|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/ "Vício Frenético"
Diretor introduz elementos pessoais que lembram o melhor de seu cinema
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Pelo título brasileiro e
pelo original, "Vício
Frenético" ou "Bad
Lieutenant" remete, na memória dos cinéfilos, ao belo filme
de Abel Ferrara sobre um policial religioso e drogado. O alemão Werner Herzog, responsável pela nova versão, extirpou o
catolicismo da história e, com
ele, o aspecto metafísico que
dominava as ações do policial.
A ação do novo "Vício" se
passa em Nova Orleans. Ferrara ambientara seu filme em Nova York, mas isso era menos
importante do que aqui. Herzog é um estrangeiro e dá aos
locais onde se situa a trama
uma atenção que só os estrangeiros (para quem as paisagens
são mistérios) costumam dar.
Não é a Nova Orleans turística que o cinema costuma mostrar, mas uma cidade em geral
pobre, castigada pelo Katrina,
parecendo mais Havana depois
de longos anos sem troca com o
Ocidente. Não é só isso. É um
lugar onde um jacaré pode
morrer num acidente de carro
numa autopista. Etc.
É ali que pontifica o tenente
McDonagh (Nicolas Cage). Seu
vício decorre sobretudo das
enormes dores na coluna que
sente após um salto infeliz, numa operação de salvamento. As
semelhanças com o dr. House
do seriado ficam por aí. Como
no original de 1992, o policial se
envolve com o crime para satisfazer seu vício das drogas, afunda-se na jogatina e nem por isso
perde a gana por solucionar um
intrincado caso policial.
É interessante observar como Herzog, cuja carreira passou por um prolongado eclipse,
volta ao cenário nos EUA, servindo às necessidades industriais (narrativas clássicas ou
quase isso), mas introduzindo
elementos pessoais que caracterizaram os primeiros e mais
vigorosos anos de seu cinema.
Assim, se ao observar a cidade mantém-se apesar disso
próximo da natureza (e só atenta à distância para os arranha-céus moderníssimos), ao observar a violência policial, consegue reproduzi-la, ao mesmo
tempo em que evita os perigos
do clichê e acrescenta ao personagem traços interessantes (a
devoção à namorada prostituta
é surpreendente). Para fechar
essa série de aspectos fortes
que ora envolvem ora driblam a
narrativa tradicional, Cage
compõe um policial marcante.
VÍCIO FRENÉTICO
Direção: Werner Herzog
Produção: EUA, 2009
Com: Nicolas Cage, Eva Mendes
Onde: Bristol, Iguatemi, Shopping
D, Interlagos, Cine TAM e circuito
Classificação: 18 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Cinema: Filme de Herzog levanta a questão: por que refilmar? Próximo Texto: Bausch é destaque em Santiago Índice
|