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DANÇA
Misha acelera corações com "Heartbeat:MB"
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Neste fim-de-semana com importantes e concorridos espetáculos de dança em São Paulo, o principal destaque é Mikhail Baryshnikov, que se apresenta hoje e amanhã no Teatro Municipal, com ingressos esgotados nas bilheterias.
Quando subir ao palco para dançar "Heartbeat:MB", o bailarino
russo deve acelerar não somente as
batidas de seu coração, que, amplificadas, funcionam como uma espécie de trilha sonora.
Considerando as expectativas
que a curta temporada de Misha
vem gerando, é provável que os espectadores também lidem com os
ritmos mais fortes de seus próprios corações.
Depois que a dança moderna rejeitou bailarinos-estrelas para cultuar coreógrafos, e à medida que o
balé clássico deixou de produzir
fenômenos, o status de superstar
parece ter estacionado em Baryshnikov.
Mesmo que ele recuse esse título
hoje em dia, seu nome ainda causa
comoção. Principalmente no Brasil, onde circula com menos frequência, seus espetáculos acabam
sendo, inevitavelmente, o centro
das atenções.
As duas apresentações em São
Paulo, hoje e amanhã, trazem
Baryshnikov como o remanescente de uma era que não encontrou
prolongamentos no final deste século. Ecoando em nomes como Nijinsky e Nureyev, Baryshnikov
criou uma marca indestrutível,
que ele vem sabendo usar com sabedoria. Ao contrário dos virtuoses clássicos que tentaram prolongar o exibicionismo técnico que se
esvai com o tempo, Misha livrou-se do papel de príncipe para penetrar nas múltiplas possibilidades
da dança moderna.
Com isso, ele chega a ser mais interessante agora, aos 50 anos, do
que na época em que sua dança se
resumia às pirotecnias técnicas.
Com os conhecimentos acumulados ao longo de experiências
com os mais diversos coreógrafos,
Baryshnikov hoje domina as
nuanças, imprimindo densidade a
cada gesto.
Com tal abertura, ele vem garantindo a longevidade de sua carreira. No início deste ano, poucos
dias antes de completar 50 anos no
mesmo dia em que Mozart aniversariava (27 de janeiro), ele estreou
em Nova York o espetáculo solo
que agora traz ao Brasil.
Dispensando a presença dos ótimos bailarinos de seu grupo, o
White Oak Dance Project, expôs a
maturidade que lhe permite interpretar diferentes propostas da
criação contemporânea.
Além de "Heartbeat:MB", que ele
mesmo coreografou em parceria
com Sara Rudner, o programa que
marca o cinquentenário de Misha
inclui "Tryst", de Kraig Patterson,
e excertos de coreografias de Jerome Robbins (1918-1998).
Com fôlego suficiente para sustentar um espetáculo completo,
Mikhail Baryshnikov ainda revive,
especialmente para o público brasileiro, um momento do espetáculo que ele apresentou só em Tóquio, em agosto passado, em parceria com um dos mestres do kabuki, Tamasaburo Bando.
²
Espetáculo: Mikhail Baryshnikov
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nº; tel. 011/222-8698)
Quanto: de R$ 20 a R$ 120 (esgotados)
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