São Paulo, terça, 15 de abril de 1997.

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CINEMA
Diretor de ``Adeus Minha Concubina'' lança ``Temptress Moon'', sua segunda produção banida na China
Chen Kaige não quer agradar às massas

Divulgação
A atriz Gong Li em cena da mais nova produção de Chen Kaige, ``Temptress Moon'', proibida na China


ADRIANE GRAU
em San Francisco

O sucesso de "Adeus Minha Concubina", que dividiu a Palma de Ouro de Cannes com "O Piano" em 1993, não foi suficiente para tornar o diretor chinês Chen Kaige, 45, querido em seu país.
Na República Popular da China, ele tem dois filmes banidos. Assim como o recém-lançado "Temptress Moon", o consagrado "Vida sobre um Fio", feito em 1990, não pode ser exibido em seu país.
Chen Kaige mora em Pequim e veste-se de maneira ocidental, hábito adquirido durante sua passagem pela New York University em 1987. Ao contrário de seu pai, o cineasta Chen Huaikai, que fez carreira realizando filmes de propaganda para o regime comunista, Kaige não quer agradar às massas.
Segundo ele, a tarefa da chamada quinta geração do cinema chinês é dar acabamento artístico a filmes altamente intelectualizados.
Ele falou à Folha, em San Francisco, no início da primavera norte-americana.

Folha - Como o sr. reagiu à notícia de que mais um filme seu foi banido em seu próprio país?
Chen Kaige -
Não sei dizer bem. Eles mandam um pedaço de papel afirmando que o filme não pode ser mostrado na China. Infelizmente, não especificam o motivo. Mas sei que eles querem mostrar apenas filmes superficiais, que façam propaganda do regime.
Folha - O que acontece se, desafiando as leis, o filme for exibido?
Kaige -
Ninguém seria preso. Mas sei que não há nenhuma cópia no país. Teriam de filmar a tela num cinema em Hong Kong.
Folha - Qual público se interessa por seu trabalho na China?
Kaige -
Não tenho nenhum filme feito para agradar às massas. ``Adeus Minha Concubina'' e ``Temptress Moon'' são altamente artísticos, mas o último tem mais apelo comercial. Se não estivesse banido, tenho certeza de que o público iria assisti-lo.
Folha - Como o sr. desenvolve as idéias para seus filmes?
Kaige -
Eu trabalho sozinho, sabe? Brigo comigo mesmo durante a criação. O tempo todo, as idéias estão em formação na minha cabeça. Está fora do meu controle. Eu acredito em Deus, e esta é a idéia que tenho dele. Deus me usa como sua ferramenta.
Folha - O sr. é religioso?
Kaige -
Não. Não acredito realmente em nenhuma religião, mas acredito em fontes de inspiração que lhe ditam o que fazer.
Folha - Seu pai foi um cineasta dentro do regime comunista. Como o sr. compara sua experiência com a dele?
Kaige -
Ele teve menos oportunidades criativas. Teve que fazer o que o departamento determinava. Eu sei o que quero fazer e por isso me considero mais sortudo.
Folha - A violência em `Temptress Moon' é psicológica e moral. O que quis mostrar com isso?
Kaige -
Não acredito em pessoas boas ou más. Tento fazer filmes que ajudem as pessoas a se entenderem melhor. Não há apenas dois lados, e sim muitas nuances. Não é como os filmes de Hollywood, que são maniqueístas.
Folha - Por que a imagem fica fora de foco durante as cenas de sexo em "Temptress Moon"?
Kaige -
Quantas cenas de sexo já foram mostradas no cinema? Não há mais como fazê-las de modo diferente. Não achei importante mostrá-las claramente.
Folha - O sr. parece dar muita atenção ao visual de seus filmes. Imagens tão belas surgem do trabalho em conjunto com o diretor de fotografia?
Kaige -
Eu estou no comando, e as idéias são todas minhas. Eu decido o estilo. Claro que discuto detalhes com o diretor de fotografia para que tudo fique o mais belo possível. Gosto particularmente da steadicam (câmera que dispensa tripé e permite movimentos suaves), que dá a impressão de olhos humanos.
Folha - Como foi atuar em "O Último Imperador", sob o comando de Bernardo Bertolucci?
Kaige -
Ele me pediu para fazer o papel de comandante da guarda imperial como um favor e eu aceitei. Foi minha única experiência como ator. O mais difícil foi deixar a barba crescer.

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