São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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DANÇA
Misha acelera corações com "Heartbeat:MB"

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Neste fim-de-semana com importantes e concorridos espetáculos de dança em São Paulo, o principal destaque é Mikhail Baryshnikov, que se apresenta hoje e amanhã no Teatro Municipal, com ingressos esgotados nas bilheterias.
Quando subir ao palco para dançar "Heartbeat:MB", o bailarino russo deve acelerar não somente as batidas de seu coração, que, amplificadas, funcionam como uma espécie de trilha sonora.
Considerando as expectativas que a curta temporada de Misha vem gerando, é provável que os espectadores também lidem com os ritmos mais fortes de seus próprios corações.
Depois que a dança moderna rejeitou bailarinos-estrelas para cultuar coreógrafos, e à medida que o balé clássico deixou de produzir fenômenos, o status de superstar parece ter estacionado em Baryshnikov.
Mesmo que ele recuse esse título hoje em dia, seu nome ainda causa comoção. Principalmente no Brasil, onde circula com menos frequência, seus espetáculos acabam sendo, inevitavelmente, o centro das atenções.
As duas apresentações em São Paulo, hoje e amanhã, trazem Baryshnikov como o remanescente de uma era que não encontrou prolongamentos no final deste século. Ecoando em nomes como Nijinsky e Nureyev, Baryshnikov criou uma marca indestrutível, que ele vem sabendo usar com sabedoria. Ao contrário dos virtuoses clássicos que tentaram prolongar o exibicionismo técnico que se esvai com o tempo, Misha livrou-se do papel de príncipe para penetrar nas múltiplas possibilidades da dança moderna.
Com isso, ele chega a ser mais interessante agora, aos 50 anos, do que na época em que sua dança se resumia às pirotecnias técnicas.
Com os conhecimentos acumulados ao longo de experiências com os mais diversos coreógrafos, Baryshnikov hoje domina as nuanças, imprimindo densidade a cada gesto.
Com tal abertura, ele vem garantindo a longevidade de sua carreira. No início deste ano, poucos dias antes de completar 50 anos no mesmo dia em que Mozart aniversariava (27 de janeiro), ele estreou em Nova York o espetáculo solo que agora traz ao Brasil.
Dispensando a presença dos ótimos bailarinos de seu grupo, o White Oak Dance Project, expôs a maturidade que lhe permite interpretar diferentes propostas da criação contemporânea.
Além de "Heartbeat:MB", que ele mesmo coreografou em parceria com Sara Rudner, o programa que marca o cinquentenário de Misha inclui "Tryst", de Kraig Patterson, e excertos de coreografias de Jerome Robbins (1918-1998).
Com fôlego suficiente para sustentar um espetáculo completo, Mikhail Baryshnikov ainda revive, especialmente para o público brasileiro, um momento do espetáculo que ele apresentou só em Tóquio, em agosto passado, em parceria com um dos mestres do kabuki, Tamasaburo Bando.
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Espetáculo: Mikhail Baryshnikov Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 011/222-8698) Quanto: de R$ 20 a R$ 120 (esgotados)



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