São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O melhor de Carmen

Ruy Castro divide a fase de ouro de Carmen Miranda em quatro CDs e mostra que ela foi além das célebres marchinhas de Carnaval

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de derrubar um cacho de mitos sobre a cantora em "Carmen - Uma Biografia", em 2005, Ruy Castro começa agora a colar os cacos da discografia de Carmen Miranda. Ele lança hoje, na Fnac Morumbi, quatro CDs com 64 faixas gravadas de 1935 a 1940, na Odeon. "É a fase mais madura de Carmen. Ela estava com total domínio de suas capacidades", diz Castro.
O que torna atrativos os CDs? A caixa que a EMI lançou em 1996, com as mais de 120 gravações da Odeon, está fora de catálogo; e, nas compilações que há por aí, o critério predominante é o da obviedade. Os lançamentos com a rubrica "Ruy Castro Apresenta..." fazem uma síntese das lacunas: oferecem o melhor de Carmen a um preço razoável (R$ 24 cada CD) e com as músicas divididas segundo conceitos claros.
"Carmen Canta Sambas" é o primeiro do lote, lugar de honra que a ênfase de Castro ajuda a explicar. "É para acabar com essa história de que Carmen era apenas uma cantora de marchinhas. Ela foi uma grande cantora de sambas. No tempo em que o gênero estava em formação e havia várias espécies de samba em embrião, explorou todas as vertentes e firmou muitas delas", diz.
Em "Os Carnavais de Carmen", estão sucessos de verão da "carioca" nascida em Portugal, como "Duvi-d-o-dó" (Benedito Lacerda/João Barcellos), mas também um samba sofisticado como "Camisa Listada" (Assis Valente).
"Carmen foi a cantora que estabeleceu a marchinha. Você não acha nenhuma cantora anterior a ela, com aquele peso, gravando música de Carnaval."
Seu primeiro grande sucesso foi a marchinha "Pra Você Gostar de Mim [Taí]", de 1930, quando ela era da Victor, onde ficou até 1935 -o acervo pertence hoje à Sony BMG.
Dois anos depois de ingressar na Odeon, ela já era o mais popular e bem pago nome da música brasileira. Foi então que assumiu a condição de estrela principal do Cassino da Urca. "Ela foi mais importante para o cassino do que o contrário.
Mas, ao mesmo tempo, o cassino lhe deu outra dimensão como cantora. Era uma platéia mais exigente, que a obrigou a um refinamento", diz Castro. Não há registros ao vivo em "Carmen no Cassino da Urca", e sim músicas que ela certamente cantava nas apresentações. "Você tem a ilusão de que está vendo um show da Carmen na Urca", supõe Castro.

Ary supera Assis
Também estão no CD aquelas especialmente compostas para Carmen responder, em setembro de 1940, à frieza com que foi recebida no mesmo cassino dois meses antes, após seu primeiro período nos EUA: "Voltei pro Morro" e "Disseram que Eu Voltei Americanizada".
O quarto CD, "Carmen Canta Ary Barroso", reúne todas as 16 músicas de Ary que ela gravou na Odeon. "Ao contrário do que muita gente pensa, não é Assis Valente o compositor mais gravado por Carmen, mas Ary. Por pouco: 30 a 24", diz Castro.
Ele procura fazer nos discos o que realizou em dimensão maior no livro: mostrar que Carmen é muito mais do que um turbante de frutas e um par de saltos plataforma -até porque a "baiana" estilizada só surgiu em 1938, quando a cantora já estava consagrada aqui.
"Ela é a mulher mais imitada da história, mais até que Marilyn Monroe, que era mais difícil. Mas ela é muito mais complexa e rica do que a imagem que temos dos filmes americanos. Existe uma Carmen mais real."


RUY CASTRO APRESENTA...
Gravadora:
EMI
Quanto: R$ 24 cada um dos quatro CDs

ENCONTRO COM RUY CASTRO
Quando:
hoje, às 19h
Onde: Fnac - Morumbi Shopping (av. Roque Petroni Jr., 1.089, 0/xx/11/3206-2000)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Horário nobre na TV Aberta
Próximo Texto: Em DVD, Marília Pêra interpreta "pequena notável"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.