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TV/ANÁLISE
"Direito de Resposta" defende direito à diferença
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A idéia de direitos humanos
surgiu no século 18; uma
idéia inovadora baseada em uma
abstração: a de que somos todos
iguais.
"Eu" "sou" "diferente" era o
bordão pronunciado por partes,
sucessivamente, por pessoas anônimas, em um clipe transmitido
durante um dos intervalos da primeira edição de "Direito de Resposta". Como um grito de guerra,
a frase sintetiza o espírito da coisa.
"Direito de Resposta" é um programa inédito, produzido pelo
Ministério Público Federal e seis
ONGs de defesa de direitos humanos e direitos dos homossexuais.
O programa tem ido ao ar diariamente, às 16h, na Rede TV!, desde
segunda, e seguirá até 20 de janeiro. A série resulta de acordo que
pôs fim à ação civil pública movida por ONGs que pediam a cassação da concessão da emissora em
decorrência da pregação agressiva do apresentador João Kleber,
no, ao que parece, finado "Tarde
Quente".
Por determinação judicial, o canal chegou a ficar sem sinal em
São Paulo por 25 horas. Como
parte do acordo, a emissora financia os programas.
A ação é rara. Nos jornais a prática é corrente. Na TV, na seara da
política partidária, há ocorrências
conhecidas. No âmbito dos costumes, houve muita ação da censura -que procurou, sem muito
sucesso, conter a liberalização
crescente da sensualidade.
Recentemente o apresentador
do SBT Gugu Liberato foi punido
em razão de difusão de informações falsas. Essa é provavelmente
a primeira vez que um programa
é suspenso por perseguir direitos
à diferença garantidos por lei.
Na forma, o programa segue o
padrão básico da TV: o acento na
palavra carrega o conteúdo. Há
uma preponderância jovem na
equipe, que se traduz em opções
de enquadramento e edição.
A apresentação é da simpática,
bonita e arguta Anelis Assumpção, do "Atitude.com" (TV Cultura). Na segunda-feira, ela animou
a conversa de dois convidados, o
jurista Oscar Vilhena e o escritor
Ferrez, do Capão Redondo.
Em determinados momentos,
entra o quadro "TELE-VISÃO",
apresentado por Soninha Francine, numa bem-vinda retomada de
suas origens televisivas. Como
que para compensar a aridez do
assunto, ela enfatiza a dicção clara
e pausada das idéias básicas, como a luta contra a criminalidade
nos meios de comunicação.
Nos intervalos, animações curtas, produzidas por ONGs e/ou
produtoras independentes que
atenderam ao chamado, trazem
um certo respiro.
A diversidade promete crescer
ao longo da temporada de resposta. O programa de abertura tratou
de abrir um leque amplo de assuntos que cabem dentro de uma
avaliação geral dos avanços e
pontos fracos na conquista dos
mais diversos direitos humanos
no Brasil.
Dentre os temas anunciados para a primeira semana estão a comunicação, a diversidade sexual e
a questão racial.
Diante da possibilidade da moda pegar, há notícias de que a TV
Record e a Rede Mulher, acusadas
em ação semelhante, estariam
processando o Ministério Público
por "conduta desrespeitosa de
magistrados em sessões de julgamento".
O desafio para o grupo de admiráveis combatentes que levou a
ação à frente é deixar fluir a criação.
Está mais do que na hora das
emissoras que não o fazem justificarem as concessões públicas que
exploram. Não há nada de complicado nisso, basta pensar duas
vezes antes de produzir programas baratos que bebam exclusivamente no discurso ofensivo.
Esther Hamburger, antropóloga e professora da ECA-USP
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