São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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MÚSICA

Rapper se apresenta hoje no CIE Music Hall e sexta-feira no Circo Voador, acompanhado por produtor e DJ Doo Wop

Guru canta casamento entre jazz e rap em SP

LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

O ano é 1989. As notícias são quentes no planeta hip hop: o comitê do Grammy decide criar uma categoria de premiação para o rap, a MTV estréia um programa dedicado exclusivamente ao gênero, e o grupo De La Soul lança seu primeiro disco, "3 Feet High and Rising", apontando uma terceira via no ambiente inflamado incitado pelo discurso engajado do Public Enemy e os tiros e mortes narrados pelos pais do gangsta rap, o grupo N.W.A.
É nesse cenário que dão as caras pela primeira vez o rapper Guru e o DJ Premier, sob o nome Gang Starr e as bênçãos do jazz.
Filho do primeiro juiz negro de Boston, Guru, garoto de classe média criado em Nova York, faz único show hoje, em São Paulo, no CIE Music Hall; na sexta, apresenta-se no Circo Voador, no Rio.
O rapper, uma das metades do Gang Starr -um dos grupos mais importantes do hip hop nos anos 90- foi, ao lado de Premier, um dos primeiros a difundir a mistura de jazz com rap.
Após 16 anos de parceria e sete discos na praça, o duo não existe mais. Em entrevista por telefone, de Los Angeles, Guru contou à Folha que a parceria acabou depois de uma desavença entre ele e o DJ -boatos recentes na mídia especializada americana davam conta do contrário.
"Premier foi desleal. Há um cara por aí dizendo que é o Young Guru, copiando meu nome, e Premier disse publicamente que não via problema nisso. Além do mais, já atingi meus objetivos com o Gang Starr", disse.
É esse novo Guru, que afirma não ver muita originalidade no hip hop de hoje, que vem a São Paulo pela segunda vez -a primeira foi em 94, no extinto Free Jazz Festival.
Aos 39 anos, o rapper pede para avisar que não vive no passado. É apenas o recém-lançado disco "Version 7.0 -°The Street Scriptures" que lhe interessa, além da nova parceria com o nova-iorquino Solar -nenhuma relação com o MC francês Solaar-, a quem Guru chama de "visionário, o produtor mais quente de Nova York".
Mas outras coisas também lhe interessam. Vide a temática das novas rimas: "Poder, dinheiro e influência, eu senti o gostinho disso, agora estou nessa de verdade". "É a minha vez de ser recompensado pelo meu trabalho", justifica.
Guru vem acompanhado por Solar, que ao vivo atua como MC de apoio, e pelo DJ Doo Wop. Os shows em São Paulo e no Rio terão pelo menos uma hora e meia de duração, ele promete, e serão um pot-pourri de hits do Gang Starr, do projeto Jazzmatazz e de músicas do novo disco.
Na segunda-feira, em apresentação para convidados no clube Na Mata, em São Paulo, o MC mostrou a barriga malhada, falou mal do outro Guru, o Young, e testou músicas novas, como a que contém sample de "Live and Let Die", canção de Paul McCartney e Wings que ficou famosa na voz de Axl, do Guns'n'Roses -aliás, de samples com referências de jazz a hits que fizeram a fama do Guns'n'Roses há um longo caminho, que ilustra perfeitamente a trajetória que o MC deseja seguir.

Improviso em comum
A conversa entre o jazz e o rap já rendeu outros prolíficos frutos. Além dos sete discos do Gang Starr e três do projeto Jazzmatazz, mais grupos de hip hop se valeram de standards para adornar suas rimas.
Steatsonic, no final dos anos 80, fazia jazz rap ao vivo com levada jazzística, assim como The Roots, que um pouco mais tarde pavimentou o caminho do rap tocado com banda.
Na base dos samples, há ainda Digable Planets, US3, Jungle Brothers, A Tribe Called Quest, De La Soul.
"Em princípio podem parecer gêneros díspares, mas há muito em comum entre o jazz e o hip hop. Ambos se utilizam do improviso, o jazz na parte instrumental, o rap na vocal", diz Guru.
Segundo Guru, o quarto disco do projeto Jazzmatazz deve ser lançado em junho de 2006, desta vez com participações de George Benson e Black Eye Peas.
Se vingar, o álbum será a segunda empreitada do selo 7 Grand Records (a primeira é o disco "Version 7.0"), tentativa de Guru e Solar de se dar bem no mercado, obter poder, dinheiro e influência, e tirar sua lasquinha do rentável bolo do rap americano, agora por seus próprios meios.


Guru
Quando: hoje, a partir das 21h30
Onde: CIE Music Hall (av. Jamaris, 213, Moema, SP, tel. 0/xx/11/6846-6040)
Quanto: de R$ 70 a R$ 100
Quando: sexta, a partir das 21h30
Onde: Circo Voador (r. dos Arcos, s/nš, Lapa, Rio, tel. 0/xx/21/2533-0354)
Quanto: R$ 30


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