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TELEVISÃO
Crítica
"A Bela da Tarde" fala de sonhos e desejos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Como não estamos numa
olimpíada, não vem ao caso dizer se "A Bela da Tarde" (Canal Brasil, 18h; 14 anos) é o melhor ou apenas um dos dois ou
três melhores filmes do espanhol Luis Buñuel.
Seria impossível, porque se
trata de um autor tão diversificado, tão amplo em suas preocupações, tão inovador e sempre tão insolente que fica difícil
destacar um momento de sua
obra contra outro.
Mas aqui entra Catherine
Deneuve. Uma espécie de loura
hitchcockiana (fria na aparência, ardente no íntimo) elevada
à quarta potência.
No filme, ela é fria com o marido, mas ardente com os homens, quase sempre animalescos, que encontra no bordel
que costuma frequentar. E o
marido é aquele tipo de rapaz
que toda mãe gostaria de ter
por genro.
O que vemos em cena é um
sonho, pode-se alegar. Mas, por
outro lado, talvez o desejo não
saiba distinguir sonhos e realidade. Ou ainda é possível que
sejam a mesma coisa. O certo é
que o desejo é um território de
obscuridade, que não pode ser
delimitado previamente.
"A Bela da Tarde" tem um
parentesco certo com a história
de "A Bela e a Fera", de que talvez seja a mais adequada versão para os anos 1960. Era uma
década que gostava de si mesma; a liberdade não queria
mais ser um fantasma -mas,
claro, tudo isso também era
uma forma de sonho.
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