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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Londres e Nova York - ultima.moda@folha.com.br
Novato abala semana Londres
Estilista greco-austríaco Marios Schwab impressiona com desfile inspirado na história de uma mulher que ficou louca
A primeira modelo entrou
bem lentamente na passarela.
Ela portava um vestido longo e
superjusto, com uma barra minúscula que a impedia de dar
passos largos. A segunda modelo também mal conseguia caminhar. E assim se repetiu com
a terceira, a quarta, a quinta...
"Esses vestidos vão vender?",
perguntou a imprensa. Ninguém sabe, mas, mesmo assim,
o estilista Marios Schwab foi
consagrado na London Fashion
Week, que começou no domingo e termina hoje.
Schwab, 30, filho de mãe grega e pai austríaco, é um dos novos talentos da semana britânica. Sua coleção para a temporada de inverno foi inspirada
num relato do século 19, "The
Yellow Paper", sobre uma mulher que enlouquece após ser
encarcerada num sótão.
Os longos colados ao corpo e
freqüentemente da cor da pele
apareciam rasgados, mostrando por trás, às vezes, a textura
de um jeans. Outras vezes, deixavam entrever desenhos eróticos. Como se a roupa fosse a
pele e, por trás da pele, houvesse a roupa -ou a pura imaginação.
Adornos esquisitos, como
pompons colados nos vestidos
justíssimos, tornavam aquilo
tudo ainda mais absurdo.
É óbvio que Schwab está falando das amarras que a sociedade impõe às mulheres. Mas o
que mais impressionou em seu
desfile foi a sua maneira de produzir um pensamento crítico
sobre a roupa e a silhueta feminina utilizando os recursos
próprios da moda -aos poucos,
a estranheza foi dando lugar a
um encantamento com as peças, elaboradas à perfeição.
Mais interessante foi que
Schwab, numa atitude até certo
ponto artística, não
propôs conciliação
para a platéia, não
mostrou nenhuma
saída à asfixia que
tentou expressar.
Aos poucos, ampliou as barras,
dando mais mobilidade às modelos,
mas logo voltou às
formas justas.
Acrescentou peças menos radicais, como jaquetas ornamentadas
com cristais, mas
não menos melancólicas.
Schwab poderia
entrar para o rol
dos estilistas-críticos, um pouco na linhagem do belga
Martin Margiela, estes sujeitos que, ao mesmo tempo em que fazem
moda, refletem sobre ela e inventam novas formas.
Trata-se de uma grande conquista para a London Fashion
Week, que, no geral, está sempre dividida entre os nomes
tradicionais da moda britânica
-bastante bons, como Betty
Jackson, Aquascutum e Nicole
Farhi- e um bando de estilistas cheios de loucurinhas.
Outro nome promissor da
London Fashion Week é o escocês Christopher Kane, 26,
que, nesta temporada, mostrou
uma coleção requintada em
que mesclou elementos rústicos e formas muito delicadas e
contemporâneas.
A Basso & Brooke é também
uma outra grife com fôlego para experimentações. Mas, desta
vez, a marca atirou para muitas
direções e perdeu o impacto
que costuma causar com suas
poderosas estamparias e seus
volumes inusitados.
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