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Oasis fecha o 'milênio'
Reprodução
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A nova formação do Oasis, com os "novos" Andy Bell (no fundo, à esq.) e Gem (no fundo, à dir.); à frente, da esq. à dir., Noel Gallagher, Liam e Alan White |
da Redação
Uma série de quatro shows promovidos por rádios americanas marcou a volta da "difícil" banda inglesa Oasis à ativa,
depois de conturbado período que envolveu boatos de que o
grupo iria acabar, com o abandono de dois integrantes.
Com o remonte da banda, os irmãos Gallagher rumaram à
América com o novo álbum engatilhado e uma turnê mundial praticamente definida para o ano 2000 (Brasil incluído).
No último sábado, em Los Angeles, o Oasis foi a grande atração do festival que ficou conhecido como "O Último Grande
Show de Rock Antes do Ano 2000", apresentações que foram
conferidas pela Folha (veja texto nesta página).
Recentemente, o Oasis foi considerado o grupo dos 90,
em eleição com críticos e leitores da britânica "Q". E
Liam Gallagher ganhou, segundo diz a "edição do milênio" (como se o milênio não começasse em 2001) da "Q",
o título de melhor cantor da década.
Oasis esnoba, Beck é Jagger e 2000 chega frio
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
enviado especial a Los Angeles
Com o Oasis esnobando o público, Beck tomado pelo espírito
de Mick Jagger e o Bush tocando
muito alto, um elenco milionário
do pop/rock de língua inglesa fez
o último grande show antes do
ano 2000, no fim-de-semana passado em Los Angeles (Califórnia,
costa oeste dos EUA).
Estava lá praticamente todo
mundo que importa no cenário
do chamado rock "alternativo".
Além dos nomes já citados, tocaram Powerman 5000, Save Ferris, 311, Fiona Apple, Foo Fighters,
Tori Amos, Rob Zombie e Blink
182. O festival aconteceu no Arrowhead Pond, um estádio de hóquei a 65 km do centro de LA, para um público de 15 mil pessoas.
A reunião de artistas tão famosos só foi possível porque a noite
era promoção da KROQ, a rádio
de rock mais poderosa dos EUA.
Estações do país inteiro copiam o
formato e a programação da
KROQ, e banda nenhuma consegue sucesso nacional sem antes
seduzir os chefões de LA.
Resumindo o espírito da noite,
um dos vocalistas do Blink 182
agradeceu a executivos da rádio,
para depois emendar, ironicamente: "Isso se chama puxação de
saco empresarial".
Foi tudo assim, corporativo, eficiente. Só sucessos, tocados sem
invenções e rápido. Depois, cair
fora sem bis, porque os grupos se
apresentaram praticamente sem
intervalo.
O palco era giratório. Ao fim de
um show, um DJ da rádio chamava o grupo seguinte. O palco rodava e a outra banda já vinha tocando.
Dividido em apresentações de
meia hora, o concerto, chamado
"Natal Quase Acústico da
KROQ", começou pontualmente
às 18h.
Às 19h30, chegava ninguém menos que o Oasis, os donos da Inglaterra, que lotam estádios sem
parar em sua terra natal, mas não
conseguem explodir nos EUA.
Com perfeição fria e o costumeiro desdém pelo público, o
grupo liderado pelos irmãos Liam
e Noel Gallagher tocou cinco músicas, as mesmas que tem apresentado na atual turnê americana.
Abriram com"Cigarrettes and
Alcohol" (com pitadas de "Whole
Lotta Love", do Led Zeppelin), seguida de "Supersonic", "Wonderwall", "Champagne Supernova"
e, para encerrar, um cover de
"Helter Skelter", dos Beatles, cantado por Noel.
Foi também a estréia na Califórnia de dois novos músicos da banda, o baixista Andy Bell (ex-Ride)
e o guitarrista Gem (ex-Heavy
Stereo). Ambos não tiraram os
olhos de seus instrumentos, e nada mudaram no som da banda.
Liam acendeu um cigarro, depois jogou um pandeiro no chão
em "Champagne Supernova",
Noel fez mais solos que o habitual.
Em meia hora, o Oasis já tinha ido
embora.
O palco girou, e Fiona Apple
apareceu com suas canções lentas
sobre mulheres em desespero.
Passou rápido.
Depois, foi a vez dos Foo Fighters mostrarem seu pop movido a
guitarras. David Grohl, ex-baterista do Nirvana, lamentou que o
show fosse tão curto (cinco músicas, também em meia hora).
Destaque para a participação do
guitarrista Pat Smear, local de Los
Angeles, que já foi da banda e saiu
meio brigado. Tocaram sucessos
como "Monkey Wrench", "I'll
Stick Around" e "Learn to Fly".
Trinta minutos depois, Tori
Amos, de vestido preto curto e
pernas sempre abertas, abriu sua
apresentação com um cover de
"Smells Like Teen Spirit", o clássico do Nirvana. Tori se acompanha sozinha ao piano, o que dá
uma idéia de como ficou essa versão.
No fim, disse que gostaria de
mandar uma mensagem de Natal:
"Quero lembrar que Jesus não teria chegado à Terra se não fosse
por uma vagina".
Eram 21h32 (um dos apresentadores pediu desculpas pelo atraso
de dois minutos) quando Beck
começou a tocar, fazendo muito
barulho. São 11 pessoas no palco,
incluindo um baixista maluco
com capa de Drácula, duas vocalistas negras e um Beck que se
transformou numa cópia idêntica
do jovem Mick Jagger .
Usando calça verde de vinil
(com cordões nas laterais das pernas, de cima até embaixo) e camiseta de camuflagem, Beck fez o
que pôde para instilar algum ânimo na fria platéia angelena.
No repertório, tiros certos:
"New Pollution", "Novacane",
"Jack-Ass", "Devil's Haircut". As
versões foram muito mais pesadas do que em disco e, pelo empenho de Beck, que vira bicho quando sobe no palco, foi essa a melhor apresentação da noite.
Ainda são 22h10, mas já poderiam ser 24h, porque chegou o
momento de Rob Zombie, o homem que transformou filmes de
terror classe Z em rock and roll.
Os quatro músicos (Zombie incluído) entram vestidos de Papai
Noel. Já na primeira música, Rob
Zombie arranca o chapéu, e, de
sua cabeça, brotam dreadlocks gigantescas. Ele reclama da acústica, xinga o público, traz meninas
da platéia para simular strip-tease, sobe nas arquibancadas (pisando em algumas cabeças no
meio do caminho), joga uma garrafa cheia de sangue de mentira.
Só faltou se matar no palco, mas
o público não ligou muito.
A noite se aproxima do final, e
surge o trio Blink 182, moleques
de San Diego que são, nas letras e
no som, idênticos aos Mamonas
Assassinas. Na falta de outro nome, pode se dizer que fazem punk
para crianças de 12 anos (que,
aliás, compunham boa parte do
público). Todas as músicas tocam
sem parar no rádio.
Quase 23h, hora dos ingleses do
Bush, ídolos nos EUA com sua
fórmula de grunge sanitizado. O
vocalista Gavin Rossdale arranca
suspiros apaixonados, sai andando pelo meio da platéia, levanta
todo mundo com "Chemicals
Between Us", do disco novo.
O Bush consegue a proeza de tocar mais alto do que Rob Zombie,
mas não basta para espantar o sono da meninada. Quando o show
acaba, pelo menos metade da platéia já se foi. Está frio lá fora, Los
Angeles fica longe e cobertas confortáveis esperam, em casa, o público certinho da KROQ.
O jornalista Álvaro Pereira Júnior viajou a
Los Angeles a convite da Sony
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