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'Quis fazer um conto de fadas moderno', diz autor
DE PARIS
O escritor Nicolas Jones-Gorlin,
30, casado, pai de um garoto de
sete meses, seguia uma discreta e
tranquila carreira literária até publicar "Rose Bonbon", seu terceiro romance. O livro caiu como
uma bomba na França.
Um pedófilo é o narrador de
"Rose Bonbon". Ele descreve a
atração irresistível que tem por
meninas que ainda não desenvolveram nada do que faz uma mulher: os seios firmes, os pêlos pubianos, o aroma da maturidade.
"Eu quis fazer um conto de fadas
moderno através da figura do
ogro", diz o escritor à Folha, num
café em Montparnasse.
Jones-Gorlin tem mãe grega e
pai russo. Pretende fazer uma literatura que incorpore algo do cinema, da música e dos quadrinhos.
Adora o Brasil, que visitou em
2000. É um admirador de Chico
Science e de Patricia Melo.
(ALN)
Folha - Ao escrever "Rose Bonbon", o sr. imaginou que poderia
provocar tanto escândalo?
Nicolas Jones-Gorlin - Não. Eu
sabia que era um tema delicado,
mas não imaginei que fosse haver
tanto barulho e que os políticos e
a Justiça se intrometeriam no debate. Eu não quis escrever uma
provocação, mas uma crítica. Talvez eu seja um moralista, não no
sentido de inventar uma moral
para as pessoas, mas de discutir os
seus valores. Como Voltaire, pretendo rir do mundo em que vivemos. Mas numa sociedade como
essa, cada vez mais puritana, todos os temas delicados serão tomados como provocação.
Folha - Ao começarem as primeiras reações ao seu livro, como se
sentiu pessoalmente?
Jones-Gorlin - No começo, senti
surpresa e medo. Medo desta sociedade. Eu não enviei a ela uma
bomba, mas um livro. As pessoas
responderam como se eu fosse
um criminoso. Sempre pensei
que aqui houvesse liberdade de
expressão. O que é que eu descubro? Que atingi um limite. Que a
sociedade já não distingue o imaginário do real.
Folha - Como o sr. concebeu "Rose Bonbon"?
Jones-Gorlin - Parti de um certo
clima que há na sociedade e na
mídia. A pedofilia é uma obsessão
da mídia francesa. Eu quis fazer
um conto de fadas moderno, mas
através da figura do ogro. O meu
ogro é o pedófilo. Também quis
criticar esse "adolescentismo"
que prevalece hoje, essa glorificação de tudo que é jovem. É como
se a sociedade estivesse regredindo a uma forma infantil. Quanto à
pedofilia, eu próprio não conheço
nada. Imaginei o personagem
pensando num oposto a mim.
ROSE BONBON. De: Nicolas Jones-Gorlin. Editora: Gallimard. Quanto: cerca
de R$ 54 (175 págs.). Onde encontrar:
www.amazon.fr.
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