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QUADRINHOS
Livro reúne primeiras HQs de Gilbert Shelton, que povoaram o imaginário da contracultura hippie dos EUA
Freak Brothers renascem entre as cinzas
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles ajudaram a estampar a cara
(peluda) da contracultura dos anos 60/70. E,
apesar do abuso do coquetel sexo, drogas &
rock'n'roll, Fat Freddy,
Phineas e Freewheelin"
Franklin continuam vivinhos da silva e retornam às
livrarias brasileiras em
grande estilo na HQ "Fabulous Furry Freak Brothers".
Criado por Gilbert Shelton,
em 67, o trio de maconheiros
picaretas que, com "Fritz, the
Cat", de Robert Crumb, deu o
pontapé inicial no quadrinho
underground dos EUA ganhou
nova tradução em uma antologia
em dois volumes lançada pela
editora Conrad. O segundo volume fica para 2005.
Apesar de aposentados -fala
sério: nenhum deles nunca trabalhou- desde meados da década
de 80, quando Shelton se mudou
para Paris com sua mulher, a
agente literária Lora Fountain,
são os Freak Brothers e suas inúmeras reedições em língua estrangeira que ainda sustentam o autor, atualmente envolvido na produção de um longa-metragem
animado estrelado por eles.
"Eu não sou um grande fã de filmes. Prefiro ficar assistindo a corridas na TV", debochou por e-mail à Folha o quadrinista, 64,
que, apesar da fama de "doidão",
jura que não é nem um pouco parecido com os seus Freak Brothers. "Se eu tivesse vivido como
os Freak Brothers, na certa estaria
morto agora. Ainda que os três tenham um pouco de mim, me
identifico mais com o gato do Fat
Freddy. Tenho três. E os torturo
todo dia até que eles me contem
histórias engraçadas sobre gatos."
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - Você parou com os Freak
Brothers há quase 20 anos. O que
tem ocupado seu tempo hoje?
Gilbert Shelton -°Hoje? Bem, eu
almocei num restaurante mexicano chamado Taco Loco, então fui
ao banco, visitei meu editor na
França, Ferid Kaddour, voltei para o meu escritório, respondi uma
penca de e-mails... Recentemente,
terminei o terceiro livro de "Not
Quite Dead" [HQ sobre uma banda de rock, com o quadrinista
francês Pic] e venho trabalhando
em um filme animado dos "Freak
Brothers". É baseado na história
"Grass Roots" e está sendo produzido por uma companhia inglesa chamada Bolex Brothers.
Folha - As livrarias daqui estão recebendo uma nova fornada de velhos "Freak Brothers". Como acha
que eles serão recebidos hoje?
Shelton - A primeira vez que ouvi essa pergunta, sobre "momentos históricos diferentes", foi em
1970, três anos depois que comecei a fazer os Freak Brothers. Alguém me perguntou: "Você continua fazendo aquela velha porcaria? Não acha que já é hora de
avançar?". Mas as pessoas continuam comprando os livros, então
não tenho razão para mudar. Claro, muitos detalhes ficaram fora
de moda, mas há algo ali com que
as novas gerações se identificam.
Há coisas estúpidas e ingênuas,
mas não vou mudar nada -como o Hergé fez com Tintin. Só iria
chamar uma atenção embaraçosa
para esses detalhes.
Folha - Ainda que o pano de fundo fosse a rotina de três "junkies"
americanos dos anos 60/ 70, há um
componente político nessas HQs. Na
sua opinião, qual foi o efeito desse
"molotov" na época?
Shelton - "Junkies" não é a palavra certa -ela se refere a usuários
de heroína. Os Freak Brothers fumavam maconha e ocasionalmente usavam outras drogas.
Eram usuários de drogas leves.
Mas mesmo isso era e continua
sendo um assunto proibido, e,
como política se trata de fazer o
que é proibido, dá até para dizer que há um componente
político ali. Não sei se os Brothers criaram mais simpatia
ou repulsa pela maconha.
Milhões de livros foram
vendidos até hoje, mas a
maconha nunca foi descriminalizada nos EUA.
Folha - Sua geração abriu
caminho para novos quadrinistas alternativos.
Você sente sua influência
nesses novos autores?
Shelton - Acho que a maior influência dos quadrinhos underground foi a idéia de que não só
assuntos tabus poderiam ser discutidos mas também poderiam
servir de base para publicações de
sucesso. Não tenho muito contato
com a cena dos quadrinhos hoje.
Gosto de caras como Peter Bagge
e Dan Clowes, mas eles já devem
estar com quase 50 anos agora.
Leio quadrinhos franceses para
não perder a prática, mas há alguns jovens artistas daqui que dizem ter sido influenciados pelo
meu trabalho. Fico honrado de
ouvir isso, mas não sei se acredito.
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