São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Filme revê dilema moral e familiar de Charles Darwin

Em "Criação", que estreia na sexta, naturalista enfrenta embates pessoais para finalizar "A Origem das Espécies'

"As pessoas podem saber suas ideias, mas não conhecem o homem", afirma o cineasta inglês Jon Amiel em entrevista


FERNANDA EZABELLA
REPORTAGEM LOCAL

Da figura distante e grandiosa do naturalista Charles Darwin (1809-1882), o diretor inglês Jon Amiel, 61, diz ter feito um de seus filmes mais pessoais, conectando-se de maneira inesperada com a vida do criador da teoria da evolução.
"Primeiro foi como pai, segundo como marido e depois como artista criativo", disse à Folha, por telefone, o cineasta .
"Criação", que estreia no Brasil nesta sexta-feira, conta o drama familiar de Darwin ao lidar com teorias revolucionárias que contradiziam a fé de sua mulher. O relacionamento carinhoso com a filha mais velha, Annie, também permeia toda a história, enquanto ele sofria para concluir "A Origem das Espécies", que fez 150 anos em 2009.
O roteiro foi baseado em cartas e diários encontrados no livro "Annie's Box - Charles Darwin, His Daughter, and Human Evolution" (A caixa de Annie -Charles Darwin, sua filha e a evolução humana), do historiador Randal Keynes, tetraneto do naturalista britânico.
"Tinha muitas razões para não ter interesse no projeto. Cronologias não são roteiros, e uma vida interessante não faz necessariamente um filme interessante", diz o diretor. "Mas, lendo as cartas, os diários, esse homem impessoal, de longa barba, distante, ganhou proporções humanas. As pessoas podem saber suas ideias, mas não conhecem o homem."
Keynes foi figura central na adaptação, incentivando os "saltos imaginativos" do diretor e do roteirista John Collee, como as conversas que Darwin tinha com o espírito da filha, morta aos dez anos.
"Acadêmicos são famosos por serem ciumentos, protetores e restritos, mas não Randal", diz Amiel. "Ele disse: "Vocês, cineastas, podem ir a lugares que eu, como historiador e biógrafo, não posso ir.""

Drama x aventuras
Em "Criação", há mais do Darwin adulto, meio adoentado e ansioso, do que do jovem aventureiro, marcado pela longa viagem a bordo do Beagle, cujas histórias fantásticas aparecem vez ou outra no filme, quando o pai as narra aos filhos.
O naturalista se isolou muito cedo no campo, se afastou da vida pública, deixou para trás as viagens e teve dez filhos.
O diretor explica a escolha pelo drama familiar, no lugar das aventuras pelo globo, por ser um "nível muito mais rico" sobre o conflito entre ciência e religião, fé e razão. "Não era uma vida muito animada", disse. "Filmes não são muito sobre eventos, e sim sobre relações."
Amiel se mudou para os EUA há três anos e voltou à Inglaterra para rodar "Criação". O filme entrou em cerca de 200 cinemas no país, contra 12 nos EUA, onde é muito forte a ideia do criacionismo, que refuta o darwinismo por acreditar que Deus criou o universo.
"Darwin estaria triste, mas não surpreso [por sua teoria causar polêmica até hoje]. Ele sempre reconheceu que o ser humano precisa de fé."


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