|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Ritmo de hoje parece o velório do sambista"
Germano Mathias critica levada do samba atual e explica o segredo do surdo
Trajetória do cantor e compositor, que inclui passagem pela "ala das frigideiras", foi objeto de biografia e documentário
DA REPORTAGEM LOCAL
No samba de Germano Mathias, a batida do surdo é adiantada. É isso que traz dinamismo
a sua música. É a síncope do ritmo. "O som que fazem hoje é
intercalado", critica. "Batem o
surdo atrasado demais. Parece
o velório do sambista", brinca.
Mathias aprendeu a tocar e a
cantar nas rodas de engraxates
do centro de São Paulo, de onde
herdou a marca de seus shows:
a tampa de uma lata de graxa.
Dali, foi promovido para a ala
de frigideiras da Escola de Samba Rosas Negras. "Nos anos 50,
frigideira era tamborim. Fazia
um repique tilintoso que se ouvia de longe", lembra.
Começou a carreira profissional em outubro de 1955,
quando venceu um programa
de calouros da rádio Tupi, onde
foi contratado como "cantor e
executante de instrumentos
exóticos". No ano seguinte, gravava seu primeiro sucesso, "Minha Nega na Janela".
Nos anos 60, sofreu a primeira desilusão da carreira. Um
empresário alemão o contratou
para uma turnê na Europa, mas
morreu um mês antes do embarque. Mathias guarda até hoje o passaporte tirado à época,
ainda em branco. A foto registra seus 26 anos de idade. "Era
o Marlon Brando dos pobres."
Em seguida, outra decepção:
"O iê-iê-iê estourou, e sambista
não tinha mais valor". Sem dinheiro, Mathias virou oficial de
Justiça. Desistiu da profissão
quando acompanhou a polícia
num mandado de prisão e foi
recebido a tiro. "Ser sambista é
difícil, mas menos perigoso."
Mudou-se para o Rio e foi recebido na Mangueira como
bamba. Pouco depois, retornou
a São Paulo e, no final dos anos
70, voltou à cena com o disco
"Antologia do Samba-Choro",
gravado com Gilberto Gil.
A trajetória pessoal e o brilho
de sua música renderam a biografia "Sambexplícito" (Ed. A
Girafa), de Caio Silveira Ramos,
lançada em 2008, e o documentário "Ginga no Asfalto", de André Rosa e Guilherme Vergueiro, em que canta sucessos e
conta causos.
(FERNANDA MENA)
GERMANO MATHIAS CANTA
COM JAIR RODRIGUES
Quando: Quinta (18/2), às 22h30
Onde: Bar Brahma (av. Ipiranga esquina com São João)
Quanto: R$ 50
Texto Anterior: Malandro pra valer Próximo Texto: Frase Índice
|