São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2000

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Justiça condena filme de Bruno Barreto

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A Justiça do Rio condenou as produtoras do filme "O Que É Isso, Companheiro?" -Produções Cinematográficas L.C.Barreto e Filmes do Equador Ltda.- a indenizar por danos morais a família de Virgílio Gomes da Silva, ex-guerrilheiro da ALN (Ação Libertadora Nacional) conhecido pelo codinome Jonas.
O valor da indenização foi arbitrado em mil salários mínimos (R$ 151 mil). O roteirista do filme, Leopoldo Serran, foi condenado na mesma indenização. A decisão foi do juiz da 34ª Vara Cível, Marcos Alcino de Azevedo Torres, e admite recurso.
Para conceder a indenização, o juiz acatou duas teses da defesa: a de que Silva foi retratado no filme como o personagem Jonas; e a de que esse personagem, com atitudes e conduta inadequadas, desrespeita a imagem do guerrilheiro real.
Baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, "O Que É Isso, Companheiro?", dirigido por Bruno Barreto, relata o sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 1969. A obra concorreu em 98 ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 97.
Assim como o personagem, Silva foi o comandante da operação. Silva foi preso em setembro do mesmo ano e morreu sob tortura em São Paulo. Está na lista de desaparecidos políticos.
"Extrapolaram os réus os limites do razoável, imputando à história do parente dos autores conduta inadequada, maculando sua imagem perante o público e perante seus familiares, praticando o que se tipifica como abuso do direito", afirma o juiz.
O advogado da família de Silva, André Martins, disse que um trecho do filme, em especial, irritou e magoou seus clientes: o momento em que Jonas troca os turnos de vigilância dos guerrilheiros sobre o embaixador. Com isso, o personagem Paulo teria a tarefa de matar o sequestrado, caso o governo não cumprisse as exigências dos guerrilheiros. "Uma pessoa que faz isso, em qualquer lugar do mundo, é um mau-caráter, e a família de Virgílio não aceita isso", disse o advogado.
O advogado das produtoras do filme, Marcelo Trindade, disse que irá recorrer da decisão do juiz, classificada por ele como "descabida". Segundo ele, o filme é uma obra de ficção, e o personagem Jonas não é Virgílio Gomes da Silva, mas uma fusão de várias pessoas.
"A melhor forma de comentar uma sentença é no recurso, mas quero dizer que discordamos dessa decisão. É impossível uma obra de ficção causar dano à imagem de alguém", afirmou.
O advogado de Serran, Cláudio Amaral, foi procurado pela Folha em seu escritório, mas uma funcionária informou que ele estava ocupado e não poderia atender.


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