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LIVROS/LANÇAMENTOS
RESGATE
"Cabeça de Negro" e "Cabeça de Papel" são relançados pela editora W11
Paulo Francis reexamina o Brasil em dois romances
MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há Paulo Hesse e Hugo Mann,
os personagens. E Paulo Francis,
o autor. E, sobretudo, há um Brasil em estado de choque em "Cabeça de Papel" e "Cabeça de Negro", dois romances do jornalista
Francis que retornam agora às livrarias com o desejo de mostrar
que, na sociedade brasileira, a realidade é apenas um estágio posterior da ficção.
"Os livros são de uma atualidade imensa. Quando começamos a
releitura dos romances, o que se
mostrou mais evidente foi o caráter visionário do texto", diz o editor Wagner Carelli, que faz de
Paulo Francis a grande atração da
W11, uma editora criada por ele e
pela jornalista Sonia Nolasco.
Paulo Francis -um dos mais
influentes jornalistas brasileiros
da segunda metade do século 20,
morto em 1997, em Nova York,
aos 66 anos- não é, para a W11,
apenas um autor, mas uma determinante referência.
"Uma visão e espírito para a editora", diz Carelli, que, ao lado de
Nolasco (viúva do escritor), pretende relançar toda a obra de
Francis. Não apenas seus romances ou artigos, mas também a crítica produzida por ele, além de reportagens e ensaios.
"Sua produção foi imensa; textos e encontros fantásticos, como
as entrevistas feitas por ele", diz
Carelli. "Acho necessária a reedição para que Francis não fique
apenas nas mãos dos detratores."
O início do projeto se dá então
com os romances. "Cabeça de Papel" foi originalmente editado em
1977, e Francis, no livro, passa seu
universo em revista: a elite carioca, os intelectuais marxistas, a imprensa e sua geração. Como cenário, o Brasil sob o regime militar e
uma ainda silenciosa luta de classes, que no romance é anunciada
como uma guerra civil.
Francis apresenta, nesse primeiro volume do que se imaginou ser
uma trilogia (o livro final nunca
foi publicado), Hugo Mann -o
narrador, um crítico de cinema
desiludido com suas crenças
trotskistas- e Paulo Hesse, editor em "um jornal conservador".
Trata-se de um romance de
idéias, e os diálogos entre esses
personagens são uma longa e niilista conversa sobre um país em
dissolução, desarticulado e delirante: "Nosso mundo é insano e
corrupto, não importa o ângulo
de visão", diz Hugo Mann.
"Cabeça de Negro", escrito em
Nova York, em 1979, dá um passo
além. O que era debatido no primeiro livro, aqui se torna um pesadelo sem interrupção. Ele descobre uma explosiva decadência
social: "Estacionaram no dinheiro. Não é novo riquismo apenas. É
mentalidade de assaltante de estrada". Para Paulo Hesse, Hugo
Mann e Paulo Francis, um mais
do que possível retrato do Brasil.
CABEÇA DE PAPEL.
Autor: Paulo Francis.
Editora: W11.
Quanto: R$ 29 (240 págs.)
CABEÇA DE NEGRO.
Autor: Paulo Francis.
Editora: W11.
Quanto: R$ 32 (280 págs.)
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