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IMPRENSA
Colaboradores relatam histórias e fofocas da revista
Sete livros recontam os 75 anos
de fascínio pela "New Yorker"
DINATIA SMITH
do "The New York Times"
Para algumas pessoas, ler sobre
os velhos dias da "New Yorker" é
como ouvir um amigo tediosamente descrevendo como conseguiu um upgrade de sua passagem de avião. Ou contando o sonho que teve na noite anterior.
Mas, para outras, a revista tem
um fascínio inefável.
Agora, para satisfazê-las, nada
menos do que sete novos livros
sobre a "New Yorker" e seus colaboradores estão sendo publicados para coincidir com as comemorações de seu 75º aniversário.
Os livros variam de francos a ranhetas. A Random House responde por três dos títulos, incluindo
"Wonderful Town: New York
Stories from The New Yorker" e
"Life Stories: Profiles from The
New Yorker", ambos editados
por David Remnick, que sucedeu
Tina Brown no comando da revista em 1998.
A Modern Library da Random
House está lançando "Letters
from the Editor", as palavras do
fundador da revista, Harold Ross,
editadas por seu biógrafo Thomas
Kunkel.
Bem Yagoda escreveu "About
Town: The New Yorker and the
World It Made" (Scribner), aproveitando os arquivos da revista na
Biblioteca Pública de Nova York.
"Some Times in America" (Carroll & Graf), de Alexander Chancellor, fala do ano que ele passou
editando a seção "Talk of the
Town", na metade dos anos 90.
A Simon & Schuster lança "Janet, My Mother and Me", de William Murray, um jornalista da
"New Yorker" cuja mãe, Natalia
Danesi Murray, era amante da colunista Janet Flanner, e "Gone",
um relato em tom de fofoca pela
ex-colaboradora da revista Renata Adler.
O livro de Adler, que vem causando mais agitação, retrata a revista como uma mistura de mexeriqueiros e "puxa-sacos" tentando conquistar o favor dos sucessivos editores. "Gone" é um catálogo dos maus tratos que Adler diz
ter sofrido em sua colaboração intermitente com a "New Yorker"
entre 1963 e 1989.
Roger Angell, editor-chefe de
ficção durante o período, classificou o relato dela como "fantasticamente impreciso".
Adler recusou-se a ser entrevistada para este artigo. "Acho que já
falei o bastante sobre o meu livro", declarou.
Enquanto seu livro é pessoal,
"About Town", de Yagoda, é história no sentido mais tradicional.
Ele descreve, por exemplo, o jovem John Updike tentando vender seus desenhos para a revista.
"Gostaria de informações sobre
esses pequenos desenhos que vocês publicam e, presumo, compram", escreveu ele aos 17 anos,
esquecendo as duas últimas letras
da palavra "desenhos".
Paraíso
No total, pelo menos 22 livros já
foram escritos sobre a "New Yorker". O que será que torna a revista tão fascinante, pelo menos para
aqueles que trabalharam lá?
"Ela sempre cultivou uma aura
de mistério", diz Yagoda. "Não
havia sumário, ou assinatura dos
autores, nem mesmo uma página
de título tradicional. Era algo que
não parecia feito por mãos humanas." (Nos últimos anos, as matérias passaram a ser assinadas e
um sumário de conteúdo foi incluído.)
"Noventa por cento das pessoas
que se consideram escritores nos
Estados Unidos têm uma coleção
de cartas de rejeição da "New Yorker'", prossegue Yagoda. "Um
clube que não o aceita como
membro, isso parece maravilhoso."
De fora, as pessoas viam a revista como um paraíso para escritores, com espaço e tempo ilimitados, e ótimo pagamento. Mas havia psicodramas intermináveis,
enquanto William Shawn, que
substituiu Ross no comando, manobrava entre egos sensíveis e
ambiciosos.
"Ele era afetuoso e atencioso
com os escritores", disse Angell.
"Mas você percebia que ele estava
dizendo a mesma coisa, ao mesmo tempo, a todos os outros".
Hoje, a revista, que no passado
publicava Joseph Mitchell e E.B.
White, continua a abrigar o que
alguns consideram a melhor literatura dos Estados Unidos. "Seu
estilo peculiar influenciou profundamente as letras norte-americanas", diz Daniel Menaker, ex-editor de ficção e colaborador da
revista.
Mas, para Yagoda, até certo
ponto, a "New Yorker" perdeu
sua identidade. "Hoje, os artigos
da revista poderiam estar na "Vanity Fair" ou na "Harper's'", diz. É
como se os antigos colaboradores
da revista estivessem escrevendo
seus livros para recapturar um
passado perdido, um paraíso em
que Shawn os acalentava como se
fossem crianças.
"Eu não acredito que o público
em geral seja mesmo tão fascinado por esses detalhes quanto os
participantes", disse Robert Gottlieb, que sucedeu Shawn como
editor em 1987. "Posso um dia escrever sobre a revista, mas não me
iludo com a idéia de que o resto
do mundo esteja minimamente
interessado."
Tradução Paulo Migliacci
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