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Caça ao tesouro
Vazio do Novo Museu da
Acrópoles, em Atenas,
acirra debate sobre
devolução de peças
expostas no British
Museum, em Londres
Divulgação
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Frontão do Parthenon, com lacunas, no Novo Museu da Acrópoles
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ATENAS
FERNANDA MENA
EM LONDRES
O enorme vazio no prédio de
vidro estranhamente fincado
no bairro turístico de Plaka, em
Atenas, grita ao visitante uma
mensagem pouco conceitual e
muito política: os gregos querem suas peças de volta.
Querem tanto que ergueram
ao pé das ruínas da Acrópole a
enorme estrutura de metal,
concreto e vidro assinada pelo
suíço Bernard Tschumi. O efeito é de notório contraste com
as casas modestas ao redor.
Os gregos passaram oito anos
construindo um novo museu.
Gastaram 130 milhões (cerca
de R$ 315 milhões) e deixaram
dois dos quatro andares praticamente pelados só para dizer
que agora, sim, têm onde abrigar a coleção de mármores do
Parthenon que lorde Elgin, então o embaixador britânico no
Império Otomano, levou para
Londres no século 19.
Desde 1816, a coleção que ficou conhecida como mármores
de Elgin e que compreende
quase todo o Parthenon -o
templo que o imperador Péricles mandou erguer para a deusa Atenas no século 5 antes de
Cristo- está no British Museum. Atenas ficou com os frisos que ornavam a fachada.
Desde 1980, a Grécia requer
o retorno das peças de Londres
a Atenas. "Os britânicos sempre disseram que, se nos devolvessem as peças, nós não teríamos espaço apropriado. Hoje
nós temos", diz à Folha Dimitrius Pandermalis, presidente
do Novo Museu da Acrópoles.
Pandermalis contém o otimismo. "Agora o British Museum diz: "Ah, somos um museu universal, e sem as peças a
coleção será incompleta"."
O diretor do British Museum, Neil McGregor, usou
uma metáfora, durante uma
aula aberta em Londres, para
descrever a disputa: "Nós enxergamos nos objetos aquilo
que queremos ver". Sobre o caso dos mármores, disse: "Uma
nação inteira resolveu abraçar
essas peças como algo fundamental para a identidade grega.
É um exemplo em que se enxerga aquilo que se quer ver".
O museu de Atenas foi aberto no fim de junho do ano passado e ainda não funciona à
plena força. Em oito meses, no
entanto, recebeu estimados 1,6
milhão de visitantes.
Os 14 mil m2 reservados para
exibição, numa área total de 23
mil m2, são dez vezes o museu
anterior. Os argumentos gregos se estendem na arquitetura
que impressiona, na curadoria
precisa, na escolha pela luz natural, na vista panorâmica da
Acrópoles, no sítio de escavação e nas lojas e restaurantes
no padrão dos melhores museus dos EUA e da Europa.
Problema visível
A questão virou assunto de
governos, numa negociação
que mais parece um trabalho
de Sísifo. Segundo Pandermalis, há hoje conversas no sentido de uma colaboração com o
British Museum.
Como ela ocorreria -se com
exibições rotativas ou posse
compartilhada- ele não esclarece. "O importante é que vamos debater isso de forma realista, para o bem de ambas as
instituições."
Pelos corredores, a questão
fica latente. A falta que as peças
fazem, entre estátuas clássicas
do século 5 a.C. e artefatos rústicos do século 7 a.C., é óbvia
com o friso do Parthenon e uma
e outra peça flutuando sem os
pilares, esculturas e outras partes levadas a Londres. Mas, nos
folhetos e placas informativas,
nada há a respeito.
"Nosso visitante pode ver o
problema muito claramente na
disposição das peças, não é preciso ler um texto sobre isso",
explica Pandermalis.
Em breve, talvez já no meio
do ano, os sítios arqueológicos
que por ora só podem ser avistados dos jardins e do hall principal, serão abertos à visitação.
A nuvem no horizonte é a
megadívida grega, que botou o
país em um regime de austeridade monitorado com coleira
curta pela União Europeia.
Com ingressos a 3, a maior
parte da verba vem do governo
grego, que terá de fazer cortes
drásticos em seu orçamento
pelos próximos três anos.
Pandermalis diz que o arrocho se faz sentir, e, por ora, o
museu o tem contornado. Mas
espera logo ter lucro suficiente
nos restaurantes e lojas para
cobrir mais de sua despesa. Antes que a crise bata.
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