São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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'Quis fazer um conto de fadas moderno', diz autor

DE PARIS

O escritor Nicolas Jones-Gorlin, 30, casado, pai de um garoto de sete meses, seguia uma discreta e tranquila carreira literária até publicar "Rose Bonbon", seu terceiro romance. O livro caiu como uma bomba na França.
Um pedófilo é o narrador de "Rose Bonbon". Ele descreve a atração irresistível que tem por meninas que ainda não desenvolveram nada do que faz uma mulher: os seios firmes, os pêlos pubianos, o aroma da maturidade. "Eu quis fazer um conto de fadas moderno através da figura do ogro", diz o escritor à Folha, num café em Montparnasse.
Jones-Gorlin tem mãe grega e pai russo. Pretende fazer uma literatura que incorpore algo do cinema, da música e dos quadrinhos. Adora o Brasil, que visitou em 2000. É um admirador de Chico Science e de Patricia Melo. (ALN)

Folha - Ao escrever "Rose Bonbon", o sr. imaginou que poderia provocar tanto escândalo?
Nicolas Jones-Gorlin -
Não. Eu sabia que era um tema delicado, mas não imaginei que fosse haver tanto barulho e que os políticos e a Justiça se intrometeriam no debate. Eu não quis escrever uma provocação, mas uma crítica. Talvez eu seja um moralista, não no sentido de inventar uma moral para as pessoas, mas de discutir os seus valores. Como Voltaire, pretendo rir do mundo em que vivemos. Mas numa sociedade como essa, cada vez mais puritana, todos os temas delicados serão tomados como provocação.

Folha - Ao começarem as primeiras reações ao seu livro, como se sentiu pessoalmente?
Jones-Gorlin -
No começo, senti surpresa e medo. Medo desta sociedade. Eu não enviei a ela uma bomba, mas um livro. As pessoas responderam como se eu fosse um criminoso. Sempre pensei que aqui houvesse liberdade de expressão. O que é que eu descubro? Que atingi um limite. Que a sociedade já não distingue o imaginário do real.

Folha - Como o sr. concebeu "Rose Bonbon"?
Jones-Gorlin -
Parti de um certo clima que há na sociedade e na mídia. A pedofilia é uma obsessão da mídia francesa. Eu quis fazer um conto de fadas moderno, mas através da figura do ogro. O meu ogro é o pedófilo. Também quis criticar esse "adolescentismo" que prevalece hoje, essa glorificação de tudo que é jovem. É como se a sociedade estivesse regredindo a uma forma infantil. Quanto à pedofilia, eu próprio não conheço nada. Imaginei o personagem pensando num oposto a mim.


ROSE BONBON. De: Nicolas Jones-Gorlin. Editora: Gallimard. Quanto: cerca de R$ 54 (175 págs.). Onde encontrar: www.amazon.fr.

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