|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Indicações abrem caminho de Meirelles rumo ao Oscar
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é ciência exata e as estatísticas pouco valem nessa
hora, mas as indicações dadas a
"O Jardineiro Fiel" pelos 90 membros da Hollywood Foreign Press
Association (a HFPA, Associação
dos Críticos Estrangeiros de
Hollywood, uma espécie de Academia Brasileira de Letras de
Hollywood) devem ajudar a abrir
o caminho de Fernando Meirelles
rumo a uma das cinco vagas de
melhor diretor no Oscar 2006.
Primeiro porque o Globo de
Ouro, que anuncia e premia antes
de o Oscar anunciar seus indicados, funciona como um termômetro mais político e liberal que
seu primo rico. Ainda assim,
aponta tendências, indica caminhos que os 6.000 votantes da premiação da indústria podem seguir (em 2004, alguns ganhadores
das categorias principais foram
repetidos pelo Oscar).
Segundo porque este é um ano
sem favoritos. O drama que recebeu mais indicações, o western
gay "Brokeback Mountain", uma
belíssima história de amor filmada pelo taiwanês-americano homossexual Ang Lee a partir de um
conto publicado pela revista "The
New Yorker", talvez seja "pesado"
demais para galvanizar votos no
Oscar. Afinal, é baseado não só
num relacionamento entre dois
caubóis como sugere uma cena de
sexo entre eles.
E o Oscar é prêmio da indústria,
não da crítica, como o Globo. Ainda assim, vale destacar o quão política é a cédula deste ano. Além
do western citado, há a biografia
de um jornalista abertamente homossexual e alcoólatra, que não
foi redimido pela vida no final (diferentemente de "Ray"), como é
"Capote"; há o excelente "Syriana", que pretende ser para a indústria do petróleo sua intersecção com a política externa norte-americana, especialmente no
Oriente Médio, o que "Traffic" foi
para a indústria das drogas ilegais
-não é por acaso que o diretor
daquele é o roteirista deste.
E o próprio "O Jardineiro Fiel",
de Meirelles, um dos grandes filmes do ano, que vai mais fundo
do que o livro de John LeCarré em
que é baseado ao colocar a história de amor como pano de fundo
para as denúncias da indústria
farmacêutica mundial.
Meirelles está em briga de cachorro grande: além de Ang Lee e
George Clooney (que dirige
"Good Night, and Good Luck"),
terá de enfrentar Woody Allen
por "Match Point", que dizem ser
seu melhor em décadas, o mamute (11 Oscars no ano passado, 17
no total) Peter Jackson por "King
Kong" e Steven Spielberg por
"Munique".
De resto, a partir da lição dada
pelas indicações do Globo de Ouro, Holywood pode surpreender e
ir para a briga. Ou fugir pela direita, pela porta do escapismo, exaltando filmes bem-feitos e bons no
que se propõem, como "King
Kong", e o catequismo de "As
Crônicas de Nárnia".
Texto Anterior: "Sinto-me como um jogador de futebol" Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|