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FASHION RIO
Para a modelo mais bem paga da atualidade, "eles vêem o físico"
"Meio da moda é superficial", diz Gisele
ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
De biquíni, na piscina do hotel
Copacabana Palace, a modelo Gisele Bündchen recebeu a Folha
para uma entrevista. Ela veio para
o desfile da Colcci, ontem à noite
no Fashion Rio.
Animada e tagarela como sempre, ela falou sobre seus dez anos
de carreira, as partes boas, as partes ruins. "O momento mais difícil foi, sem dúvida, o início", diz,
lembrando-se de quando saiu de
Nova Horizontina (RS) e veio para São Paulo, aos 14 anos.
"Eu vim com R$ 50 no bolso,
cheguei na rodoviária do Tietê,
que tinha mais gente do que em
toda a minha cidade. Lá em Nova
Horizontina não tinha assalto, então eu nem me liguei. Quando eu
cheguei, vi que minha carteira tinha sido roubada no metrô. Comecei a chorar", lembra. Houve
dificuldades de adaptação em relação às meninas que dividiam o
apartamento com ela. "Ninguém
gostava de mim. Eu era a boazinha e não gostava de fazer festa",
afirma Gisele.
O mercado tampouco recebeu
bem a jovem modelo de seios fartos e nariz decidido. Naquela época, seu corpo ainda estava "fora de
moda". "Falavam: "Que peito é esse? Que nariz é esse?". Comecei a
me sentir do tamanho de uma
formiga", revela. Gisele diz que
encontrou verdadeiros "bruxos".
"Além disso, esse é um meio superficial. Eles vêem o físico, não
vêem como a pessoa é", reclama.
A virada começou em 95 e Gisele deve tudo ao fato de saber andar de salto alto. Seu caminhar
(que passou a ser copiado rigorosamente por todas as modelos
que vieram depois dela) lhe deu a
primeira grande oportunidade
internacional: o desfile do inglês
Alexander McQueen em Londres.
"Ele nem quis ver meu book, me
mandou andar e me contratou na
hora", diz. Ela pegou uma roupa
importante e sua imagem saiu em
todos os jornais. Como então
uma menina do interior sabia andar de salto tão bem? "Não sei! E o
pior é que odeio andar de salto, só
ando de chinelo e tênis!"
Gisele é hoje a modelo mais
bem paga do mundo e é conhecida no mercado por sua capacidade de gerenciar sua carreira. "Para
mim, isso é um "business". É minha profissão. Não entrei para esse meio para ser famosa. Vi nisso
uma oportunidade de ganhar dinheiro e ajudar minha família. Eu
tinha 14 anos, não queria ser "fabulous"."
E, para a escolha de trabalhos,
credita a seu instinto. "Diziam,
por exemplo, que eu era muito
comercial. Então eu peguei e fiz a
revista "Big", com jovens fotógrafos, mais experimental, e fiz "i-D",
para provar que eu podia fazer algo mais alternativo. Falavam que
eu não ia conseguir, e eu fui lá e
consegui", revela.
Gisele desfila na São Paulo Fashion Week para a Triton, na abertura do evento, terça-feira, e depois volta para Los Angeles
(atualmente, ela divide seu tempo
entre sua casa na cidade e seu
apartamento em Nova York).
Mas ela gosta mesmo é do Brasil,
claro. "Não dá para comparar: é o
melhor lugar do mundo. O Brasil
tem coração", define.
E sobre o Brasil ter se transformado no "país da moda", coqueluche do planeta, ela resmunga:
"Não sei por que não viram isso
antes. Eu é que tenho sorte de ter
nascido aqui".
Os jornalistas Erika Palomino e Jackson Araujo viajaram a convite do Fashion Rio.
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