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Brega domina o mercado brasileiro
Grupos de pagode, axé, sertanejo
e infantil tomam conta das
vendagens de CDs, jogando
discos de MPB, pop e rock para
escanteio nas paradas e rádios
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local
MARIANE MORISAWA
da Redação
A MPB pode ter fama e reconhecimento internacional, mas, hoje,
a música que vende no Brasil é diferente. É brega. No gosto do consumidor só há lugar praticamente
para pagode e axé, um pouco de
sertanejo e discos infantis.
Em uma pesquisa do Nopem na
última semana de outubro, entre
os 50 CDs mais vendidos em São
Paulo, apenas um era de MPB, o
"Acústico" de Gal Costa. E, mesmo assim, na 44ª posição. De pagode, entretanto, havia dez vezes
mais. E três (Só Pra Contrariar, Art
Popular e ExaltaSamba) entre os
dez primeiros. Essa situação se repete no Rio.
"A MPB tradicional está em crise comercial. Não houve renovação ainda", analisa João Augusto,
diretor artístico da EMI. O que
vende é o que as gravadoras denominam superpopular. "O que se
chamava tradicionalmente de brega, que é a música romântica, não
está vendendo nada", afirma ele.
Mesmo assim ainda tem mais espaço e público do que o pop. Na
Rádio Link -serviço contratado
pelas gravadoras para aferir a programação musical das rádios- do
dia 11, "Só Você", de Fábio Jr., estava em terceiro lugar entre as
mais tocadas no Rio e em 10º em
São Paulo. Gabriel o Pensador era
o único representante pop na lista
e aparecia só no Rio, em 6º lugar.
Atualmente, o conceito de brega
não está restrito à música romântica. "Se ser brega é ser popular e
cantar o que o povo sente, nós somo bregas", assume Netinho, vocalista do Negritude Jr. O grupo já
vendeu quase 4 milhões de discos
e, embalado pelo sucesso, se prepara para rodar, com o diretor
Odorico Mendes, o filme "Negritude - O Drama Urbano".
Netinho estrila quando é indagado se considera sua música boa.
"A qualidade é tanta que antes
quem comprava samba era só negro e pobre. Agora todo mundo
ouve", diz ele, que prefere não
comparar o samba de Cartola,
Nélson Cavaquinho e Paulinho da
Viola ao pagode do Negritude Jr.,
Só Pra Contrariar e Molejo.
"É muito diferente. Existe hoje
uma poesia que é moderna. Não
podíamos parar no Paulinho da
Viola ou no Martinho da Vila. Temos que pedir a bênção a eles. Mas
não dá para viver no saudosismo."
E dá a receita do sucesso: "Nós
falamos a linguagem do povo, como os Racionais ou o Gabriel (O
Pensador), só que falamos de
amor", diz ele, que define o Negritude Jr. como samba-pop.
Eles não são os únicos a falar "a
linguagem do povo". "Claudinho
e Buchecha falam o que o povo
quer ouvir e cantam o que sentem", exemplifica João Augusto.
Símbolo nacional
Talvez não seja por acaso que a
principal figura da música brasileira hoje é alguém que não abre a
boca para cantar e ganhe fama remexendo os quadris.
"No Brasil sempre houve essa
imagem de exploração da mulher
e de seu corpo. Carla Perez tem
muito carisma, sabe dançar, é bonita. As crianças a adoram. Mas ela
não simboliza a música", diz Ivete
Sangalo, da Banda Eva -outro
grupo entre os dez mais.
Netinho faz coro. "O É O Tchan
representa a alegria e o renascimento da música baiana com uma
nova roupagem. A Carla é um símbolo sexual. O grupo deu certo
porque juntou as duas coisas."
Para Ivete, a "música baiana não
é apenas bunda. É preciso ter muito peito".
"A música baiana é maravilhosa. Foi dela que surgiu Daniela
Mercury, Carlinhos Brown e Timbalada. Existem oportunistas na
música baiana, mas eles também
existem na MPB", opina.
João Augusto aponta uma peneira para os oportunistas e os sem
qualidade: o tempo. "Alguma coisa é muito boa quando você vai
ouvir dez anos depois nas rádios. E
o É O Tchan não vai tocar."
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