São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comida

Especialista ataca métodos da Borgonha

Para a ex-diretora da Domaine de la Romanée-Conti, região francesa deve parar com pesticidas que danificam a terra

À frente da Domaine Leroy, a francesa Lalou Bize-Leroy apresentou seus vinhos em degustação no início desta semana em São Paulo


JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Uma notável expressão de vigor e fortes doses de charme e elegância (aliás, os mesmos componentes que caracterizam seus vinhos) marcaram a passagem por São Paulo de Lalou Bize-Leroy, 75, uma das grandes personalidades da vitivinicultura francesa.
Vibrante, madame Lalou tem uma longa e exitosa carreira no mundo do vinho. Começou há cerca de 50 anos, trabalhando com o pai, Henri Leroy, dono da firma que leva o seu nome, a Leroy S.A., um das casas de vinhos mais prestigiosas da Borgonha (leste da França).
No fim da década de 80, chegou a ocupar o cargo de diretora do Domaine de la Romanée-Conti (DRC), dono de alguns dos melhores tintos do planeta, um dos monstros sagrados da região, quando decidiu iniciar um vôo solo criando sua própria firma: Domaine Leroy.
Em meio a turbulências, para muitos provocadas por ciúmes com seu trabalho no Domaine Leroy, onde assinava vinhos que ofuscavam os do poderoso DRC, ela deixou a diretoria do tradicional reduto em 1992, mas hoje se refere de maneira mais aveludada (como os seus vinhos) ao seu afastamento.
"Na época, o Domaine Leroy era como o parente pobre do Romanée-Conti. Com a minha saída, os vinhos do Domaine Leroy adquiriram vida própria", declarou à Folha.
Forte adepta do cultivo biodinâmico -prática que não usa agrotóxicos, unindo elementos naturais para criar um ecosistema de proteção das videiras-, ela tem uma visão crítica da viticultura da sua região.
Em sua opinião, o vinho é vida. "A Borgonha deve parar com os tratamentos químicos que danificam a terra. Mas existe ainda muita hipocrisia e gente que usa a biodinâmica como marketing. Aplicam numa pequena parte do vinhedo e no resto mentem e usam pesticidas. Espero que os produtores tomem consciência e usem a biodinâmica com convicção."
Lalou Bize-Leroy tem hoje no Domaine Leroy 22 hectares de vinhedos, muitos em áreas consideradas como Grand Cru ou Premier Cru, a elite dos terrenos da Borgonha. Ela continua dirigindo os trabalhos da casa. "Fazer vinho é uma tarefa de equipe, mas gosto de indicar a direção a seguir", diz.
A casa tem uma produção minúscula e alguns dos melhores vinhos da França que chegarão ao Brasil cotados em reais, em dois modelos de preços: três ou quatro dígitos.
Durante sua visita a São Paulo, ela apresentou seus vinhos numa degustação na última segunda-feira no Hotel Hyatt.
A ala rubra contou com belos exemplares, mas o destaque absoluto foi o Corton Renardes Grand Cru 1997, um vinho hedônico, complexo e envolvente (muita fruta, baunilha, tabaco, leves toques florais e de couro), sedoso, com sabor sedutor e persistente (95/100, os Corton Renardes que devem desembarcar em breve por aqui, safra 2003, devem custar R$ 5.040).
Na ala branca, menção para um dos vinhos mais simples, o Bourgogne Blanc 1997, de aroma rico, com leve torrefação, denso e vivaz no paladar, no topo para um Borgonha básico e com preço um pouco mais ao alcance do bolso dos mortais (89/100, R$ 135, na Grand Vin, tel. 0/xx/11/3672-7133).


Texto Anterior: O papa em Aparecida
Próximo Texto: Em 2002, Lula brindou com Romanée-Conti
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.