São Paulo, terça, 14 de outubro de 1997.




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'Poesia É Risco', um convite irresistível

CARLOS RENNÓ
especial para a Folha

Embora a poesia esteja no centro de tudo o que ocorre no palco (onde só a presença do poeta já é atração e novidade), é notável como, em "Poesia É Risco", palavras, sons e imagens dialogam, sem que música e vídeo desempenhem papel de mero acompanhamento. Dessa interpenetração resulta a poesia do espetáculo.
Um exemplo. Enquanto a leitura de "Canção Noturna da Baleia", de Augusto de Campos, termina, na maior das três telas do fundo do palco, começa a sequência do mar em "Limite", de Mário Peixoto.
As imagens se mantêm, em seguida, durante a vocalização de "Barco Bêbado", a aventura poético-marítima de Rimbaud.
Entre palavras e sons, então, a relação tecida por pai e filho se faz íntima, fluida, espontânea. Assim, ao final de "Cidade City Cité", ambos improvisam. Cid cria dissonâncias agressivas na guitarra, e na voz de Campos podem ecoar referências a Walter Franco ou Arrigo Barnabé.
Dirigido pelo poeta e videoartista Walter Silveira, o espetáculo apresenta o mesmo repertório do CD homônimo, lançado pela Polygram: poemas de Campos e traduções suas -principalmente de Rimbaud, mas também de Cummings, Joyce e, claro, do pré-multimídia visionário William Blake.
Uma das apresentações mais aplaudidas é a de "SOS", de AC. De implicação tanto física quanto metafísica, o poema já impressionava pela sua carga de angústia existencialista, ao tratar da solidão cósmica do homem e também indagar sobre o pós-vida.
Tem aumentado seu impacto pela dimensão da tela em que é projetado e pela surpreendente animação em vídeo, com seus versos girando em círculos concêntricos ao redor do SOS nuclear.
A animação de "Poema Bomba" se destaca pela sofisticação e resulta de árduo trabalho no Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP.
"Poesia É Risco" nos convida a mergulhar olhos e ouvidos livres nas imagens e nos sons de seus poemas. Para modernos curtidores da arte em geral, é irresistível o convite.



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