São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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ANÁLISE

Indicações abrem caminho de Meirelles rumo ao Oscar

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é ciência exata e as estatísticas pouco valem nessa hora, mas as indicações dadas a "O Jardineiro Fiel" pelos 90 membros da Hollywood Foreign Press Association (a HFPA, Associação dos Críticos Estrangeiros de Hollywood, uma espécie de Academia Brasileira de Letras de Hollywood) devem ajudar a abrir o caminho de Fernando Meirelles rumo a uma das cinco vagas de melhor diretor no Oscar 2006.
Primeiro porque o Globo de Ouro, que anuncia e premia antes de o Oscar anunciar seus indicados, funciona como um termômetro mais político e liberal que seu primo rico. Ainda assim, aponta tendências, indica caminhos que os 6.000 votantes da premiação da indústria podem seguir (em 2004, alguns ganhadores das categorias principais foram repetidos pelo Oscar).
Segundo porque este é um ano sem favoritos. O drama que recebeu mais indicações, o western gay "Brokeback Mountain", uma belíssima história de amor filmada pelo taiwanês-americano homossexual Ang Lee a partir de um conto publicado pela revista "The New Yorker", talvez seja "pesado" demais para galvanizar votos no Oscar. Afinal, é baseado não só num relacionamento entre dois caubóis como sugere uma cena de sexo entre eles.
E o Oscar é prêmio da indústria, não da crítica, como o Globo. Ainda assim, vale destacar o quão política é a cédula deste ano. Além do western citado, há a biografia de um jornalista abertamente homossexual e alcoólatra, que não foi redimido pela vida no final (diferentemente de "Ray"), como é "Capote"; há o excelente "Syriana", que pretende ser para a indústria do petróleo sua intersecção com a política externa norte-americana, especialmente no Oriente Médio, o que "Traffic" foi para a indústria das drogas ilegais -não é por acaso que o diretor daquele é o roteirista deste.
E o próprio "O Jardineiro Fiel", de Meirelles, um dos grandes filmes do ano, que vai mais fundo do que o livro de John LeCarré em que é baseado ao colocar a história de amor como pano de fundo para as denúncias da indústria farmacêutica mundial.
Meirelles está em briga de cachorro grande: além de Ang Lee e George Clooney (que dirige "Good Night, and Good Luck"), terá de enfrentar Woody Allen por "Match Point", que dizem ser seu melhor em décadas, o mamute (11 Oscars no ano passado, 17 no total) Peter Jackson por "King Kong" e Steven Spielberg por "Munique".
De resto, a partir da lição dada pelas indicações do Globo de Ouro, Holywood pode surpreender e ir para a briga. Ou fugir pela direita, pela porta do escapismo, exaltando filmes bem-feitos e bons no que se propõem, como "King Kong", e o catequismo de "As Crônicas de Nárnia".


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