São Paulo, segunda, 14 de dezembro de 1998

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ANÁLISE

Pamela, vulcão angelical

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

O povo que tornou a liberdade de expressão um símbolo de resistência a tiranias é o mesmo que estabeleceu um eficiente controle indireto de seus meios de comunicação.
Falo dos norte-americanos. E Pamela Anderson é a nêspera dessa dialética.
Sexo é algo complicado para os anglo-saxões. Eles sabem que é gostoso, mas têm dificuldades em lidar.
As mulheres de lá exigem ser vistas como algo a mais que um simples cabide de traseiro e par de bustos.
Quinze minutos assistindo a comerciais de TV, e percebe-se que as mulheres de lá são cultuadas pela inteligência e capacidade de decisão, enquanto as daqui são cultuadas pela beleza e gostosura.
Num comercial de cerveja, as mulheres de lá usam chapéus, enquanto as daqui usam shortinhos e rebolam.
Cantar uma mulher, lá, dá cadeia. Aqui, parece uma obrigação para o reforço da masculinidade.
Com o tecido de um biquíni de lá se faz uma colcha aqui- sem falar das lingeries. Lá, o que sexual é pornográfico e proibido para menores de 21.
Aqui, Vera Fischer, Luana Piovani, Maitê Proença e outras já mostraram suas formas no horário nobre.
Dinheiro
Mas norte- americano não é burro. É criativo quando a palavra dinheiro está envolvida. Inventaram o "S.O.S. Malibu", seriado com história, com mulheres inteligentes e decididas que são uma belezura.
Elas salvam vidas- nada mais sensual que uma mulher salva- vidas que agarra um náufrago seminu pelo cangote, arrasta-o até a areia, deita-o, massageia seu peito e faz uma respiração boca-a-boca.
"S.O.S. Malibu" é sucesso. Na apresentação, as meninas (trabalhadoras) aparecem de maiô, em linha, sugerindo ao onanista o tema do dia.
Entre elas, o rosto angelical e o corpo demoníaco de Pamela Anderson.
Vídeo
Neste ano, numa história muito mal contada, Anderson apareceu num vídeo pornô caseiro, com seu ex- marido Tommy Lee, fazendo o diabo.
Em viagem de férias, os dois acampam numa represa. Ela o filma. Ele a filma. A câmera treme. O espectador também. Fumam, bebem, namoram e transam.
O "babaquinha" da vida polšitica local é alta literatura comparado aos "fuck me" e "suck me" da angelical Pamela Anderson.
Descobriu- se que a namoradinha da América é um vulcão. Não se sabe direito como esse vídeo apareceu.
Mas roda de mão em mão e estava na programação de vídeo erótico dos maiores hotéis de Nova York, no último verão (no Hemisfério Norte).
Se, como dita o machismo, os homens querem uma santa que se deite como uma prostituta, Anderson é o símbolo dessa mulher.



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