São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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Maria Elisa Costa lança, em novembro, "Com a Palavra, Lucio Costa", versão reduzida do livro "Registro de uma Vivência", de 1995
Filha de Lucio Costa projeta memórias do pai
Palavras edificadas

Ana Lúcia Arrázola
Lucio Costa, em reprodução do livro "Registro de uma Vivência"


FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

A arquiteta Maria Elisa Costa prepara para meados de novembro dois lançamentos simultâneos em torno das idéias de seu pai, o arquiteto e urbanista brasileiro Lucio Costa (1902-98). Estão previstos para acontecer no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.
O livro "Com a Palavra, Lucio Costa" vai marcar a inauguração da Casa de Lucio Costa, que ainda não tem sede definitiva, mas vai funcionar provisoriamente em uma sala da sede social do Jockey Club do Rio.
Coincidência ou não, o prédio, no centro do Rio, foi projetado por Costa, um dos principais mestres da arquitetura moderna brasileira que fez, entre tantos outros, o projeto urbano de Brasília.
A nova publicação está quase pronta. "Faltam detalhes de gráfica", garantiu Maria Elisa, 65, organizadora. A obra é uma versão reduzida do livro de memórias "Registro de uma Vivência", que Costa preparou durante 12 anos e concluiu em 1995 (ano de sua primeira edição), aos 93 anos.
Em sua segunda edição (ambas pela Empresa das Artes), o livro tem 608 páginas de texto e imagens -projetos, fotos de família, fotos de lugares.
O novo (editora Aeroplano) tem 160 páginas só de texto. ""Com a Palavra" é um "livroclipe"", afirmou Maria Elisa.
A única imagem é a da capa, uma foto tirada por Julieta Sobral, 34, neta de Costa.
Em princípio, parece uma versão piorada de "Registro", especialmente para aqueles que não conhecem a obra do arquiteto.
"Ele teve uma cabeça extremamente livre. Só fez o que acreditou. É uma referência pessoal e profissional", disse Maria Elisa.
Para Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial e membro do conselho deliberativo da Casa de Lucio Costa, os arquitetos da geração dele ocupavam o lugar dos economistas de hoje. "Eles falavam da sociedade. Não dá para pensar no Lucio só como arquiteto", disse Cavalcanti, que assina o prefácio do novo livro.
Partilhando desse raciocínio, Maria Elisa decidiu limar as imagens. "A idéia é ressaltar o apreço que ele tinha pelas palavras."
Ainda que uma versão reduzida do livrão, o novo traz cinco textos inéditos (leia à pág. E 3). Quatro escritos por Costa e um por Maria Elisa. "Trabalhei na construção do livrão, reli coisas para meu pai quando ele já não enxergava e fiquei com uma intimidade enorme com os textos. A intenção é mostrar a dimensão da cabeça de Lucio Costa."
Dividido em oito partes, traz constatações do arquiteto sobre a vida cotidiana, comentários sobre a nova arquitetura, cartas, reflexões intimistas do autor sobre a vida. Estão reeditados textos escritos desde os anos 10 até os 90.
São ensaios extraídos de revistas de circulação restrita ou simplesmente anotações pessoais.
"Agrupei os textos sem intenção teórica nem cronológica. Até porque o tempo para ele não era uma coisa propriamente cronológica", disse Maria Elisa.
A vantagem do pequeno livro, quase introdutório ao pensamento de Lucio Costa, em relação a "Registro de uma Vivência" é o preço de capa. A nova edição vai custar R$ 16, enquanto o livrão sai por R$ 79.
Nascido em 27 de fevereiro de 1902 em Toulon (França) e registrado na embaixada brasileira, veio com poucos meses para o Brasil. Aos 8 anos, voltou com a família para a Europa.
Retornou ao Brasil aos 15, quando seu pai, o engenheiro naval Joaquim Ribeiro da Costa -que "estranhamente queria ter um filho artista"-, o matriculou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio. Costa dizia que, apesar de ter nascido na França, ninguém era mais brasileiro do que ele.


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