São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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ALCINO LEITE NETO, em Londres e Nova York - ultima.moda@folha.com.br

Novato abala semana Londres

Estilista greco-austríaco Marios Schwab impressiona com desfile inspirado na história de uma mulher que ficou louca

A primeira modelo entrou bem lentamente na passarela. Ela portava um vestido longo e superjusto, com uma barra minúscula que a impedia de dar passos largos. A segunda modelo também mal conseguia caminhar. E assim se repetiu com a terceira, a quarta, a quinta...
"Esses vestidos vão vender?", perguntou a imprensa. Ninguém sabe, mas, mesmo assim, o estilista Marios Schwab foi consagrado na London Fashion Week, que começou no domingo e termina hoje.
Schwab, 30, filho de mãe grega e pai austríaco, é um dos novos talentos da semana britânica. Sua coleção para a temporada de inverno foi inspirada num relato do século 19, "The Yellow Paper", sobre uma mulher que enlouquece após ser encarcerada num sótão.
Os longos colados ao corpo e freqüentemente da cor da pele apareciam rasgados, mostrando por trás, às vezes, a textura de um jeans. Outras vezes, deixavam entrever desenhos eróticos. Como se a roupa fosse a pele e, por trás da pele, houvesse a roupa -ou a pura imaginação.
Adornos esquisitos, como pompons colados nos vestidos justíssimos, tornavam aquilo tudo ainda mais absurdo.
É óbvio que Schwab está falando das amarras que a sociedade impõe às mulheres. Mas o que mais impressionou em seu desfile foi a sua maneira de produzir um pensamento crítico sobre a roupa e a silhueta feminina utilizando os recursos próprios da moda -aos poucos, a estranheza foi dando lugar a um encantamento com as peças, elaboradas à perfeição.
Mais interessante foi que Schwab, numa atitude até certo ponto artística, não propôs conciliação para a platéia, não mostrou nenhuma saída à asfixia que tentou expressar.
Aos poucos, ampliou as barras, dando mais mobilidade às modelos, mas logo voltou às formas justas.
Acrescentou peças menos radicais, como jaquetas ornamentadas com cristais, mas não menos melancólicas.
Schwab poderia entrar para o rol dos estilistas-críticos, um pouco na linhagem do belga Martin Margiela, estes sujeitos que, ao mesmo tempo em que fazem moda, refletem sobre ela e inventam novas formas.
Trata-se de uma grande conquista para a London Fashion Week, que, no geral, está sempre dividida entre os nomes tradicionais da moda britânica -bastante bons, como Betty Jackson, Aquascutum e Nicole Farhi- e um bando de estilistas cheios de loucurinhas.
Outro nome promissor da London Fashion Week é o escocês Christopher Kane, 26, que, nesta temporada, mostrou uma coleção requintada em que mesclou elementos rústicos e formas muito delicadas e contemporâneas.
A Basso & Brooke é também uma outra grife com fôlego para experimentações. Mas, desta vez, a marca atirou para muitas direções e perdeu o impacto que costuma causar com suas poderosas estamparias e seus volumes inusitados.


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