São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2005

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FASHION RIO

Para a modelo mais bem paga da atualidade, "eles vêem o físico"

"Meio da moda é superficial", diz Gisele

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

De biquíni, na piscina do hotel Copacabana Palace, a modelo Gisele Bündchen recebeu a Folha para uma entrevista. Ela veio para o desfile da Colcci, ontem à noite no Fashion Rio.
Animada e tagarela como sempre, ela falou sobre seus dez anos de carreira, as partes boas, as partes ruins. "O momento mais difícil foi, sem dúvida, o início", diz, lembrando-se de quando saiu de Nova Horizontina (RS) e veio para São Paulo, aos 14 anos.
"Eu vim com R$ 50 no bolso, cheguei na rodoviária do Tietê, que tinha mais gente do que em toda a minha cidade. Lá em Nova Horizontina não tinha assalto, então eu nem me liguei. Quando eu cheguei, vi que minha carteira tinha sido roubada no metrô. Comecei a chorar", lembra. Houve dificuldades de adaptação em relação às meninas que dividiam o apartamento com ela. "Ninguém gostava de mim. Eu era a boazinha e não gostava de fazer festa", afirma Gisele.
O mercado tampouco recebeu bem a jovem modelo de seios fartos e nariz decidido. Naquela época, seu corpo ainda estava "fora de moda". "Falavam: "Que peito é esse? Que nariz é esse?". Comecei a me sentir do tamanho de uma formiga", revela. Gisele diz que encontrou verdadeiros "bruxos". "Além disso, esse é um meio superficial. Eles vêem o físico, não vêem como a pessoa é", reclama.
A virada começou em 95 e Gisele deve tudo ao fato de saber andar de salto alto. Seu caminhar (que passou a ser copiado rigorosamente por todas as modelos que vieram depois dela) lhe deu a primeira grande oportunidade internacional: o desfile do inglês Alexander McQueen em Londres.
"Ele nem quis ver meu book, me mandou andar e me contratou na hora", diz. Ela pegou uma roupa importante e sua imagem saiu em todos os jornais. Como então uma menina do interior sabia andar de salto tão bem? "Não sei! E o pior é que odeio andar de salto, só ando de chinelo e tênis!"
Gisele é hoje a modelo mais bem paga do mundo e é conhecida no mercado por sua capacidade de gerenciar sua carreira. "Para mim, isso é um "business". É minha profissão. Não entrei para esse meio para ser famosa. Vi nisso uma oportunidade de ganhar dinheiro e ajudar minha família. Eu tinha 14 anos, não queria ser "fabulous"."
E, para a escolha de trabalhos, credita a seu instinto. "Diziam, por exemplo, que eu era muito comercial. Então eu peguei e fiz a revista "Big", com jovens fotógrafos, mais experimental, e fiz "i-D", para provar que eu podia fazer algo mais alternativo. Falavam que eu não ia conseguir, e eu fui lá e consegui", revela.
Gisele desfila na São Paulo Fashion Week para a Triton, na abertura do evento, terça-feira, e depois volta para Los Angeles (atualmente, ela divide seu tempo entre sua casa na cidade e seu apartamento em Nova York). Mas ela gosta mesmo é do Brasil, claro. "Não dá para comparar: é o melhor lugar do mundo. O Brasil tem coração", define.
E sobre o Brasil ter se transformado no "país da moda", coqueluche do planeta, ela resmunga: "Não sei por que não viram isso antes. Eu é que tenho sorte de ter nascido aqui".


Os jornalistas Erika Palomino e Jackson Araujo viajaram a convite do Fashion Rio.

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