São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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Musa do YouTube, 72, vira estrela da noite "Tapa na Pantera", no clube A Lôca

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todo mundo que vai ao clube A Lôca, na Bela Vista (região central de São Paulo), mostra a identidade na porta. Menores não podem entrar.
Uma vez lá dentro, os clientes são revistados por seguranças. Num segundo ambiente, a hostess divide um cigarro com um transformista e entrega as comandas de consumo. Em seguida, um tipo de hall prenuncia o bar: um buraco na parede é a chapelaria, e as luzes coloridas de um fliperama iluminam o rosto de um capeta de gesso, pintado de forma a imitar bronze.
É bem debaixo desse capeta que a atriz Maria Alice Vergueiro, na noite de terça, dia 13, faz sua "volta ao underground". Fica ali sentada em uma cadeira rococó, de 0h às 2h, recebendo os convidados de mais uma edição da festa semanal de rock e pop "Tapa na Pantera". Iniciada no fim de 2006, a festa foi batizada com o nome do vídeo que virou fenômeno no YouTube ao mostrar a atriz como uma senhora que fuma maconha há 30 anos "sem se viciar".
Maria Alice, 72, parece uma Mamãe Noel de shopping colocando seus "netinhos", como ela define, no colo, tirando fotos, conversando. Tem os cabelos tingidos de vermelho e usa batom vermelho, um longo preto e colar de pérolas. Na mesa ao lado, um cachimbo e uma garrafa d'água. "Sempre freqüentei essas "caves", esses undergrounds da vida, em que até a polícia entra desarmada para se divertir", diz a atriz.
Para ela, o clube A Lôca lembra o Madame Satã dos anos 80, casa noturna em que esteve algumas vezes, freqüentada por gente considerada transgressora. É de lá que resgata, pela lembrança, uma performance realizada em parceria com Magali Biff -depois de um confronto corporal, as atrizes acabavam nuas dentro de uma banheira, trocando beijos. "Era um lugar parecido com este, ao qual as pessoas iam para ser o que eram e se divertir", lembra.
Às 2h, Maria Alice vai até a pista de dança. A música pára. Sobre o palco, geralmente usado em shows de drag queens, a atriz é apresentada por Michael Love, transformista residente que, por ser vesgo, diz, "vê o mundo de uma vez só". Costuma ter cabelos pretos, mas está loiro.
Ao lado dele, Maria Alice empunha o microfone: "Nunca vou esquecer essa homenagem. Vocês não sabem como é importante para mim voltar ao mundo da subversão. Num dia, a gente vive a juventude. No outro, a juventude vive a gente". É papo de vovó mesmo. E os netinhos aplaudem, emocionados.


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