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MÚSICA
Rapper se apresenta hoje no CIE Music Hall e sexta-feira no Circo Voador, acompanhado por produtor e DJ Doo Wop
Guru canta casamento entre jazz e rap em SP
LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
O ano é 1989. As notícias são
quentes no planeta hip hop: o comitê do Grammy decide criar
uma categoria de premiação para
o rap, a MTV estréia um programa dedicado exclusivamente ao
gênero, e o grupo De La Soul lança
seu primeiro disco, "3 Feet High
and Rising", apontando uma terceira via no ambiente inflamado
incitado pelo discurso engajado
do Public Enemy e os tiros e mortes narrados pelos pais do gangsta
rap, o grupo N.W.A.
É nesse cenário que dão as caras
pela primeira vez o rapper Guru e
o DJ Premier, sob o nome Gang
Starr e as bênçãos do jazz.
Filho do primeiro juiz negro de
Boston, Guru, garoto de classe
média criado em Nova York, faz
único show hoje, em São Paulo,
no CIE Music Hall; na sexta, apresenta-se no Circo Voador, no Rio.
O rapper, uma das metades do
Gang Starr -um dos grupos
mais importantes do hip hop nos
anos 90- foi, ao lado de Premier,
um dos primeiros a difundir a
mistura de jazz com rap.
Após 16 anos de parceria e sete
discos na praça, o duo não existe
mais. Em entrevista por telefone,
de Los Angeles, Guru contou à
Folha que a parceria acabou depois de uma desavença entre ele e
o DJ -boatos recentes na mídia
especializada americana davam
conta do contrário.
"Premier foi desleal. Há um cara
por aí dizendo que é o Young Guru, copiando meu nome, e Premier disse publicamente que não
via problema nisso. Além do
mais, já atingi meus objetivos
com o Gang Starr", disse.
É esse novo Guru, que afirma
não ver muita originalidade no
hip hop de hoje, que vem a São
Paulo pela segunda vez -a primeira foi em 94, no extinto Free
Jazz Festival.
Aos 39 anos, o rapper pede para
avisar que não vive no passado. É
apenas o recém-lançado disco
"Version 7.0 -°The Street Scriptures" que lhe interessa, além da nova parceria com o nova-iorquino
Solar -nenhuma relação com o
MC francês Solaar-, a quem Guru chama de "visionário, o produtor mais quente de Nova York".
Mas outras coisas também lhe
interessam. Vide a temática das
novas rimas: "Poder, dinheiro e
influência, eu senti o gostinho disso, agora estou nessa de verdade".
"É a minha vez de ser recompensado pelo meu trabalho", justifica.
Guru vem acompanhado por
Solar, que ao vivo atua como MC
de apoio, e pelo DJ Doo Wop. Os
shows em São Paulo e no Rio terão pelo menos uma hora e meia
de duração, ele promete, e serão
um pot-pourri de hits do Gang
Starr, do projeto Jazzmatazz e de
músicas do novo disco.
Na segunda-feira, em apresentação para convidados no clube
Na Mata, em São Paulo, o MC
mostrou a barriga malhada, falou
mal do outro Guru, o Young, e
testou músicas novas, como a que
contém sample de "Live and Let
Die", canção de Paul McCartney e
Wings que ficou famosa na voz de
Axl, do Guns'n'Roses -aliás, de
samples com referências de jazz a
hits que fizeram a fama do
Guns'n'Roses há um longo caminho, que ilustra perfeitamente a
trajetória que o MC deseja seguir.
Improviso em comum
A conversa entre o jazz e o rap já
rendeu outros prolíficos frutos.
Além dos sete discos do Gang
Starr e três do projeto Jazzmatazz, mais grupos de hip hop se valeram de standards para adornar suas rimas.
Steatsonic, no final dos anos 80,
fazia jazz rap ao vivo com levada
jazzística, assim como The Roots,
que um pouco mais tarde pavimentou o caminho do rap tocado
com banda.
Na base dos samples, há ainda
Digable Planets, US3, Jungle Brothers, A Tribe Called Quest, De La
Soul.
"Em princípio podem parecer
gêneros díspares, mas há muito
em comum entre o jazz e o hip
hop. Ambos se utilizam do improviso, o jazz na parte instrumental, o rap na vocal", diz Guru.
Segundo Guru, o quarto disco
do projeto Jazzmatazz deve ser
lançado em junho de 2006, desta
vez com participações de George
Benson e Black Eye Peas.
Se vingar, o álbum será a segunda empreitada do selo 7 Grand
Records (a primeira é o disco
"Version 7.0"), tentativa de Guru
e Solar de se dar bem no mercado,
obter poder, dinheiro e influência, e tirar sua lasquinha do rentável bolo do rap americano, agora
por seus próprios meios.
Guru
Quando: hoje, a partir das 21h30
Onde: CIE Music Hall (av. Jamaris, 213,
Moema, SP, tel. 0/xx/11/6846-6040)
Quanto: de R$ 70 a R$ 100
Quando: sexta, a partir das 21h30
Onde: Circo Voador (r. dos Arcos, s/nš,
Lapa, Rio, tel. 0/xx/21/2533-0354)
Quanto: R$ 30
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