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TEATRO
Diretor estréia peça de Apuleio
Paroni encena metáfora dos excluídos na Escócia
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos clássicos da literatura
greco-romana, "O Asno de Ouro", do escritor Apuleio (125-170
d.C.), serve como metáfora teatral
para refletir a relação exploradores-explorados no mundo contemporâneo.
A perspectiva é adotada pelo diretor brasileiro Maurício Paroni
de Castro, que adaptou o título
para "O Jegue de Ouro", em português, e estréia a montagem hoje
no Tron Theatre, em Glasgow, na
Escócia, com a companhia local
Suspect Culture. Paroni assina a
direção com Graham Eatough.
Português, latim, italiano e inglês: os personagens se expressam
em várias línguas. Castro, que
vem de mais de uma década
atuando no Centro di Ricerca per
il Teatro (CRT), em Milão, revezando com montagens brasileiras, como a recente "Restos Humanos Não-Identificados - A
Verdadeira Natureza do Amor",
no Rio, recorre à desterritorialização das línguas para expor as contradições que permeiam os 11 capítulos da obra de Apuleio.
"A época de Apuleio, no século
2 depois de Cristo, representava o
máximo da expansão do Império
Romano, que não permitia a propagação do latim", afirma Paroni,
38. "Hoje, o português também é
uma língua periférica diante do
império norte-americano, do domínio do inglês por meio da Internet, por exemplo."
Em "O Jegue de Ouro", o protagonista Lúcio (interpretado pelo
ator italiano Sérgio Romano) tem
dificuldades para comunicar seus
sentimentos na língua oficial,
"um mecanismo de exclusão".
Burro ou jegue, não é por acaso
que o título alude aos animais estigmatizados pela submissão. Os
quadros são costurados pelo protagonista que, graças a uma feitiçaria, perdeu sua condição humana e se tornou um quadrúpede.
Lúcio queria se transformar em
coruja, para viajar e encontrar a
terra das magias, mas uma troca
entre os potes de unguentos resultou na metamorfose indesejada.
O que em princípio não o preocuparia (bastava-lhe comer pétalas
de rosas para voltar a ser o que
era) descambou para uma verdadeira comédia de erros.
Recolhido em uma estrebaria,
logo após a transformação, o jegue e outros dois animais são levados por bandidos que matam
seu dono. A aventura culminará
em narrativas como a do Amor e
Psiquê, matriz de fábulas que
atravessaria os séculos.
A estrutura cenográfica do espetáculo é formada por sucatas, a
partir de material recolhido nas
ruas por jovens e idosos integrados aos Gorgals Community, órgãos do governo voltados para a
população carente.
Participam do projeto o pintor
italiano Gianpaolo Kohler, a designer italiana Laura Trevisan, o
músico escocês Nick Powell, a assistente social escocesa Sarah Eatough e a tradutora brasileira
Sylvia Soares. A temporada é curta, até o próximo dia 23. Paroni
quer trazer o espetáculo para o
Brasil em 2001.
(VALMIR SANTOS)
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