|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Filme revê dilema moral e familiar de Charles Darwin
Em "Criação", que estreia na sexta, naturalista enfrenta embates pessoais para finalizar "A Origem das Espécies'
"As pessoas podem saber suas ideias, mas não conhecem o homem",
afirma o cineasta inglês Jon Amiel em entrevista
FERNANDA EZABELLA
REPORTAGEM LOCAL
Da figura distante e grandiosa do naturalista Charles Darwin (1809-1882), o diretor inglês Jon Amiel, 61, diz ter feito
um de seus filmes mais pessoais, conectando-se de maneira inesperada com a vida do
criador da teoria da evolução.
"Primeiro foi como pai, segundo como marido e depois
como artista criativo", disse à
Folha, por telefone, o cineasta .
"Criação", que estreia no
Brasil nesta sexta-feira, conta o
drama familiar de Darwin ao lidar com teorias revolucionárias que contradiziam a fé de
sua mulher. O relacionamento
carinhoso com a filha mais velha, Annie, também permeia
toda a história, enquanto ele
sofria para concluir "A Origem
das Espécies", que fez 150 anos
em 2009.
O roteiro foi baseado em cartas e diários encontrados no livro "Annie's Box - Charles Darwin, His Daughter, and Human
Evolution" (A caixa de Annie
-Charles Darwin, sua filha e a
evolução humana), do historiador Randal Keynes, tetraneto
do naturalista britânico.
"Tinha muitas razões para
não ter interesse no projeto.
Cronologias não são roteiros, e
uma vida interessante não faz
necessariamente um filme interessante", diz o diretor. "Mas,
lendo as cartas, os diários, esse
homem impessoal, de longa
barba, distante, ganhou proporções humanas. As pessoas
podem saber suas ideias, mas
não conhecem o homem."
Keynes foi figura central na
adaptação, incentivando os
"saltos imaginativos" do diretor e do roteirista John Collee,
como as conversas que Darwin
tinha com o espírito da filha,
morta aos dez anos.
"Acadêmicos são famosos
por serem ciumentos, protetores e restritos, mas não Randal", diz Amiel. "Ele disse: "Vocês, cineastas, podem ir a lugares que eu, como historiador e
biógrafo, não posso ir.""
Drama x aventuras
Em "Criação", há mais do
Darwin adulto, meio adoentado e ansioso, do que do jovem
aventureiro, marcado pela longa viagem a bordo do Beagle,
cujas histórias fantásticas aparecem vez ou outra no filme,
quando o pai as narra aos filhos.
O naturalista se isolou muito
cedo no campo, se afastou da
vida pública, deixou para trás as
viagens e teve dez filhos.
O diretor explica a escolha
pelo drama familiar, no lugar
das aventuras pelo globo, por
ser um "nível muito mais rico"
sobre o conflito entre ciência e
religião, fé e razão. "Não era
uma vida muito animada", disse. "Filmes não são muito sobre
eventos, e sim sobre relações."
Amiel se mudou para os EUA
há três anos e voltou à Inglaterra para rodar "Criação". O filme
entrou em cerca de 200 cinemas no país, contra 12 nos EUA,
onde é muito forte a ideia do
criacionismo, que refuta o darwinismo por acreditar que
Deus criou o universo.
"Darwin estaria triste, mas
não surpreso [por sua teoria
causar polêmica até hoje]. Ele
sempre reconheceu que o ser
humano precisa de fé."
Texto Anterior: Crítica/"Criação": Com tom solene, diretor apela às lágrimas para fisgar atenção do público Próximo Texto: Frase Índice
|