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Crítica
Diretor argentino filma sem frescuras
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ninguém pense que em outros países a situação é muito
diferente da nossa: em matéria
de cinema, todo mundo briga
por verbas e espaço.
Na Argentina, no início do século 21, não era diferente. De
um lado, havia o que se convenciona chamar "a indústria", o
filme de maior alcance popular,
o cinema comercial. De outro, o
filme dito "independente", facção de que faz parte "O Abraço
Partido" (TC Cult, 0h10; classificação: não recomendado a
menores de 12 anos).
O que mais chamava a atenção nos números é que a proporção de espectadores entre o
filme comercial e o "de arte"
era de cinco ou seis para um. É
uma relação saudável, pois espera-se que uma comédia como
"Nove Rainhas" dê mais público que a história de um jovem
judeu de Buenos Aires que deseja conhecer o pai, que deixou
a casa para lutar na Guerra do
Yom Kippur. Estranho destino,
o do povo de Israel: primeiro, a
diáspora. Depois, o retorno a
uma pátria vivido como perda.
Daniel Burman filma com
muita câmera na mão, sistema
econômico e dinâmico, sem
frescuras esteticistas: é eficaz e
sensível, embora não seja um
tremendo cineasta, tipo Lucrecia Martel.
Seria desejável que o Brasil
pudesse ter uma relação parecida entre filmes de maior e
menor apelo popular, sem oscilar entre filmes para 5 milhões
de espectadores e outros para
5.000. Como chegar a isso ainda é um enigma.
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