eles mesmos praticam fora de casa. A maldição é um círculo perverso. RIGOLETTO QUANDO hoje, qui. e sex., às 21h; sáb., às 20h; dom., às 17h ONDE Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n; tel. 0/xx/11/3397-0327) QUANTO R$ 15 a R$ 70 CLASSIFICAÇÃO 6 anos AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: CDs Próximo Texto: Rodrigo Santoro usa obsessão para moldar tragédia de jogador Índice | Comunicar Erros |
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