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TELEVISÃO/CRÍTICA
Briga Record x Globo é melhor novela
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Melhor do que "Sinhá Moça" e "Cidadão Brasileiro",
as novelas de época que estrearam
anteontem, é a contemporânea
história da disputa entre Globo e
Record por audiência. É esse thriller que explica cada tomada de
Débora Falabella, a sinhazinha, e
de Lucélia Santos, a sinhazona.
Teoricamente, as duas não são
concorrentes ("Sinhá" é das seis,
"Cidadão", das oito). Mas na "supersegunda" representaram o arsenal da guerra do Ibope. A Globo
virou cinema: câmeras de alta definição foram o grande trunfo da
estréia de "Sinhá". E a Record virou Globo, ou quase: texto, direção e elenco de ex-globais eram as
armas do primeiro capítulo de
"Cidadão", que ainda precisa superar alguns problemas técnicos.
Ibope
Ao menos no primeiro dia, o resultado foi bom a ambas. "Sinhá"
marcou 36 pontos, um acima da
estréia da antecessora, a recordista "Alma Gêmea". "Cidadão" obteve 15, no horário do "Jornal Nacional" e de "Belíssima", em que a
Record não costuma passar dos
dez (cada ponto equivale a 52,3
mil domicílios na Grande SP).
"Sinhá", remake da novela de
Benedito Ruy Barbosa (1986),
quis mostrar superioridade técnica com as câmeras que aproximam as imagens à película cinematográfica. Foi um capítulo bem
cuidado, com iluminação acima
da média noveleira. Resta saber se
a Globo manterá o investimento.
Ricardo Waddington, que tanto
enquadrou o Leblon de Manoel
Carlos, cumpriu a missão das cenas barboseanas de cafezais. O
close de grãos lembrou "Renascer", uma das mais bem-sucedidas novelas de Barbosa. Débora
Falabella certamente será uma sinhá melhor que Lucélia Santos,
apesar do mito. Osmar Prado e
Patrícia Pillar são escalações garantidas para pais da mocinha.
Danton Mello, o herói, não leva
Oscar, mas dificilmente ficará
aquém de Marcos Paulo na primeira versão. O capítulo mostrou
a morte de Pai José (Milton Gonçalves). Não havia poeira no cenário. Senzala, tronco e roupa dos
escravos brilhavam. Pai José trajava bata quase fashion, que, após
chicotadas e no leito da morte
quase sem sangue, mantinha o
branco de comerciais de sabão
em pó. Foi uma cena teatral, diriam defensores. Mas o fato é que
a Globo não arriscaria "sujar" um
ambiente que aparece na TV com
a nitidez da alta definição. Ainda
mais após o telespectador, em sua
avaliação, ter rejeitado a poeira do
Velho Oeste de "Bang Bang".
De resto, o texto de Barbosa é
uma trincheira nesse época de
mexicanização da teledramaturgia brasileira, e a Globo não deverá romper tão cedo a lua-de-mel
com o espectador das seis.
Já a Record não terá vida tão fácil. "Cidadão" fez boas tomadas
iniciais (também de cafezais),
mas apresentou luz foi falha, especialmente quando o protagonista Antônio Maciel (Gabriel
Braga Nunes) e a vigarista Fausta
(Lucélia Santos) se agarravam na
praça. Na TV da Universal, aliás, o
casal protagonizou cenas de apelo
sexual acima da média da TV antiuniversal (e, até por isso, Lucélia,
a balzaca, tem urgentemente de
abandonar aquela voz infantil).
Lauro César Muniz tem tudo
para dar um passo à frente na nova fase da Record. Ousa ao criar
um personagem central, o tal cidadão brasileiro, distante do clichê do mocinho. Maciel ameaça
denunciar a corrupção, mas envolve-se nela (seria um Roberto
Jefferson, na observação de Nelson de Sá, colunista da Folha).
Não é o caminho fácil de "Prova
de Amor". Mas, se der certo, a vitória terá sabor mais autêntico.
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