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Comida
Especialista ataca métodos da Borgonha
Para a ex-diretora da Domaine de la Romanée-Conti, região francesa deve parar com pesticidas que danificam a terra
À frente da Domaine Leroy, a francesa Lalou Bize-Leroy apresentou seus vinhos em degustação no início desta semana em São Paulo
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
Uma notável expressão de vigor e fortes doses de charme e
elegância (aliás, os mesmos
componentes que caracterizam seus vinhos) marcaram a
passagem por São Paulo de Lalou Bize-Leroy, 75, uma das
grandes personalidades da vitivinicultura francesa.
Vibrante, madame Lalou tem
uma longa e exitosa carreira no
mundo do vinho. Começou há
cerca de 50 anos, trabalhando
com o pai, Henri Leroy, dono
da firma que leva o seu nome, a
Leroy S.A., um das casas de vinhos mais prestigiosas da Borgonha (leste da França).
No fim da década de 80, chegou a ocupar o cargo de diretora do Domaine de la Romanée-Conti (DRC), dono de alguns
dos melhores tintos do planeta,
um dos monstros sagrados da
região, quando decidiu iniciar
um vôo solo criando sua própria firma: Domaine Leroy.
Em meio a turbulências, para
muitos provocadas por ciúmes
com seu trabalho no Domaine
Leroy, onde assinava vinhos
que ofuscavam os do poderoso
DRC, ela deixou a diretoria do
tradicional reduto em 1992,
mas hoje se refere de maneira
mais aveludada (como os seus
vinhos) ao seu afastamento.
"Na época, o Domaine Leroy
era como o parente pobre do
Romanée-Conti. Com a minha
saída, os vinhos do Domaine
Leroy adquiriram vida própria", declarou à Folha.
Forte adepta do cultivo biodinâmico -prática que não usa
agrotóxicos, unindo elementos
naturais para criar um ecosistema de proteção das videiras-, ela tem uma visão crítica
da viticultura da sua região.
Em sua opinião, o vinho é vida. "A Borgonha deve parar
com os tratamentos químicos
que danificam a terra. Mas
existe ainda muita hipocrisia e
gente que usa a biodinâmica
como marketing. Aplicam numa pequena parte do vinhedo e
no resto mentem e usam pesticidas. Espero que os produtores tomem consciência e usem
a biodinâmica com convicção."
Lalou Bize-Leroy tem hoje
no Domaine Leroy 22 hectares
de vinhedos, muitos em áreas
consideradas como Grand Cru
ou Premier Cru, a elite dos terrenos da Borgonha. Ela continua dirigindo os trabalhos da
casa. "Fazer vinho é uma tarefa
de equipe, mas gosto de indicar
a direção a seguir", diz.
A casa tem uma produção
minúscula e alguns dos melhores vinhos da França que chegarão ao Brasil cotados em
reais, em dois modelos de preços: três ou quatro dígitos.
Durante sua visita a São Paulo, ela apresentou seus vinhos
numa degustação na última segunda-feira no Hotel Hyatt.
A ala rubra contou com belos
exemplares, mas o destaque
absoluto foi o Corton Renardes
Grand Cru 1997, um vinho hedônico, complexo e envolvente
(muita fruta, baunilha, tabaco,
leves toques florais e de couro),
sedoso, com sabor sedutor e
persistente (95/100, os Corton
Renardes que devem desembarcar em breve por aqui, safra
2003, devem custar R$ 5.040).
Na ala branca, menção para
um dos vinhos mais simples, o
Bourgogne Blanc 1997, de aroma rico, com leve torrefação,
denso e vivaz no paladar, no topo para um Borgonha básico e
com preço um pouco mais ao
alcance do bolso dos mortais
(89/100, R$ 135, na Grand Vin,
tel. 0/xx/11/3672-7133).
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