São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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IMPRENSA
Colaboradores relatam histórias e fofocas da revista
Sete livros recontam os 75 anos de fascínio pela "New Yorker"

DINATIA SMITH
do "The New York Times"

Para algumas pessoas, ler sobre os velhos dias da "New Yorker" é como ouvir um amigo tediosamente descrevendo como conseguiu um upgrade de sua passagem de avião. Ou contando o sonho que teve na noite anterior. Mas, para outras, a revista tem um fascínio inefável.
Agora, para satisfazê-las, nada menos do que sete novos livros sobre a "New Yorker" e seus colaboradores estão sendo publicados para coincidir com as comemorações de seu 75º aniversário.
Os livros variam de francos a ranhetas. A Random House responde por três dos títulos, incluindo "Wonderful Town: New York Stories from The New Yorker" e "Life Stories: Profiles from The New Yorker", ambos editados por David Remnick, que sucedeu Tina Brown no comando da revista em 1998.
A Modern Library da Random House está lançando "Letters from the Editor", as palavras do fundador da revista, Harold Ross, editadas por seu biógrafo Thomas Kunkel.
Bem Yagoda escreveu "About Town: The New Yorker and the World It Made" (Scribner), aproveitando os arquivos da revista na Biblioteca Pública de Nova York. "Some Times in America" (Carroll & Graf), de Alexander Chancellor, fala do ano que ele passou editando a seção "Talk of the Town", na metade dos anos 90.
A Simon & Schuster lança "Janet, My Mother and Me", de William Murray, um jornalista da "New Yorker" cuja mãe, Natalia Danesi Murray, era amante da colunista Janet Flanner, e "Gone", um relato em tom de fofoca pela ex-colaboradora da revista Renata Adler.
O livro de Adler, que vem causando mais agitação, retrata a revista como uma mistura de mexeriqueiros e "puxa-sacos" tentando conquistar o favor dos sucessivos editores. "Gone" é um catálogo dos maus tratos que Adler diz ter sofrido em sua colaboração intermitente com a "New Yorker" entre 1963 e 1989.
Roger Angell, editor-chefe de ficção durante o período, classificou o relato dela como "fantasticamente impreciso".
Adler recusou-se a ser entrevistada para este artigo. "Acho que já falei o bastante sobre o meu livro", declarou.
Enquanto seu livro é pessoal, "About Town", de Yagoda, é história no sentido mais tradicional. Ele descreve, por exemplo, o jovem John Updike tentando vender seus desenhos para a revista. "Gostaria de informações sobre esses pequenos desenhos que vocês publicam e, presumo, compram", escreveu ele aos 17 anos, esquecendo as duas últimas letras da palavra "desenhos".

Paraíso
No total, pelo menos 22 livros já foram escritos sobre a "New Yorker". O que será que torna a revista tão fascinante, pelo menos para aqueles que trabalharam lá?
"Ela sempre cultivou uma aura de mistério", diz Yagoda. "Não havia sumário, ou assinatura dos autores, nem mesmo uma página de título tradicional. Era algo que não parecia feito por mãos humanas." (Nos últimos anos, as matérias passaram a ser assinadas e um sumário de conteúdo foi incluído.)
"Noventa por cento das pessoas que se consideram escritores nos Estados Unidos têm uma coleção de cartas de rejeição da "New Yorker'", prossegue Yagoda. "Um clube que não o aceita como membro, isso parece maravilhoso."
De fora, as pessoas viam a revista como um paraíso para escritores, com espaço e tempo ilimitados, e ótimo pagamento. Mas havia psicodramas intermináveis, enquanto William Shawn, que substituiu Ross no comando, manobrava entre egos sensíveis e ambiciosos.
"Ele era afetuoso e atencioso com os escritores", disse Angell. "Mas você percebia que ele estava dizendo a mesma coisa, ao mesmo tempo, a todos os outros".
Hoje, a revista, que no passado publicava Joseph Mitchell e E.B. White, continua a abrigar o que alguns consideram a melhor literatura dos Estados Unidos. "Seu estilo peculiar influenciou profundamente as letras norte-americanas", diz Daniel Menaker, ex-editor de ficção e colaborador da revista.
Mas, para Yagoda, até certo ponto, a "New Yorker" perdeu sua identidade. "Hoje, os artigos da revista poderiam estar na "Vanity Fair" ou na "Harper's'", diz. É como se os antigos colaboradores da revista estivessem escrevendo seus livros para recapturar um passado perdido, um paraíso em que Shawn os acalentava como se fossem crianças.
"Eu não acredito que o público em geral seja mesmo tão fascinado por esses detalhes quanto os participantes", disse Robert Gottlieb, que sucedeu Shawn como editor em 1987. "Posso um dia escrever sobre a revista, mas não me iludo com a idéia de que o resto do mundo esteja minimamente interessado."


Tradução Paulo Migliacci

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