São Paulo, Terça-feira, 14 de Dezembro de 1999


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Oasis fecha o 'milênio'

Reprodução
A nova formação do Oasis, com os "novos" Andy Bell (no fundo, à esq.) e Gem (no fundo, à dir.); à frente, da esq. à dir., Noel Gallagher, Liam e Alan White


da Redação

Uma série de quatro shows promovidos por rádios americanas marcou a volta da "difícil" banda inglesa Oasis à ativa, depois de conturbado período que envolveu boatos de que o grupo iria acabar, com o abandono de dois integrantes.
Com o remonte da banda, os irmãos Gallagher rumaram à América com o novo álbum engatilhado e uma turnê mundial praticamente definida para o ano 2000 (Brasil incluído). No último sábado, em Los Angeles, o Oasis foi a grande atração do festival que ficou conhecido como "O Último Grande Show de Rock Antes do Ano 2000", apresentações que foram conferidas pela Folha (veja texto nesta página).
Recentemente, o Oasis foi considerado o grupo dos 90, em eleição com críticos e leitores da britânica "Q". E Liam Gallagher ganhou, segundo diz a "edição do milênio" (como se o milênio não começasse em 2001) da "Q", o título de melhor cantor da década.

Oasis esnoba, Beck é Jagger e 2000 chega frio

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
enviado especial a Los Angeles

Com o Oasis esnobando o público, Beck tomado pelo espírito de Mick Jagger e o Bush tocando muito alto, um elenco milionário do pop/rock de língua inglesa fez o último grande show antes do ano 2000, no fim-de-semana passado em Los Angeles (Califórnia, costa oeste dos EUA).
Estava lá praticamente todo mundo que importa no cenário do chamado rock "alternativo".
Além dos nomes já citados, tocaram Powerman 5000, Save Ferris, 311, Fiona Apple, Foo Fighters, Tori Amos, Rob Zombie e Blink 182. O festival aconteceu no Arrowhead Pond, um estádio de hóquei a 65 km do centro de LA, para um público de 15 mil pessoas.
A reunião de artistas tão famosos só foi possível porque a noite era promoção da KROQ, a rádio de rock mais poderosa dos EUA. Estações do país inteiro copiam o formato e a programação da KROQ, e banda nenhuma consegue sucesso nacional sem antes seduzir os chefões de LA.
Resumindo o espírito da noite, um dos vocalistas do Blink 182 agradeceu a executivos da rádio, para depois emendar, ironicamente: "Isso se chama puxação de saco empresarial".
Foi tudo assim, corporativo, eficiente. Só sucessos, tocados sem invenções e rápido. Depois, cair fora sem bis, porque os grupos se apresentaram praticamente sem intervalo.
O palco era giratório. Ao fim de um show, um DJ da rádio chamava o grupo seguinte. O palco rodava e a outra banda já vinha tocando.
Dividido em apresentações de meia hora, o concerto, chamado "Natal Quase Acústico da KROQ", começou pontualmente às 18h.
Às 19h30, chegava ninguém menos que o Oasis, os donos da Inglaterra, que lotam estádios sem parar em sua terra natal, mas não conseguem explodir nos EUA.
Com perfeição fria e o costumeiro desdém pelo público, o grupo liderado pelos irmãos Liam e Noel Gallagher tocou cinco músicas, as mesmas que tem apresentado na atual turnê americana.
Abriram com"Cigarrettes and Alcohol" (com pitadas de "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin), seguida de "Supersonic", "Wonderwall", "Champagne Supernova" e, para encerrar, um cover de "Helter Skelter", dos Beatles, cantado por Noel.
Foi também a estréia na Califórnia de dois novos músicos da banda, o baixista Andy Bell (ex-Ride) e o guitarrista Gem (ex-Heavy Stereo). Ambos não tiraram os olhos de seus instrumentos, e nada mudaram no som da banda.
Liam acendeu um cigarro, depois jogou um pandeiro no chão em "Champagne Supernova", Noel fez mais solos que o habitual. Em meia hora, o Oasis já tinha ido embora.
O palco girou, e Fiona Apple apareceu com suas canções lentas sobre mulheres em desespero. Passou rápido.
Depois, foi a vez dos Foo Fighters mostrarem seu pop movido a guitarras. David Grohl, ex-baterista do Nirvana, lamentou que o show fosse tão curto (cinco músicas, também em meia hora).
Destaque para a participação do guitarrista Pat Smear, local de Los Angeles, que já foi da banda e saiu meio brigado. Tocaram sucessos como "Monkey Wrench", "I'll Stick Around" e "Learn to Fly".
Trinta minutos depois, Tori Amos, de vestido preto curto e pernas sempre abertas, abriu sua apresentação com um cover de "Smells Like Teen Spirit", o clássico do Nirvana. Tori se acompanha sozinha ao piano, o que dá uma idéia de como ficou essa versão.
No fim, disse que gostaria de mandar uma mensagem de Natal: "Quero lembrar que Jesus não teria chegado à Terra se não fosse por uma vagina".
Eram 21h32 (um dos apresentadores pediu desculpas pelo atraso de dois minutos) quando Beck começou a tocar, fazendo muito barulho. São 11 pessoas no palco, incluindo um baixista maluco com capa de Drácula, duas vocalistas negras e um Beck que se transformou numa cópia idêntica do jovem Mick Jagger .
Usando calça verde de vinil (com cordões nas laterais das pernas, de cima até embaixo) e camiseta de camuflagem, Beck fez o que pôde para instilar algum ânimo na fria platéia angelena.
No repertório, tiros certos: "New Pollution", "Novacane", "Jack-Ass", "Devil's Haircut". As versões foram muito mais pesadas do que em disco e, pelo empenho de Beck, que vira bicho quando sobe no palco, foi essa a melhor apresentação da noite.
Ainda são 22h10, mas já poderiam ser 24h, porque chegou o momento de Rob Zombie, o homem que transformou filmes de terror classe Z em rock and roll.
Os quatro músicos (Zombie incluído) entram vestidos de Papai Noel. Já na primeira música, Rob Zombie arranca o chapéu, e, de sua cabeça, brotam dreadlocks gigantescas. Ele reclama da acústica, xinga o público, traz meninas da platéia para simular strip-tease, sobe nas arquibancadas (pisando em algumas cabeças no meio do caminho), joga uma garrafa cheia de sangue de mentira.
Só faltou se matar no palco, mas o público não ligou muito.
A noite se aproxima do final, e surge o trio Blink 182, moleques de San Diego que são, nas letras e no som, idênticos aos Mamonas Assassinas. Na falta de outro nome, pode se dizer que fazem punk para crianças de 12 anos (que, aliás, compunham boa parte do público). Todas as músicas tocam sem parar no rádio.
Quase 23h, hora dos ingleses do Bush, ídolos nos EUA com sua fórmula de grunge sanitizado. O vocalista Gavin Rossdale arranca suspiros apaixonados, sai andando pelo meio da platéia, levanta todo mundo com "Chemicals Between Us", do disco novo.
O Bush consegue a proeza de tocar mais alto do que Rob Zombie, mas não basta para espantar o sono da meninada. Quando o show acaba, pelo menos metade da platéia já se foi. Está frio lá fora, Los Angeles fica longe e cobertas confortáveis esperam, em casa, o público certinho da KROQ.


O jornalista Álvaro Pereira Júnior viajou a Los Angeles a convite da Sony


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