São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Crítica/ "Vício Frenético"

Diretor introduz elementos pessoais que lembram o melhor de seu cinema

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Pelo título brasileiro e pelo original, "Vício Frenético" ou "Bad Lieutenant" remete, na memória dos cinéfilos, ao belo filme de Abel Ferrara sobre um policial religioso e drogado. O alemão Werner Herzog, responsável pela nova versão, extirpou o catolicismo da história e, com ele, o aspecto metafísico que dominava as ações do policial.
A ação do novo "Vício" se passa em Nova Orleans. Ferrara ambientara seu filme em Nova York, mas isso era menos importante do que aqui. Herzog é um estrangeiro e dá aos locais onde se situa a trama uma atenção que só os estrangeiros (para quem as paisagens são mistérios) costumam dar.
Não é a Nova Orleans turística que o cinema costuma mostrar, mas uma cidade em geral pobre, castigada pelo Katrina, parecendo mais Havana depois de longos anos sem troca com o Ocidente. Não é só isso. É um lugar onde um jacaré pode morrer num acidente de carro numa autopista. Etc.
É ali que pontifica o tenente McDonagh (Nicolas Cage). Seu vício decorre sobretudo das enormes dores na coluna que sente após um salto infeliz, numa operação de salvamento. As semelhanças com o dr. House do seriado ficam por aí. Como no original de 1992, o policial se envolve com o crime para satisfazer seu vício das drogas, afunda-se na jogatina e nem por isso perde a gana por solucionar um intrincado caso policial.
É interessante observar como Herzog, cuja carreira passou por um prolongado eclipse, volta ao cenário nos EUA, servindo às necessidades industriais (narrativas clássicas ou quase isso), mas introduzindo elementos pessoais que caracterizaram os primeiros e mais vigorosos anos de seu cinema.
Assim, se ao observar a cidade mantém-se apesar disso próximo da natureza (e só atenta à distância para os arranha-céus moderníssimos), ao observar a violência policial, consegue reproduzi-la, ao mesmo tempo em que evita os perigos do clichê e acrescenta ao personagem traços interessantes (a devoção à namorada prostituta é surpreendente). Para fechar essa série de aspectos fortes que ora envolvem ora driblam a narrativa tradicional, Cage compõe um policial marcante.


VÍCIO FRENÉTICO

Direção: Werner Herzog
Produção: EUA, 2009
Com: Nicolas Cage, Eva Mendes
Onde: Bristol, Iguatemi, Shopping D, Interlagos, Cine TAM e circuito
Classificação: 18 anos
Avaliação: bom


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