São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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LIVROS/LANÇAMENTOS

RESGATE

"Cabeça de Negro" e "Cabeça de Papel" são relançados pela editora W11

Paulo Francis reexamina o Brasil em dois romances

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Há Paulo Hesse e Hugo Mann, os personagens. E Paulo Francis, o autor. E, sobretudo, há um Brasil em estado de choque em "Cabeça de Papel" e "Cabeça de Negro", dois romances do jornalista Francis que retornam agora às livrarias com o desejo de mostrar que, na sociedade brasileira, a realidade é apenas um estágio posterior da ficção.
"Os livros são de uma atualidade imensa. Quando começamos a releitura dos romances, o que se mostrou mais evidente foi o caráter visionário do texto", diz o editor Wagner Carelli, que faz de Paulo Francis a grande atração da W11, uma editora criada por ele e pela jornalista Sonia Nolasco.
Paulo Francis -um dos mais influentes jornalistas brasileiros da segunda metade do século 20, morto em 1997, em Nova York, aos 66 anos- não é, para a W11, apenas um autor, mas uma determinante referência.
"Uma visão e espírito para a editora", diz Carelli, que, ao lado de Nolasco (viúva do escritor), pretende relançar toda a obra de Francis. Não apenas seus romances ou artigos, mas também a crítica produzida por ele, além de reportagens e ensaios.
"Sua produção foi imensa; textos e encontros fantásticos, como as entrevistas feitas por ele", diz Carelli. "Acho necessária a reedição para que Francis não fique apenas nas mãos dos detratores."
O início do projeto se dá então com os romances. "Cabeça de Papel" foi originalmente editado em 1977, e Francis, no livro, passa seu universo em revista: a elite carioca, os intelectuais marxistas, a imprensa e sua geração. Como cenário, o Brasil sob o regime militar e uma ainda silenciosa luta de classes, que no romance é anunciada como uma guerra civil.
Francis apresenta, nesse primeiro volume do que se imaginou ser uma trilogia (o livro final nunca foi publicado), Hugo Mann -o narrador, um crítico de cinema desiludido com suas crenças trotskistas- e Paulo Hesse, editor em "um jornal conservador".
Trata-se de um romance de idéias, e os diálogos entre esses personagens são uma longa e niilista conversa sobre um país em dissolução, desarticulado e delirante: "Nosso mundo é insano e corrupto, não importa o ângulo de visão", diz Hugo Mann.
"Cabeça de Negro", escrito em Nova York, em 1979, dá um passo além. O que era debatido no primeiro livro, aqui se torna um pesadelo sem interrupção. Ele descobre uma explosiva decadência social: "Estacionaram no dinheiro. Não é novo riquismo apenas. É mentalidade de assaltante de estrada". Para Paulo Hesse, Hugo Mann e Paulo Francis, um mais do que possível retrato do Brasil.


CABEÇA DE PAPEL.
Autor: Paulo Francis.
Editora: W11.
Quanto: R$ 29 (240 págs.)

CABEÇA DE NEGRO.
Autor: Paulo Francis.
Editora: W11.
Quanto: R$ 32 (280 págs.)



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