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CINEMA
Diretor de ``Adeus Minha Concubina'' lança ``Temptress Moon'', sua segunda produção banida na China
Chen Kaige não quer agradar às massas
Divulgação
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A atriz Gong Li em cena da mais nova produção de Chen Kaige, ``Temptress Moon'', proibida na China
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ADRIANE GRAU
em San Francisco
O sucesso de "Adeus Minha
Concubina", que dividiu a Palma
de Ouro de Cannes com "O Piano" em 1993, não foi suficiente
para tornar o diretor chinês Chen
Kaige, 45, querido em seu país.
Na República Popular da China,
ele tem dois filmes banidos. Assim
como o recém-lançado "Temptress Moon", o consagrado "Vida
sobre um Fio", feito em 1990, não
pode ser exibido em seu país.
Chen Kaige mora em Pequim e
veste-se de maneira ocidental, hábito adquirido durante sua passagem pela New York University em
1987. Ao contrário de seu pai, o cineasta Chen Huaikai, que fez carreira realizando filmes de propaganda para o regime comunista,
Kaige não quer agradar às massas.
Segundo ele, a tarefa da chamada
quinta geração do cinema chinês é
dar acabamento artístico a filmes
altamente intelectualizados.
Ele falou à Folha, em San Francisco, no início da primavera norte-americana.
Folha - Como o sr. reagiu à notícia de que mais um filme seu foi
banido em seu próprio país?
Chen Kaige - Não sei dizer bem.
Eles mandam um pedaço de papel
afirmando que o filme não pode
ser mostrado na China. Infelizmente, não especificam o motivo.
Mas sei que eles querem mostrar
apenas filmes superficiais, que façam propaganda do regime.
Folha - O que acontece se, desafiando as leis, o filme for exibido?
Kaige - Ninguém seria preso.
Mas sei que não há nenhuma cópia
no país. Teriam de filmar a tela
num cinema em Hong Kong.
Folha - Qual público se interessa
por seu trabalho na China?
Kaige - Não tenho nenhum filme feito para agradar às massas.
``Adeus Minha Concubina'' e
``Temptress Moon'' são altamente
artísticos, mas o último tem mais
apelo comercial. Se não estivesse
banido, tenho certeza de que o público iria assisti-lo.
Folha - Como o sr. desenvolve
as idéias para seus filmes?
Kaige - Eu trabalho sozinho,
sabe? Brigo comigo mesmo durante a criação. O tempo todo, as
idéias estão em formação na minha cabeça. Está fora do meu controle. Eu acredito em Deus, e esta é
a idéia que tenho dele. Deus me usa
como sua ferramenta.
Folha - O sr. é religioso?
Kaige - Não. Não acredito realmente em nenhuma religião, mas
acredito em fontes de inspiração
que lhe ditam o que fazer.
Folha - Seu pai foi um cineasta
dentro do regime comunista. Como o sr. compara sua experiência
com a dele?
Kaige - Ele teve menos oportunidades criativas. Teve que fazer o
que o departamento determinava.
Eu sei o que quero fazer e por isso
me considero mais sortudo.
Folha - A violência em `Temptress Moon' é psicológica e moral.
O que quis mostrar com isso?
Kaige - Não acredito em pessoas boas ou más. Tento fazer filmes que ajudem as pessoas a se entenderem melhor. Não há apenas
dois lados, e sim muitas nuances.
Não é como os filmes de Hollywood, que são maniqueístas.
Folha - Por que a imagem fica fora de foco durante as cenas de sexo em "Temptress Moon"?
Kaige - Quantas cenas de sexo
já foram mostradas no cinema?
Não há mais como fazê-las de modo diferente. Não achei importante mostrá-las claramente.
Folha - O sr. parece dar muita
atenção ao visual de seus filmes.
Imagens tão belas surgem do trabalho em conjunto com o diretor
de fotografia?
Kaige - Eu estou no comando, e
as idéias são todas minhas. Eu decido o estilo. Claro que discuto detalhes com o diretor de fotografia
para que tudo fique o mais belo
possível. Gosto particularmente
da steadicam (câmera que dispensa tripé e permite movimentos
suaves), que dá a impressão de
olhos humanos.
Folha - Como foi atuar em "O Último Imperador", sob o comando
de Bernardo Bertolucci?
Kaige - Ele me pediu para fazer
o papel de comandante da guarda
imperial como um favor e eu aceitei. Foi minha única experiência
como ator. O mais difícil foi deixar
a barba crescer.
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