São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

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TELEVISÃO/CRÍTICA

Briga Record x Globo é melhor novela

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Melhor do que "Sinhá Moça" e "Cidadão Brasileiro", as novelas de época que estrearam anteontem, é a contemporânea história da disputa entre Globo e Record por audiência. É esse thriller que explica cada tomada de Débora Falabella, a sinhazinha, e de Lucélia Santos, a sinhazona.
Teoricamente, as duas não são concorrentes ("Sinhá" é das seis, "Cidadão", das oito). Mas na "supersegunda" representaram o arsenal da guerra do Ibope. A Globo virou cinema: câmeras de alta definição foram o grande trunfo da estréia de "Sinhá". E a Record virou Globo, ou quase: texto, direção e elenco de ex-globais eram as armas do primeiro capítulo de "Cidadão", que ainda precisa superar alguns problemas técnicos.

Ibope
Ao menos no primeiro dia, o resultado foi bom a ambas. "Sinhá" marcou 36 pontos, um acima da estréia da antecessora, a recordista "Alma Gêmea". "Cidadão" obteve 15, no horário do "Jornal Nacional" e de "Belíssima", em que a Record não costuma passar dos dez (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP).
"Sinhá", remake da novela de Benedito Ruy Barbosa (1986), quis mostrar superioridade técnica com as câmeras que aproximam as imagens à película cinematográfica. Foi um capítulo bem cuidado, com iluminação acima da média noveleira. Resta saber se a Globo manterá o investimento.
Ricardo Waddington, que tanto enquadrou o Leblon de Manoel Carlos, cumpriu a missão das cenas barboseanas de cafezais. O close de grãos lembrou "Renascer", uma das mais bem-sucedidas novelas de Barbosa. Débora Falabella certamente será uma sinhá melhor que Lucélia Santos, apesar do mito. Osmar Prado e Patrícia Pillar são escalações garantidas para pais da mocinha.
Danton Mello, o herói, não leva Oscar, mas dificilmente ficará aquém de Marcos Paulo na primeira versão. O capítulo mostrou a morte de Pai José (Milton Gonçalves). Não havia poeira no cenário. Senzala, tronco e roupa dos escravos brilhavam. Pai José trajava bata quase fashion, que, após chicotadas e no leito da morte quase sem sangue, mantinha o branco de comerciais de sabão em pó. Foi uma cena teatral, diriam defensores. Mas o fato é que a Globo não arriscaria "sujar" um ambiente que aparece na TV com a nitidez da alta definição. Ainda mais após o telespectador, em sua avaliação, ter rejeitado a poeira do Velho Oeste de "Bang Bang".
De resto, o texto de Barbosa é uma trincheira nesse época de mexicanização da teledramaturgia brasileira, e a Globo não deverá romper tão cedo a lua-de-mel com o espectador das seis.
Já a Record não terá vida tão fácil. "Cidadão" fez boas tomadas iniciais (também de cafezais), mas apresentou luz foi falha, especialmente quando o protagonista Antônio Maciel (Gabriel Braga Nunes) e a vigarista Fausta (Lucélia Santos) se agarravam na praça. Na TV da Universal, aliás, o casal protagonizou cenas de apelo sexual acima da média da TV antiuniversal (e, até por isso, Lucélia, a balzaca, tem urgentemente de abandonar aquela voz infantil).
Lauro César Muniz tem tudo para dar um passo à frente na nova fase da Record. Ousa ao criar um personagem central, o tal cidadão brasileiro, distante do clichê do mocinho. Maciel ameaça denunciar a corrupção, mas envolve-se nela (seria um Roberto Jefferson, na observação de Nelson de Sá, colunista da Folha).
Não é o caminho fácil de "Prova de Amor". Mas, se der certo, a vitória terá sabor mais autêntico.


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