BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O ator Lázaro Ramos, protagonista do premiado filme "Madame Satã", já declarou que desistiu de tentar decifrar seu personagem. Aproveitando a repercussão da produção sobre o malandro/ marginal da Lapa carioca João Francisco dos Santos (1900-1976), o Canal Brasil tenta jogar algumas luzes sobre o mito. Às 23h, exibe o "making of" do filme e, em seguida, às 23h30, exibe "A Rainha Diaba", produção de 1974 de Antonio Carlos Fontoura.
A exibição de "A Rainha Diaba" é oportunidade para rever a primeira vez que o personagem foi levado às telas. Apesar de não ser oficialmente baseado em Madame Satã -Plínio Marcos, autor da história, dizia que havia se inspirado em um gay famoso de Santos-, o filme, com Milton Gonçalves, retrata justamente o período não abordado pelo novo filme.
Já o "making of" começa com moradores da Lapa tentando explicar o personagem. "Era o [traficante] Elias Maluco daquela época", diz uma entrevistada.
O filme do diretor cearense Karim Aïnouz prefere mostrar a vida de João Francisco dos Santos antes de se tornar Madame Satã.
Negro, homossexual e um dos marginais mais famosos do Brasil, Santos criou, na vida real, muitas lendas a seu respeito, alimentadas em uma entrevista que concedeu ao semanário "O Pasquim" nos anos 70.
"Ele foi uma pessoa que dava a volta no destino. Era um sobrevivente, não sabia muito bem o que queria da vida. Teve que se reinventar para continuar vivo", diz Aïnouz no programa.
O ator Lázaro Ramos fala das dificuldades que encontrou para encarnar o personagem. Com 22 anos na época das filmagens e dono de uma personalidade pacífica, Ramos explica: "Tive que relembrar os momentos que sofri discriminações na vida. Esses são meus momentos "Madame Satã'".