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LIVRO/LANÇAMENTO
"LINHAGENS DO PRESENTE"
Aijaz Ahmad considera o movimento estético um mero reflexo ideológico do imperialismo
Marxista indiano ataca o pós-modernismo
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Alto nível o professor de
Nova Déli, conhecedor da
tradição ocidental, mas entronizado na cultura indiana, o que deveria para nós ser objeto de meditação, inclusive porque Aijaz Ahmad está antenado em nós.
A colonização européia da Índia
só foi possível graças à riqueza
roubada da América Latina; todavia, o autor não curte o conceito
de Terceiro Mundo, assim como a
idéia de uma literatura Terceiro
Mundo. Sobressai a diferença para quem é familiarizado com nossa tradição terceiromundista, a
exemplo de um Glauber Rocha.
Ao contrário daqui, onde nascemos coloniais, lá na Índia o terceiromundismo é um dispositivo
para esvaziar a noção de classe, de
colônia e de Império.
O mais interessante desse livro,
cujo autor é um tipo de José Guilherme Merquior de esquerda da
Índia, é a crítica arrasadora ao
pós-modernismo como "um estilo cultural norte-americano".
Ahmad não tem papas na língua: o problema da humanidade é
o imperialismo. Seu reflexo ideológico é o pós-modernismo, que
decreta a morte do marxismo, do
socialismo e do nacionalismo. Ou
seja: Marx está morto, assim como o Estado-Nação, o que conta é
o prazer do texto e o jogo do significante, o que corresponde à aprovação do capitalismo por este oferecer o gozo dos bens e serviços. O
Deus mercado.
É a chamada crise do sujeito. A
apoteose da impotência. O fim da
história. Não mais terá sentido
"falar de origens, coletividades,
projetos históricos determinados". Nesse esquema, os teóricos
da pós-modernidade são os viajantes: os "traveling theorists".
Para esses tripiteóricos erráticos, é estupidez atribuir papel histórico para a classe operária. É a
voga do desconstrutivismo, onde
a exorbitação da linguagem passa
a ser o demiurgo da história. A
pós-modernidade é a cachaça dos
"homens de letras", incrustados
em departamentos de teoria literária que rezam o fetichismo do
estruturalismo grafocrático.
Eis a genealogia da pós-modernidade segundo Ahmad: Lévi-Strauss virando moda intelectual
parisiense por meter o sarrafo no
historicismo de Sartre. De lá para
cá, Foucault, Derrida, Lyotard,
Glucksmann, Deleuze, Gattari,
Barthes, Paul de Man e Harold
Boom. Não só em Nova Déli esses
autores arrebentam a boca do balão acadêmico. Com certeza eles
estão na crista da onda em Pequim ou em Quixeramobim.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)
Linhagens do Presente
Autor: Aijaz Ahmad
Editora: Boitempo Editorial
Quanto: R$ 38 (287 págs.)
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